Evento possui uma série de oficinas voltadas para a área da saúde
Com o tema “Ferramentas inovadoras para inovaçãoda APS e Redução da mortalidade Materna, o VII Congresso Internacional de Atenção Primária à Saúde (CIAPS) reuniu estudantes, docentes, profissionais da saúde e pesquisadores no SESC Cajuína, em Teresina, nos dias 1º e 2 de maio para oficinas pré-congresso, apresentação de trabalho. O evento destacou a formação crítica e interdisciplinar de profissionais da saúde a partir dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), integrando ensino, pesquisa, extensão e serviço.
A sétima edição do CIAPS foi organizada pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), por meio do Núcleo de Educação Permanente em Saúde (NUEPES), do Programa de Mestrado Profissional em Saúde da Mulher (PPGSM), e do Centro de Educação Aberta e a Distância (CEAD/UFPI). Também participaram da organização instituições como a Fiocruz (Piauí, Brasília e Rio de Janeiro), Escola de Governo do Piauí (ESP-PI), UNASUS, UFPE/PPDEB e Governo do Piauí. O congresso teve apoio de entidades nacionais e internacionais como a SBMFC, OPAS-BIREME, SESAPI, Sebrae, Rute RNP, Prefeitura de Arraial, FAPEPI, Ministério da Saúde, Governo Federal e CNPq.
Oficinas pré-congresso: troca de saberes e atualização profissional
Professora Maria do Carmo de Carvalho e Martins em oficina de bioestatística
A programação teve início com as Oficinas Pré-Congresso, realizadas no dia 1º de maio, das 9h às 16h, com temas voltados à prática em saúde e formação profissional. Foram oferecidas 10 oficinas temáticas, com carga horária de 10 horas, abordando temas como urgência obstétrica, investigação de óbitos maternos, bioestatística, fitoterapia, recursos educacionais abertos, prevenção de infecções e saúde da população trans dentre outras.
As atividades contaram com a participação de ministrantes de diversas instituições como BIREME/OPAS/OMS, SESAPI, IFPI, ABFIT, UFPI, UFPE, UEL e PUC-Goiás, Fiocruz Piauí, Brasilia, Rio de Janeiro, SBMFC, DINTER EBS, entre outros, promovendo a troca de saberes entre diferentes realidades profissionais.
Para a professora Lis Cardoso Marinho Medeiros, da coordenação geral do evento, “as oficinas representam um espaço fundamental para atualização, troca de saberes e construção coletiva do conhecimento em saúde. O CIAPS cumpre um papel essencial ao aproximar diferentes áreas e realidades em prol de um SUS mais qualificado”.
Verônica Abdala
Entre as oficinas mais procuradas, esteve a de Construção de mapa e síntese de evidências, ministrada por Verônica Abdala, referência internacional no tema e representante da BIREME/OPAS/OMS. “Mapas de evidências são instrumentos estratégicos para fortalecer políticas públicas informadas por evidências e apoiar decisões mais qualificadas no campo da saúde”, afirmou Verônica durante a atividade.
Sylmara Pacheco
A mestranda Sylmara Pacheco, do PPG em Saúde da Mulher/UFPI, participou da oficina e destacou: “Escolhi a oficina pela oportunidade de aprender com Verônica Abdala, uma grande referência no tema. Mapas de evidências são ferramentas importantes para priorizar pesquisas e implementar práticas baseadas em evidências.”
Produção científica em foco: mais de 150 trabalhos apresentados
O CIAPS também se consolidou como espaço de divulgação científica, com a apresentação de mais de 150 trabalhos científicos, distribuídos em bancas simultâneas nos turnos manhã e tarde, nos diversos espaços do SESC Cajuína.
Maísa Santos
A doutoranda Maísa Santos, do DINTER em Ensino de Biociências e Saúde, destacou a qualidade das produções acadêmicas. “Os trabalhos que assisti foram bastante relevantes, principalmente na área de ensino de Biociências, que é a área do meu doutorado. São momentos de aprendizado que oportunizam trocas de conhecimentos e atualizações metodológicas.”
Luiza Carolinda
Luiza Carolinda, discente do Programa de Mestrado em Enfermagem da UFPI, também falou sobre os trabalhos que apresentou durante o evento. “Eu tive a oportunidade de apresentar dois trabalhos no evento. O primeiro trabalho aborda o conhecimento e atitudes de gestantes sobre a prevenção e transmissibilidade da sífilis. A sífilis, que é uma infecção sexualmente transmissível com elevada incidência mundial, pode causar desfechos desfavoráveis como aborto e prematuridade. Realizamos um estudo transversal analítico com 165 gestantes entre novembro de 2023 e janeiro de 2024, por meio de um questionário que investigou aspectos psicossociais, comportamentais e de conhecimento sobre a doença.
