Projeto de extensão da UFPI promove cuidado e autonomia à população quilombola piauiense

Grupo com a liderança do povoado Boi Morto, Quilombo Lagoas

O projeto de extensão “Saúde como Resistência da População Quilombola Piauiense”, desenvolvido pelo Departamento de Bioquímica e Farmacologia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Piauí (UFPI), foi criado a partir do reconhecimento de que a Atenção Primária à Saúde (APS), principal porta de entrada do SUS, deve fomentar políticas e ações intersetoriais que promovam equidade. Isso inclui acolher e articular demandas de grupos historicamente vulnerabilizados, como as comunidades quilombolas, que no Piauí ainda enfrentam baixa cobertura da APS, resultando em impactos diretos em sua qualidade de vida. A iniciativa já promoveu ações nos povoados Umburana, Fazenda do Meio, Boi Morto, Boa Vista do Braz e Moisés. Todos localizados no Quilombo Lagoas.

Coordenado pelo professor Osmar Cardoso, do Departamento de Bioquímica e Farmacologia, o projeto reúne dois docentes, dois discentes do mestrado em Saúde em Comunidade, um aluno de Enfermagem e nove estudantes de Medicina, que juntos estudam possibilidades de levar às comunidades quilombolas piauienses melhores condições de saúde, mostrando assim a importância da extensão dentro das instituições de ensino.

 

Grupo no Povoado Boa Vista do Braz, Quilombo Lagoas

A iniciativa busca promover visibilidade às condições de saúde dessas comunidades, realizando ações de conscientização, rodas de conversa, capacitações e coleta de dados que ajudem a direcionar o olhar público, contribuindo para uma compreensão mais ampla de suas realidades.

Segundo o professor Osmar, o projeto pretende para além de produzir dados sobre as dificuldades enfrentadas por essa população, também promover a autonomia da comunidade quilombola piauiense. Para isso, a iniciativa devolve as informações para as próprias comunidades, onde os resultados preliminares são apresentados e discutidos com os moradores.

O professor reforça que, buscando ampliar ainda mais a visibilidade das desigualdades identificadas, o projeto também vai elaborar cadernos de saúde específicos sobre a população quilombola, onde reunirá mapas e análises que poderão ser utilizados pelo poder público para planejar ações de equidade, além de reorganizar a APS e implementar medidas direcionadas às necessidades reais desses territórios. “Com isso, o projeto transforma problemas historicamente invisíveis em evidências concretas capazes de orientar políticas públicas e fortalecer o cuidado”, explicou Osmar Cardoso.

Entrevistando as mães no Povoado Umburana, Quilombo Lagoas

Dessa forma, ao compartilhar as informações detalhadas sobre condições socioeconômicas, epidemiológicas e ambientais com os moradores, os pesquisadores esclarecem os dados, que deixam de ser apenas números e passam a fazer sentido no cotidiano das pessoas, permitindo que a própria comunidade reconheça seus problemas, identifique determinantes sociais de saúde e compreenda os fatores que dificultam ou facilitam o acesso aos serviços. “As ações de conscientização, como orientações sobre cuidados de saúde, prevenção de doenças e direitos no SUS podem ampliar ainda mais essa autonomia ao fornecer informações que empoderam a população a reivindicar melhorias, cobrar dos gestores e participar de decisões que dizem respeito ao seu território”, ressaltou o professor.

A estudante de Medicina Maria Clara, integrante do projeto, destaca o impacto da vivência no campo. Segundo ela, o projeto permitiu que adquirir o conhecimento da realidade de vida dessas comunidades para além do ambiente acadêmico. “Nesse projeto eu contribuo participando ativamente da coleta de dados, indo às comunidades, ouvindo os moradores e mapeando suas necessidades e as principais barreiras de acesso à saúde. Para mim, isso é fundamental não só do ponto de vista profissional, mas também social. A partir do projeto eu pude sair do ambiente acadêmico e conhecer a realidade de vida, social, econômica e cultural dessas pessoas. Através desse projeto eu estou aprendendo que um diagnóstico ou tratamento só é completo quando consideramos diversos contextos em que aquela população está inserida”, explicou a discente.

Por último, ela enfatizou ainda o compromisso transformador do projeto, que não só registra a realidade ou coleta dados, mas também fornece subsídios concretos para a formulação de políticas públicas mais eficazes e equitativas para a população quilombola.