Alyne Freitas desenvolve pesquisa com publicação na revista Parasite Immunology
A médica e mestre em Ciências e Saúde pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Alyne Freitas, teve sua pesquisa de dissertação publicada na revista Parasite Immunology, um periódico internacional de parasitologia. A pesquisa buscou entender como a inflamação, o aumento do baço e alterações no metabolismo do ferro se relacionam com a anemia provocado pelo calazar. Vale mencionar ainda que o estudo contou com a colaboração do Centro de Inteligência em Agravos Tropicais, Emergentes e Negligenciados (CIATEN/UFPI).
O calazar, também conhecido como leishmaniose visceral, é uma infecção grave que causa febre prolongada, perda de peso, anemia e aumento do baço e do fígado. É causada por um protozoário denominado Leishmania infantum, transmitido por um mosquito hematófago conhecido como asa-dura ou mosquito-palha. Havia uma dúvida na comunidade médica sobre o tratamento ideal para a anemia provocada pela doença e como a hepcidina, uma proteína responsável pela regulação do ferro no sangue, se relacionam com a doença.
Alyne conduziu então uma investigação para compreender melhor a questão, um estudo foi realizado no Instituto Natan Portela, em Teresina, e envolveu 42 pessoas com diagnóstico confirmado, de diferentes idades e sexos, excluindo quem havia recebido transfusão recentemente. Foram avaliados exames de sangue e indicadores de inflamação, quase todos os participantes tinham anemia, em diferentes tipos. O resultado foi complicado para interpretar, por seguir uma lógica contrária ao esperado sobre o metabolismo de ferro.
“O maior desafio foi interpretar os resultados que obtivemos. Obtivemos uma relação negativa entre hepcidina e ferritina no calazar, o que vai contra os estudos quando se pensa em metabolismo do ferro exclusivamente. Então, na doença calazar, ela segue um curso diferente do que é esperado para outras doenças e foi um grande desafio entender o porquê desse dado, desse resultado tão diferente do esperado”, explica.
Três marcadores de inflamação, proteína C reativa, interleucina-6 e ferritina, estavam muito altos e apresentaram relação inversa com a hepcidina, essa relação mudou conforme o nível da proteína. Os resultados evidenciaram que o aumento do baço tem papel importante na anemia causada pelo calazar e outros fatores, como hormônios ligados à produção de sangue, também podem influenciar. Alyne conta que interpretar os resultados da pesquisa só foi possível com a colaboração de profissionais infectologistas e hematologistas.
“Essa interpretação correta só foi possível por uma colaboração muito forte entre infectologistas e hematologistas, entendendo do metabolismo do ferro e da atuação da hepcidina no controle desse metabolismo do ferro e os infectologistas trazendo a experiência da doença Calazar, em que você tem a esplenomegalia [aumento do baço], além de uma resposta inflamatória muito intensa, caracterizada por elevação de citocínias inflamatórias! O estudo concluiu o importante papel da esplenomegalia como determinante da correlação negativa entre hepcidina e os demais marcadores na doença Calazar. Então sem essa colaboração hematologistas e infectologistas esse artigo não teria sido possível”, conta
O estudo foi publicado em julho na Parasite Immunology, um periódico internacional dedicado à pesquisa sobre todos os aspectos da imunologia de parasitas em humanos e animais. O periódico pública estudos que visam compreender como hospedeiros e vetores controlam parasitas, as reações imunopatológicas que ocorrem no curso de infecções parasitárias e o uso de parâmetros imunológicos para diagnosticar infecções, a fim de compreender a distribuição e a transmissão de parasitas (imunoepidemiologia). Alyne celebrou a publicação constatando o reconhecimento do seu trabalho.
“A Parasite Immunology é uma revista de alto renome na sociedade científica, bem conceituada e respeitada universalmente no meio científico. Foi muito importante para nós, a aceitação desse veículo, porque demonstra a importância do nosso trabalho, demonstra a credibilidade dos nossos dados e a relevância dos nossos resultados e da nossa interpretação”, explica.
A mestranda enfatiza haver outras ideias para aprofundar o tema para melhorar a qualidade de vida e os resultados em paciente com calazar. Umas das propostas de Alyne, que ainda não possue pesquisa, é estudar sobre o comportamento de outras proteínas e substâncias para entender quais os mecanismos de autorregulação ou de contrarreguladão que existem nos pacientes com calazar que fazem com que essa relação seja diferente do que é esperado para as outras patologias.
“Esse estudo abriu um leque de possibilidades para aprofundar o entendimento do metabolismo do ferro e do comportamento da hepcidina na doença calazar! Dados sobre esse tema ainda são muito iniciais e nós temos muitos projetos no sentido de aprofundar esse conhecimento e a partir daí buscar alvos terapêuticos que possam melhorar a qualidade de vida e os resultados desses pacientes reduzindo a letalidade”, finaliza.
Por último, também vale frisar a participação dos pesquisadores Adelino Soares Lima Neto, Camila Maria Coelho de Moura, Giovana Dias Silva, Marília de Sousa Araújo Barbosa e Silva, Keline Medeiros de Araújo Vilges, Francisco Mateus Alves de Morais Ferreira, Dorcas Lamounier Costa, Carlos Henrique Nery Costa.
Confira a pesquisa completa aqui.