O segundo trabalho é um estudo transversal que descreve o comportamento sexual e preventivo em relação às infecções sexualmente transmissíveis entre estudantes de pós-graduação stricto sensu. Destacamos resultados importantes como o uso irregular de preservativos, o consumo de álcool associado a práticas sexuais de risco e o número de parceiros sexuais”.
Os temas apresentados cobriram áreas como mortalidade materna e infantil, saúde mental, infecções sexualmente transmissíveis, uso de tecnologias educativas, saúde LGBTQIA+, intervenções comunitárias, entre outros.
Ao centro da foto, a professora Zulmira Monte
A professora Zulmira Monte, também da comissão organizadora, reforçou o caráter transformador do evento. “O CIAPS é uma vitrine da produção científica e extensionista desenvolvida por nossos estudantes e professores, além de ser um espaço de mobilização e defesa do SUS. É um congresso construído com escuta, diversidade e compromisso social.”
VII CIAPS promove programação interativa com stands de serviços, educação e inclusão social
Entre os dias 1 e 3 de maio de 2025, o Sesc Cajuína, em Teresina, foi palco da sétima edição do Congresso Internacional de Atenção Primária em Saúde (CIAPS), promovido pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), por meio do Núcleo de Educação Permanente em Saúde (NUEPES) e do Programa de Mestrado Profissional em Saúde da Mulher (PPGSM). Consolidado como espaço de integração entre ciência, serviços de saúde e participação social, o evento reuniu centenas de participantes de diversas regiões do Brasil e do exterior.
Espaço para testes rápidos
Ao longo dos três dias, o público teve acesso a uma ampla programação, com destaque para testes rápidos para HIV, sífilis e hepatites, oficinas, rodas de conversa, exposições culturais e atividades educativas e interativas.
Um dos pontos de maior movimentação foi a tenda de serviços de saúde, onde a população pôde realizar exames e receber orientações com profissionais especializados. “Viemos, enquanto Governo do Estado, disponibilizar aconselhamento sobre ISTs, distribuição de autotestes de HIV, testes rápidos, preservativos internos e externos, gel lubrificante e promover discussões sobre gestão e ações de atenção primária voltadas também para tuberculose e hanseníase”, explicou Cristiana Rocha, coordenadora estadual de doenças transmissíveis da Secretaria de Estado da Saúde (SESAPI).
Nicolas, da Linha de Ciências Sociais da Fiocruz
A Fiocruz Piauí marcou presença com um stand que apresentou projetos voltados para o fortalecimento do SUS, com destaque para tecnologias sociais e ações em comunidades quilombolas. “Mostramos aqui iniciativas como o projeto Todos Ouvidos, voltado à saúde mental de jovens quilombolas, além de ações com mulheres idosas no território de São João”, destacou Nicolas, da Linha de Ciências Sociais da Fiocruz.
Estande da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC)
A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) também participou ativamente. “Estamos aqui para divulgar a sociedade e nosso congresso nacional, que acontecerá em junho, em Manaus. É fundamental reforçar o papel da atenção primária no cuidado humanizado”, afirmou Felipe Santos, secretário da entidade.
Feira de artesanato
Outro destaque foi a feira de artesanato piauiense, realizada em parceria com o SEBRAE, que encantou os visitantes com cerâmicas, tecelagens, bordados e biojoias, promovendo a cultura e fortalecendo a economia criativa local.
A inclusão digital também foi contemplada com a emissão da Carteira de Identidade Nacional. “É uma oportunidade de garantir acesso facilitado à documentação, com inclusão de dados como CNH, título de eleitor, tipo sanguíneo e cartão do SUS”, informou Maria Luzia Machado Coelho, coordenadora de relações institucionais.
O stand do Ministério da Saúde foi outro ponto de grande visitação, com equipes técnicas disponíveis para orientar o público sobre programas estratégicos. “Estamos com representantes da Auditoria, da Articulação Interfederativa e da Divisão de Transferências de Recursos. Todos prontos para dialogar com os participantes”, afirmou Antônia Maria de Sousa Leal, superintendente estadual do Ministério da Saúde.
Transformação Digital e Qualificação da APS marcam o segundo dia do VII CIAPS
O segundo dia do VII Congresso Internacional de Atenção Primária à Saúde (VII CIAPS), realizado nesta sexta-feira, 2 de maio, foi marcado por intensos debates sobre inovação tecnológica, saúde da mulher e estratégias de qualificação da Atenção Primária à Saúde (APS). O evento reuniu especialistas nacionais e internacionais em quatro mesas-redondas que abordaram desde saúde digital e inteligência artificial até o uso de sistemas de informação no cuidado materno-infantil.
