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Covid-19 causa mudanças nos rituais de velórios e sepultamentos, o que provoca impactos no bem-estar mental

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Última atualização em Quinta, 02 de Julho de 2020, 18h51

Foto Rovena Rosa Agência Brasil20200702180158

Foto reprodução: Rovena Rosa/Agência Brasil

A pandemia do novo coronavírus traz uma nova configuração a respeito dos rituais de passagem, o que causa impactos a curto e longo prazo, já a nossa cultura realiza tradicionalmente os ritos de despedidas aos entes queridos. O contato físico nos velórios e sepultamentos tem a ver com a sensibilidade, espiritualidade e a oportunidade para elaborar o início de um ciclo de aceitação da perda por parte dos amigos e familiares. Neste momento, outras alternativas têm sido adotadas para impedir um luto complicado.

Todos os cuidados são reforçados para evitar o aumento no número de contaminação da Covid-19. São muitas as mudanças frente a essa nova realidade. Agora, mais do que nunca, as pessoas têm utilizado outros meios para se despedir, como encontros virtuais com familiares e amigos. Demétrio Beltrão, psicólogo com especialização em tanatologia (estudo científico da morte), afirma que esses novos formatos podem contribuir positivamente.

“Fazer isso pode contribuir para o início de uma elaboração de aceitação, mas não é a mesma coisa. Sabemos que esse contexto virtual não tem a questão do toque, abraço e despedida de maneira presencial. O virtual pode amenizar, porque é a maneira mais adequada nesse momento de pandemia. Aceitar a realidade da perda é o primeiro passo e posteriormente a pessoa pode elaborar e fazer o reposicionamento, em termos emocionais, para dar continuidade à vida”, explica o especialista.

O psicólogo ainda compartilha que é importante adotar uma rotina que permita colocar em prática alternativas que facilitem o processo de ajustamento interno. Compartilhar o que sente e compreender que o distanciamento é físico, mas não necessariamente afetivo, é fundamental. A conversa também é uma excelente aliada, já que acumular as tensões não é o recomendado. "Apostar na medição e cultivar bons hábitos alimentares contribuem para a saúde física e mental", orienta Demétrio.

O cuidado na morte mostra a busca pelo transcendental

A necessidade de enterrar os mortos está ligada à busca pela transcendentalidade da humanidade, porque é um aspecto que vai além da compreensão que se tem de religiosidade na atualidade. Os primeiros registros de preocupação de enterramento remontam do período dos povos neandertais.

Igor Linhares, técnico no Museu de Arqueologia e Paleontologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), explica que o aspecto da transcendentalidade surgiu após o domínio do fogo, a descoberta da noite, e do uso, muitas vezes, de substâncias que levam a acreditar no mundo mais transcendental, como experiências xamânicas, por exemplo.

“São uma série de fatores que nos fazem perceber a realidade para além do mundo material, por isso há esse primeiro hábito de cuidar dos mortos. Ainda continuamos com esse costume. Há também uma perspectiva, das pessoas que não acreditam nas coisas além da matéria, que o cuidado do corpo é por uma questão apenas de gratidão”, diz o arqueólogo.

A forma que os rituais de enterros acontecem dizem muito sobre a realidade. Muitas vezes são colocados objetos pessoais, carregados de significados, junto aos falecidos. Portanto, a morte sempre está associada a significações. “É por isso que nós, na Arqueologia, quando trabalhamos a morte a enxergamos como um elemento importante, porque vai nos dizer muito sobre o indivíduo e seu contexto. Em um futuro não tão distante, faltará espaço para enterrar os mortos, então vamos passar a usar mais a cremação”, pontua Igor Linhares.

A espiritualidade pode contribuir no processo de aceitação

Também na condição de espírita, o técnico Igor Linhares compartilha que somos seres afetuosos e demonstramos essas necessidades por meio do abraço, fala, olhar e gestos. Esse conjunto de sentimentos marca as relações. Ele ainda pontua que há o costume de associar a relação com o outro a partir do contato físico.

“Mesmo que o espírito não esteja mais naquele corpo, o cuidado é no sentido da gratidão, de relacionar a ele as boas memórias. Quando você cessa essa relação, você está em um luto e não só do contato, mas principalmente da criação de vínculos e memórias afetivas. O corpo é o símbolo dessa construção e não a essência do indivíduo. Deixamos a esfera material, mas continuamos vivos”, assegura Igor.

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