

CCHL divulga: Tela Sociológica Ptiana - O Estudante
O ESTUDANTE (2009), filme do diretor Roberto Girault, é protagonizado por Chano, um senhor aposentado que decide voltar a estudar e vai frequentar as atividades acadêmicas da Universidade de Guanajuato. Em uma experiência intergeracional, na convivência com os jovens universitários, estes são por ele influenciados e tocados. Na sua quixotesca experiência, Chano ressignifica a sua existência. Em tela, a concretização de um projeto de vida encarado por um sujeito ativo e disposto a desconstruir imagens estereotipadas acerca do que seja ser velho. O nosso personagem representa todos os idosos (as) que, como ele, decidiram ocupar as instituições de ensino superior abertas para projetos extensionistas direcionados ao tema do envelhecimento humano. Uma realização cinematográfica para pensar sobre um relevante assunto do nosso tempo. Os Chanos marcam presença nas atividades do PTIA (Programa de Extensão Universitária para Pessoas Idosas), na Universidade Federal do Piauí. “Imagens e sons” valiosos e fortes na utilização à qual nós os destinamos (BRESSON, 2005). Ver o filme O ESTUDANTE para pensar sobre os sentidos dos nossos retornos aos bancos escolares. Em processo de envelhecimento, projetamos a retomada de estudos, leituras e atividades diversas relacionadas às nossas múltiplas dimensões. Encontrar pessoas, experimentar o lúdico e o lazer em espaços de cognição e afetividade. A arte cinematográfica junta os estudantes do PTIA em um encontro reflexivo. Olhares voltados para a tela em “vibrações de imagens que despertam”. Reflexões iluminadas pelos toques de Robert Bresson e seu convite para penetrarmos no texto fílmico exibido e sermos inteiramente absorvidos por ele. É “a força que irrompe do olho” e afeta todos os nossos sentidos nos momentos de encantamento artístico. BRESSON, Robert. Notas sobre o cinematógrafo. São Paulo: Iluminuras, 2005.

CCHL divulga: Tela Sociológica Homem com H (Sessão de debate)
A indesejada performance cênica de Ney Matogrosso desagradou os propagadores da “estrutura ideológica” sustentadora da ditadura de 1964. Os incomodados com os trejeitos do artista eram os defensores dos “ideais superiores” de uma “ordem moral e sexual”. Os retóricos da “moralidade pública e dos bons costumes” sacralizavam as tradições, a família e os valores religiosos cristãos. Os “indesejáveis”, na mira do “aparato repressivo”, escandalizavam em “uma ditadura hetero-militar”. Esta, sob o seu “regime autoritário”, trazia a sua “política sexual” (QUINALHA, 2018). Ney Matogrosso é nome ligado às “mudanças no comportamento sexual e social” antecipadoras do “surgimento de um movimento gay politizado no Brasil”. Na projeção de “uma imagem andrógina” e insinuações de “bissexualidade ou homossexualidade”, o artista está no coro dos que tonalizam o “abaixo a repressão”, “mais amor e mais tesão” no Brasil de 1969-1980. No “questionamento de conceitos de gênero tradicionais”, Ney usou “o desvio de gênero e a androginia para desestabilizar as representações padronizadas do masculino e do feminino”. Performances “provocativas de papéis e identidades de gênero” influenciaram “na mudança de conceitos sobre o comportamento masculino apropriado no Brasil no começo dos anos 70”. A audácia comportamental de Ney “inseria-se numa série de manifestações culturais que ajudaram a expandir a tolerância à homossexualidade” (GREEN, 2022, p.427). Entre as “histórias de música e censura em tempos autoritários”, Ney Matogrosso foi “censurado até no olhar”. Do seu repertório, a “mordaça” sonora vetou a composição “Johnny Pirou (Johnny B. Goode)”, versão de Leo Jaime e Tavinho Paes para uma obra de Chuck Berry. Dos “três pareceres de censores diversos”, seleciono um deles, em registro do “Ministério da Justiça/ Departamento de Polícia Federal/Divisão de Censura de Diversões Públicas”. Um parecer de um censor contra a homossexualidade musicada: “A letra musical em epígrafe aborda um conteúdo revestido de comicidade, em que explicita a paixão de um executivo que, durante uma partida de futebol, apaixona-se por um ‘negão’. Considerando que, em seus versos, a composição musical insinua a existência de um relacionamento homossexual, aspecto totalmente inadequado para as execuções fonográficas, opinamos pela NÃO LIBERAÇÃO, de acordo com o que dispõe o Art. 77 do Dec. 20.493/46”. Emissão de Brasília, datada de 02/04/1982 (McGILL, 2021, p.166). GREEN, James N. Além do carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX. São Paulo: Editora Unesp, 2022.McGILL, Zé. Censurado até no olhar: Ney Matogrosso. In: PIMENTEL, João & McGILL, Zé. Mordaça: histórias de música e censura em tempos autoritários. Rio de Janeiro: Sonora Editora, 2021, p.159-168.QUINALHA, Renan. Uma ditadura hetero-militar: notas sobre a política sexual do regime autoritário brasileiro. In: GREEN, J.N., QUINALHA, R., CAETANO M., FERNANDES, M. (orgs.). História do movimento LGBT no Brasil. São Paulo: Alameda Editorial, 2018, p.15-38.