UFPI fortalece imersão em quilombos do Piauí com aulas do PARFOR Equidade

Turma de São Raimundo Nonato no Quilombo Moisés

Neste período letivo (2025.1), a Universidade Federal do Piauí (UFPI), por meio do Programa Nacional de Fomento à Equidade na Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR Equidade), está fortalecendo a imersão dos cursistas de Educação Escolar Quilombola em comunidades quilombolas de diferentes regiões do estado.

Cursista de Educação Escolar Quilombola do Polo de São João do Piauí

Norteado pelos princípios da Pedagogia da Alternância, o projeto formativo do Curso de Educação Escolar Quilombola ofertado na UFPI por meio do PARFOR Equidade prever a imersão dos cursistas nas comunidades quilombolas. As imersões estão ocorrendo de diferentes formas: em Isaías Coelho a imersão ocorreu na comunidade Salinas, município de Campinas do Piauí, durante a disciplina Política e Legislação da Educação Básica e da Educação Quilombola; em São João do Piauí a imersão ocorreu na disciplina Psicologia da Educação, nos quilombos Estreito Junco e Malhada. 

Imersão da turma de Educação Escolar Quilombola do Polo de Isaías Coelho no Quilombo Salinas

Em Batalha e São Raimundo Nonato as imersões ocorreram em diferentes componentes curriculares e em comunidades quilombolas distintas.

  • Batalha - Psicologia da Educação (60h): quilombos Carnaúba Amarela, Lagoa da Serra e Manga/Ius; Política e Legislação da Educação Básica e da Educação Quilombola (75h): comunidade quilombola Olho D’Água dos Negros.
  • São Raimundo Nonato - Psicologia da Educação (60h) e Política e Legislação da Educação Básica e da Educação Quilombola (75h): comunidade quilombola Moisés.

Registros da imersão dos cursistas do Polo de Batalha na Comunidade Quilombola Lagoa da Serra

Já na turma de Paulistana, as aulas ocorreram integralmente no quilombo Tapuio, município de Queimada Nova, durante todo o período intensivo do Tempo Universidade (TU), que se estendeu de 07 de julho a 03 de agosto e articulou atividades acadêmicas e vivências com a cultura das comunidades quilombolas, promovendo um verdadeiro encontro de saberes (acadêmicos e tradicionais).

Para a professora Gardênia Pinheiro, Pró-Reitora de Ensino de Graduação, o PARFOR Equidade representa uma iniciativa transformadora para a educação pública brasileira, reafirmando o compromisso da UFPI com a inclusão e o respeito à diversidade cultural. “Por meio deste Programa, temos a oportunidade de formar professores para atuar em contextos específicos, como a Educação Escolar Quilombola, promovendo não apenas a inclusão, mas também o fortalecimento da identidade e da cultura das comunidades atendidas. É um passo essencial para garantir uma educação mais equitativa, transformadora e alinhada aos direitos de todos os cidadãos e cidadãs. Estamos orgulhosos em fazer parte dessa história e contribuir para o futuro educacional do Piauí e do Brasil".

Profa. Gardênia Pinheiro durante Encontro de Formação Pedagógica do PARFOR/UFPI

professora Glória Ferro, Coordenadora Institucional do PARFOR/UFPI, reafirma que as imersões em comunidades e territórios são formativas e, por isso, fundamentais nos cursos do PARFOR Equidade. “A imersão em comunidades quilombolas possibilita o conhecimento e a vivência da sua história e cultura, contribuindo para a preservação do patrimônio cultural, valorização da ancestralidade, da história e resistência dos povos quilombolas, podendo, portanto, fomentar a conscientização sobre a importância da luta dos quilombolas por direitos territoriais, políticas públicas e enfrentamento do racismo na nossa sociedade”, reiterou.

Coordenações Institucional e de Cursos visitaram comunidades quilombolas para acompanhamento das atividades

Segundo a professora Lucineide Morais, Coordenadora Adjunta do PARFOR Equidade/UFPI, a imersão dos estudantes nas comunidades quilombolas e em territórios indígenas, como no caso do curso de Educação Escolar Quilombola, é parte fundamental do processo formativo global. “Está previsto nos currículos em desenvolvimento e é de fundamental relevância para a educação dos alunos. Nós, da Coordenação do Programa na UFPI, envidamos todos os esforços para a realização de atividades nessas localidades, inclusive como uma maneira de reforçar os vínculos de pertencimento e de valorização desses espaços”, destaca. 

