Projeto premiado com menção honrosa na área de ciências biológicas no V SIUFPI mostra fragilidades das unidades de conservação piauienses

O projeto intitulado “Delimitação das áreas de preservação permanente e análise do uso e ocupação do solo em unidades de conservação do estado do Piauí”, desenvolvido pelos discentes Wellyson Prado (ICV/UFPI) e Ada Lopes (voluntário), sob orientação da professora Marlete Ivanov, Departamento de Biologia (CCN/CMPP), destacou-se com o primeiro lugar na premiação do V Seminários Integrados da UFPI (SIUFPI) na área de Ciências Biológicas. Os objetivos do projeto incluíam, primeiro: verificar a efetividade da aplicação do Código Florestal quanto aos limites das Áreas de Preservação Permanentes – APPs, que incluem, dentre outros exemplos, as margens dos rios.

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Foto do momento da premiação, no encerramento do V SIUFPI

De acordo com a legislação, por exemplo, cursos d’água com até 10m de largura devem ter vegetação ciliar preservada pelo menos em 30 metros para cada lado, em caso de rios. O que se observou foram trechos significativos dos rios dentro de unidades de conservação piauienses que não se enquadram na legislação, ou seja, não estão com metragem adequada de APP. Observa-se no mapa abaixo, à esquerda, um trecho de rio dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) dos Altos Cursos dos Rios Gurgueia e Uruçuí-Vermelho, situada ao sul do Piauí, em área de Cerrado, que está desmatado, afetando, inclusive a mata ciliar; à direita, trecho com vegetação ciliar preservada e de acordo com a legislação.

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O segundo objetivo envolvia o mapeamento do uso e ocupação do solo nessas unidades de conservação, as quais consistiam em: duas unidades de conservação de proteção integral (Estação Ecológica de Uruçuí-Una, cerrado, sul do Piauí, e Parque Estadual da Serra de Santo Antônio, caatinga, norte do estado) e quatro unidades de uso sustentável (APAs dos Altos Cursos dos Rios Gurgueia e Uruçuí-Vermelho, das Nascentes do Rio Longá, das Nascentes do Rio Uruçuí-Preto e das Nascentes do Rio Canindé). O mapa de uso e ocupação do solo na APA dos Altos Cursos dos Rios Gurgueia e Uruçuí-Vermelho (abaixo) mostra extensas áreas não vegetadas ou ainda com uso para agricultura ou pastagem.

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Trechos com pastagem, agricultura e agropecuária também foram observados na APA das Nascentes do Rio Longá (mapa abaixo) e situação pior que esta, em termo de extensão das áreas atingidas foi observada na APA das Nascentes do Rio Canindé, a qual apresenta longos trechos com pastagem em seu interior.

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A APA das Nascentes do Rio Uruçuí-Preto, apesar de apresentar poucos trechos alterados em seu interior (mapa abaixo), está cercada por áreas desmatadas, as quais atingem a zona de amortecimento da unidade de conservação.

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A situação apresenta-se menos caótica na unidade federal avaliada (EE de Uruçuí-Una), porém, a mesma apresenta um trecho ao sul com indicativos de uso do solo para finalidade agrícola (mapa abaixo). Além de ter seu entorno com desmatamento generalizado para dar lugar a grandes áreas cobertas por culturas agrícolas. O Parque Estadual da Serra de Santo Antonio encontra-se com boa cobertura florestal nativa e com baixa interferência antrópica.

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As conclusões da pesquisa indicam que unidades de proteção integral (a estação ecológica e o parque estadual) são a categoria que promove, de fato, maior preservação dos bens naturais, uma vez que as unidades de uso sustentável preveem o uso pela população. Todavia, o uso do solo nas unidades de uso sustentável avaliadas no projeto está fora do preconizado pela legislação, o que traz preocupação, tendo em vista que o objetivo principal destas unidades não está sendo alcançado, o qual seria resguardar parcela significativa dos recursos naturais, compatibilizando-se com o uso sustentável pelas populações tradicionais locais.