Uma história sobre o Centro de Ciências da Natureza da UFPI
Professor Titular aposentado – Dep. de Química/UFPI.
José Machado Moita Neto (Pesquisador da UFDPar)1
Escrever algo sobre a história do CCN é para profissionais que pesquisam nas fontes documentais e bibliográficas, que fazem entrevistas com personalidades chaves e que cavam um sentido para um enredo que se desenrola há 50 anos. Creio que o máximo que consigo fazer é uma mistura de memória e história para construir uma narrativa que abarca o período de 1978 a 2016, correspondendo ao ano em que assisti a primeira aula neste centro, como aluno de Engenharia Civil, e ao ano que me aposentei como professor titular lotado no Departamento de Química. Portanto, de algum modo, fui protagonista de 76% desse enredo. No Departamento de Química tem docentes que entraram antes de mim e que ainda estão na ativa, como o Carlinhos e o Marinho, que já eram formados em Química pela UFPI quando entrei como aluno no curso de licenciatura em Química no ano de 1979.
O fervilhar na UFPI, nos anos em que fui estudante nesta instituição, era o desejo de afastar a ditadura militar e os seus tentáculos da Universidade. A ideia de uma IES para todos e de uma gestão democrática foi uma luta contínua que também atingiu o CCN. O peso de uma visão de mundo com a clara delimitação dos que mandam e dos que obedecem deixou marcas profundas na UFPI. O concurso público para docentes e servidores foi uma conquista que me beneficiou quando pude entrar na instituição por essa porta como docente em 1983. Em outra ocasião, enquanto eu fazia graduação, a inexistência de concurso me preteriu. Eu tinha um curso técnico em Química, quando surgiu uma vaga para técnico de laboratório, depois fui avisado que a vaga foi preenchida por um aluno de Agronomia sem qualquer formação de laboratório, mas que tinha vínculos políticos. A indicação política de servidores era a marca destes anos de ditadura.
O CCN tinha um professor visionário que influenciou a minha geração a fazer a pós-graduação (Mestrado/Doutorado) fora do estado. O professor Afonso Sena, que se afastou para fazer mestrado e doutorado, liderou alunos e docentes do CCN que também percorreram o mesmo caminho. A sua morte precoce deixou um legado de interesse por pesquisa e pós-graduação no CCN. Eram outros tempos na instituição em que se achava normal ter Pró-Reitor de Pesquisa e de Pós-Graduação, por exemplo, que não entendiam esses assuntos. Junto com o professor Valdemiro da Paz Brito, do departamento de Física, fomos os primeiros docentes do centro e da UFPI a fazer pós-doutorado, iniciando no ano de 1994. Nessa época, não existia a normatização da UFPI de afastamento para pós-doutorado.
A formação de massa crítica de docentes com formação doutoral na UFPI permitiu o nascimento do mestrado em Educação e, logo em seguida, dos mestrados em Química e em Ciências Animais. O destaque do mestrado em Química, nesse começo da pós-graduação da UFPI, foi que era sustentado por doutores de um só departamento, enquanto o mestrado de Educação e o de Ciências Animais precisavam do esforço conjunto de vários departamentos para atingir a massa crítica de doutores. Na sequência, surgiram os demais mestrados e doutorados que hoje compõem as pós-graduações do CCN. O departamento de Biologia não teve seu mestrado próprio no início; pois, pesquisadores desse departamento, como o professor Alberto Jorge, estavam construindo um mestrado multidisciplinar em rede vinculado à Pró-Reitoria (Prodema/Tropen), no qual contribuí inicialmente como professor de Estatística, em virtude da inexistência de estatístico na UFPI com doutorado para ministrar a disciplina “métodos quantitativos”.
A partir dos mestrados citados, fomos formando nossos egressos do CCN e encaminhando-os aos doutorados fora do estado. Depois, alguns destes estudantes voltaram para concorrer às vagas de docente no CCN da UFPI, da UESPI e grande parte espalhou-se por outras IES do Brasil. A nova geração de docentes consolidou os doutorados do CCN e participa, também, de outros programas de pós-graduação da UFPI. No entanto, a quantidade de bolsistas de produtividade em pesquisa ainda é pequena e temos forte dependência de parcerias com outros centros para pesquisa.
Embora as contribuições do CCN para a formação de recursos humanos sejam evidentes, o centro tem um grande débito com a formação de docentes para atuação no ensino médio. A repartição de responsabilidade com o Centro de Ciências da Educação ainda não pode ser considerada exitosa na formação de licenciados.
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