Primeira mesa
A primeira mesa do dia, intitulada “A saúde digital e a teleinterconsulta como ferramenta de qualificação na APS”, apresentou experiências concretas do uso da tecnologia na ampliação do acesso e melhoria dos desfechos em saúde.
Rodolfo Pacagnella
O professor Rodolfo Pacagnella, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), defendeu a teleinterconsulta como uma estratégia poderosa e eficaz para a redução da morbimortalidade materna e infantil no Brasil. Durante palestra, Pacagnella destacou que a comunicação entre profissionais de saúde para discutir casos clínicos precisa ser institucionalizada e valorizada como parte essencial da atenção à saúde.
A teleinterconsulta pode ocorrer de duas formas: síncrona, quando há interação em tempo real por telefone, videochamada ou troca de mensagens instantâneas; ou assíncrona, por meio de canais como e-mails e aplicativos, sem a necessidade de resposta imediata.
"Já fazemos isso no nosso dia a dia, de forma artesanal, quando ligamos para colegas para discutir um caso. Mas precisamos transformar essa prática em um processo estruturado, integrado às estratégias institucionais", afirmou Pacagnella. Segundo ele, formalizar esse tipo de apoio pode otimizar decisões clínicas e salvar vidas, especialmente em regiões com menor acesso a especialistas.
O professor também lembrou que, durante a pandemia de Covid-19, a telemedicina teve papel central no suporte a unidades de terapia intensiva (UTIs) em todo o país. Com o uso de tablets e robôs com câmeras, especialistas puderam acompanhar pacientes remotamente, junto às equipes locais, analisando parâmetros e colaborando com as condutas clínicas.
Para Pacagnella, a integração da teleinterconsulta e da teleconsultoria no Sistema Único de Saúde (SUS) é um caminho necessário para garantir acesso, equidade e resolutividade, especialmente na atenção primária. “Quando bem organizada, a telemedicina amplia o alcance do cuidado e fortalece o trabalho em rede”.
Bremen Mucio
Durante conferência voltada à saúde materno-infantil, Bremen Mucio, Assessor Regional em Saúde Materna da Organização Pan-Americana da Saúde / Organização Mundial da Saúde (OPS/OMS), destacou a importância do Sistema de Informação Perinatal (SIP) como uma ferramenta estratégica para qualificação do pré-natal e gestão de dados em saúde nos países da América Latina e Caribe.
Mucio ressaltou que o SIP oferece mais de 2.500 indicadores de saúde, permitindo uma visualização rápida e integrada das informações mais relevantes sobre o cuidado à gestante, ao recém-nascido e ao adolescente. “A importância de ter resumos, em um clique, para que vocês possam visualizar, em uma tela, as informações mais relevantes que precisam”, afirmou.
O sistema, desenvolvido pela OPAS, integra diferentes módulos, como histórias clínicas perinatais e neonatais, além de dados específicos de adolescentes. Ele também inclui recursos e guias de capacitação para o uso adequado da ferramenta por profissionais de saúde. "É um instrumento essencial para apoiar decisões clínicas e políticas públicas baseadas em evidências", completou.
O assessor destacou ainda a flexibilidade do SIP frente a desafios regionais. Entre as atualizações, citou o módulo jurídico criado após alertas do Brasil, e a recente incorporação de um módulo voltado à vigilância da febre Oropouche, doença emergente em alguns países da região.
A interface inicial do SIP permite selecionar o país e o idioma, embora Mucio tenha apontado problemas de tradução para o português, que ainda precisam ser ajustados. A plataforma também permite a identificação de usuários e o registro de novos casos, contribuindo para a padronização e qualificação da assistência perinatal.
Em uma fala incisiva e reflexiva, Luiz Ary Messina, coordenador nacional da Rede Universitária de Telemedicina (RUTE), destacou durante sua participação em evento recente a importância de uma abordagem mais ampla e humanizada para a transformação digital na saúde. “Eu já não falo mais de transformação digital, pra mim é transformação humana digital”, afirmou.
Messina, que atua há duas décadas na articulação da infraestrutura digital da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), ressaltou a natureza essencialmente interdisciplinar da saúde digital. Segundo ele, é fundamental o engajamento não apenas de profissionais da saúde, mas também de engenheiros, gestores e, especialmente, comunicadores. “Muitas vezes o pessoal esquece da comunicação. E, principalmente agora, com essa liberação da internet e redes sociais, tem que ter pessoal de comunicação muito bem formado e se apegando aos processos na área da saúde”, alertou.
Ao relembrar o histórico da RUTE e sua colaboração com o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, Messina mencionou iniciativas pioneiras como o uso de videoconferência em uma época em que a conectividade ainda era um desafio. “Hoje já melhorou bastante... você faz conferência de casa, de celular, de qualquer lugar”, disse.
Ele também ressaltou o papel da RNP e do Ministério da Ciência e Tecnologia na criação da RUTE, em 2004, um movimento que uniu profissionais de diversas áreas em torno de um mesmo objetivo: promover a conectividade entre hospitais universitários e centros de saúde. “Me perguntaram: como assim um engenheiro vai coordenar uma rede de médicos? Eu respondi: não vou puxar a sardinha para especialidade nenhuma, quem estiver trabalhando bem, nós vamos apoiar.”
Hoje, a RUTE conta com 140 unidades de telemedicina espalhadas pelo país e promove sessões ao vivo que incentivam a colaboração entre grupos de interesse especial. Todas as sessões são gravadas e ficam disponíveis para os participantes, ampliando o acesso à informação e ao intercâmbio de conhecimento entre instituições.
Messina concluiu sua fala com um alerta: não basta investir em infraestrutura de rede de alta velocidade. É preciso garantir que os profissionais saibam como utilizá-la e estejam engajados nos processos de transformação digital. “Senão a revolução não vai se formar, ou vai se formar se arrastando.”
A mesa teve coordenação da professora Ana Maria Pearce (UFPI) e mediação de Aldemes Barroso Silva (UFPI – Picos).
Sistemas de informação e inteligência artificial na APS
Segunda mesa
A segunda mesa do dia, “O sistema de informação e a inteligência artificial como ferramentas de trabalho na APS”, trouxe uma abordagem crítica e atual sobre o papel das tecnologias emergentes no campo da saúde.
Beatriz Oliveira (Fiocruz) destacou a importância do monitoramento contínuo na saúde materna, apontando como os dados podem orientar intervenções mais eficazes.
A professora Cristine Gusmão, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), abordou os desafios e potencialidades do uso da inteligência artificial (IA) na formação de profissionais da saúde. Ela destacou como a tecnologia vem sendo incorporada de forma muitas vezes forçada no cotidiano — citando, como exemplo, funcionalidades de aplicativos que não podem ser desabilitadas, como o "círculo azul" do WhatsApp.
"A tecnologia chega até nós, quer a gente use ou não. São serviços que se tornam quase obrigatórios", afirmou Cristine. Para ela, é fundamental que os profissionais desenvolvam competências que permitam uma interação crítica com esses sistemas inteligentes. “Estamos em um momento de fazer, de construir competências com base nos saberes existentes, para saber se a inteligência artificial pode ou não nos ajudar em determinadas situações.”
Segundo a professora, um dos pilares dessa formação é a leitura crítica dos algoritmos. “É preciso entender o que os softwares estão fazendo e como esses registros impactam nossas decisões”, pontuou. Ela ressaltou que muitos dos temas discutidos no evento envolvem o uso massivo de dados e sistemas de informação, cuja eficiência depende, em grande parte, de algoritmos alimentados por IA.
Cristine também falou sobre a importância da consciência ética no uso dessas tecnologias. “Até onde podemos ir com a inteligência artificial? Ainda não tomamos decisões baseadas unicamente nela, mas essa realidade pode mudar. Por isso, o profissional precisa saber interpretar essas informações com autonomia e responsabilidade.”
A professora lembrou que a pandemia acelerou uma inclusão digital forçada, tornando quase impossível dissociar o digital da prática cotidiana. “Hoje, discutimos com os sistemas inteligentes, pedimos ajuda, e eles se tornam parceiros comuns na solução de problemas.”
Para Cristine, entender o que é inteligência artificial passa por reconhecer suas origens na ciência da computação — e, mais ainda, pela filosofia que orienta seu desenvolvimento. “A IA não é feita por uma única pessoa, mas por muitas que compartilham conhecimentos para alimentar sistemas que tentam simular tarefas que antes dependiam exclusivamente da inteligência humana.”
Público presente nas mesas
A mesa foi coordenada por Ilano Almeida (Ministério da Saúde), com mediação de Leonardo Savassi (UFOP/Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade).
O VII CIAPS é resultado de uma ampla articulação institucional, reunindo UFPI (NUEPES, PPGSM e CEAD), Fiocruz (Piauí, Brasília e Rio de Janeiro), Escola de Governo do Piauí (ESP-PI), SESAPI, UNASUS, Universidade Federal de Pernambuco (PPDEB), além do apoio da SBMFC, OPAS-BIREME, Sebrae, Rute-RNP, Prefeitura de Arraial, FAPEPI, Ministério da Saúde, SUS, Governo Federal e CNPq.
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