Professoras Glória Ferro e Lucineide Morais durante I INTERPARFOR realizado no Quilombo Barro Vermelho

O professor Ariosto Moura, Coordenador do curso de Educação Escolar Quilombola, explica como é o processo de imersão vivenciada pelos cursistas nas comunidades. “Os alunos e professores desenvolvem suas atividades acadêmicas dentro do próprio quilombo. É uma oportunidade para vivenciarem de maneira intensa e profunda a vida no quilombo, com todo o potencial da comunidade em seus aspectos culturais, sociais, pedagógicos, religiosos, articulando o conteúdo ensinado no componente curricular e a vivência no quilombo. É um momento significativo tanto para aqueles que já são quilombolas como para aqueles que não são quilombolas e também para os formadores, que terão a oportunidade de ressignificar a sua vivência no processo formativo”.

Prof. Ariosto Moura e cursistas de Educação Escolar Quilombola do Polo de Isaías Coelho

A professora Diana Valdete da Silva, Coordenadora Local no Polo de Paulistana, ressalta que está sendo uma experiência única na vida dos discentes e professores. “Toda segunda-feira é dia de adentrar no ônibus rumo ao quilombo. Inicia-se o trajeto de mais uma semana que tudo será realizado coletivamente, desde a compra da alimentação à limpeza do local, assim como era nos primeiros quilombos. Em diálogo e parceria entre secretários de educação, comunidade quilombola, discentes, coordenadores e professores, a imersão no quilombo é pensada, dialogada para que a disciplina seja ofertada de forma plena e a prática no quilombo aconteça completando o aprendizado”, detalha.

Profa. Diana Valdete e cursistas de Educação Escolar Quilombola durante vivências no Quilombo Tapuio

A professora Silvia Valéria Brito, que ministrou a disciplina de Atividades Curriculares de Extensão (ACE II), na turma de Paulistana, afirma que a experiência docente no Quilombo Tapuio revelou-se profundamente enriquecedora e a vivência reafirmou a importância do diálogo entre a universidade e a comunidade, reconhecendo o saber tradicional como elemento fundamental no processo educacional. A professora destaca o acolhimento caloroso da comunidade, representada especialmente pela liderança de Maria Rosalina, membro da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí e Coordenadora Nacional da CONAQ, cujo comprometimento e hospitalidade contribuíram imensamente para a integração e sucesso das atividades educacionais, e o apoio incondicional e a presença diária da Coordenadora Local, professora Diana Valdete.

“As aulas foram realizadas em um salão cuidadosamente preparado para atividades acadêmicas. O espaço físico, acolhedor e bem estruturado, já adaptado aos padrões universitários, facilitou significativamente o desenvolvimento das atividades pedagógicas e proporcionou conforto tanto aos alunos quanto ao professor. Durante a estadia na comunidade, houve a oportunidade valiosa de mergulhar na história local, conhecendo a origem do quilombo Tapuio e as narrativas sobre seus fundadores. Esse contato direto com a comunidade permitiu não apenas uma compreensão acadêmica, mas também afetiva e cultural da história quilombola, criando um elo entre teoria e prática pedagógica”, revela a professora Silvia Brito.

Espaço reservado para aulas no Quilombo Tapuio

“Primeiramente, gostaria de agradecer à Coordenadora Diana e aos alunos por terem escolhido o Quilombo Tapuio para instalarem a Universidade Federal do Piauí durante um mês. Vocês já experimentaram duas modalidades: uma de estudar no imaginário e a outra de estudarem no pertencimento, na vivência. A história do nosso quilombo é construída a muitas mãos. Tenho certeza que os nossos mais velhos que não estão mais aqui estão orgulhosos e felizes por vocês hoje. Nós temos a missão de manter a nossa comunidade viva e a partilha é a nossa maior característica”, afirmou Maria Rosalina dos Santos.

Maria Rosalina (à esquerda) e cursista de Educação Escolar Quilombola 

Para o cursista Luciano Ferreira Barbosa, de São Raimundo Nonato, tem sido uma experiência transformadora e que tem ajudado a repensar o papel da escola quilombola, não como algo que vem de fora, mas como algo que deve nascer e se fortalecer a partir da própria comunidade. “Mais do que um momento de formação acadêmica, é um reencontro com histórias, saberes e modos de vida que geralmente ficam fora da sala de aula tradicional. A imersão nos permite aprender com o cotidiano das famílias, com a oralidade dos mais velhos, com o jeito de viver que resiste há gerações. Estamos conhecendo de perto os desafios enfrentados pela comunidade, mas também suas potências, sua sabedoria e sua força ancestral".

Cursista Luciano Ferreira Barbosa

A professora Selma Melo, que ministrou a disciplina de Psicologia da Educação em Batalha, relata como foi a experiência na comunidade quilombola Lagoa da Serra, que atualmente é formada por cerca de 38 famílias. “Vivenciamos um dia de aprendizado e troca de saberes. Nossa turma foi recebida com muito carinho pelas lideranças locais, entre elas a presidente da associação, Dona Laura, o vice-presidente e os demais sócios do quilombo. Pudemos conhecer de perto a realidade da comunidade e suas peculiaridades. A imersão permitiu que aplicássemos de fato a disciplina em estudo associando às vivências na comunidade. Houve rodas de conversas e trocas de experiências sobre como a comunidade está organizada, para que haja acesso aos projetos e benefícios que têm direito a receber”. 

Registro da turma de Batalha durante imersão

Sr. Lucimar Pereira da Silva, da comunidade quilombola Carnaúba Amarela, menciona que foi bastante gratificante receber os cursistas do PARFOR/UFPI para imersão no quilombo. “A vinda de vocês foi muito boa e essa troca ajuda a esclarecer muitas coisas, principalmente, por contarmos com a presença de lideranças quilombolas de outras comunidades, como os cursistas José Carlos, vice-presidente da Comunidade Quilombola Manga/lús, e Davi Miranda, da Comunidade Quilombola Curralinhos. Isso nos incentiva a buscar o fortalecimento da nossa associação. Espero que voltem mais vezes”.

Sr. Lucimar, demais moradores da comunidade e professora Selma 

A turma do Polo de São João do Piauí realizou a imersão nos Quilombos Estreito Junco e Malhada. Segundo o Coordenador Local do Polo de São João do Piauí, professor Joédson Santana, o objetivo foi conhecer as atividades praticadas dentro dos Quilombos do Território Riacho dos Negros.

Registros da imersão dos cursistas do Polo de São João do Piauí

Marcos Vinícius Ferreira, Coordenador de Políticas Públicas para as Comunidades Quilombolas na Superintendência de Igualdade Racial da Secretaria do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (Sasc) e cursista de Educação Escolar Quilombola, do Polo de Isaías Coelho, explica que atualmente existem mais de 200 comunidades quilombolas no Piauí, e que o curso é fruto da luta do movimento quilombola (SECOC e CONAC), com o apoio da Superintendência de Igualdade Racial da SASC, INCRA, INTERPI, Fundação Palmares e diversas associações quilombolas.

Marcos Vinícius durante imersão no Quilombo Salinas

A educação escolar quilombola vai além da sala de aula, abrangendo toda a extensão do território, suas manifestações culturais, culinária, agricultura familiar e a vivência comunitária. Neste segundo semestre, os estudantes vivenciaram uma imersão inédita em comunidades quilombolas do Piauí. A turma de Isaías Coelho esteve durante três dias no Quilombo Salinas, em Campinas do Piauí. A experiência incluiu aulas no local, contato com o grupo centenário Samba de Cumbuca e compreensão da história da comunidade, fundada em 1837 por mulheres negras que fugiram da escravização. A iniciativa da UFPI, ao levar a educação para os territórios quilombolas, integra e valoriza os saberes, fazeres e cosmovivências das comunidades, promovendo uma educação inclusiva para as relações étnico-raciais e a diversidade, e aspira a expandir para cursos de pós-graduação no futuro, fortalecendo a educação escolar quilombola”, detalha Marcos Vinícius.

Turma de Isaías Coelho com coordenadores - Quilombo Salinas

A Coordenadora Institucional do PARFOR/UFPI, professora Glória Ferro, e o Coordenador do Curso de Educação Escolar Quilombola, professor Ariosto Moura, estiveram nas comunidades quilombolas Salinas e Tapuio. As visitas, que aconteceram na sexta-feira (01) e sábado (02), respectivamente, tiveram por objetivo o acompanhamento de perto das atividades acadêmicas, do processo de imersão nas comunidades e o fortalecimento da parceria com os municípios, comunidades e lideranças. “Recebemos com muita alegria a presença da professora Glória Ferro e do professor Ariosto Moura. Esses dias de imersão proporcionaram momentos que enriqueceram nossos alunos, pois além de muito conhecimento científico, eles imersaram na cultura local”, ressaltou a professora Valdeci Morais, Coordenadora do Polo de Isaías Coelho.

Professores Valdeci Morais, Ariosto Moura e Glória Ferro no Quilombo Salinas

Confira mais fotos das vivências dos cursistas nas comunidades quilombolas: