Pesquisa da UFPI estuda sistemas de bombeamento de água a partir de energia solar em áreas rurais do Piauí

O bombeamento fotovoltaico facilita o acesso à água em regiões de escassez

A mudança gradativa nas condições climáticas é um tema urgente e que gera preocupação sobre o futuro. A interferência humana nesse processo é evidente e continua sendo a grande vilã na perpetuação dos impactos ambientais, mas a atividade humana não causa somente danos, podendo desenvolver materiais e tecnologias que auxiliam na redução dos impactos gerados pelas mudanças climáticas. 

Um exemplo positivo de ação social ligada ao meio ambiente é uma pesquisa realizada no programa de doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Piauí (UFPI), que aborda o uso de sistemas de bombeamento fotovoltaico de água, utilizando energia solar em áreas rurais do Piauí. Nestas áreas, a população é afetada pelas variações climáticas e pelo difícil acesso à água e energia elétrica.

Em ocasião da defesa da pesquisa no doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente

A tese, intitulada “Uso de sistemas de bombeamento fotovoltaico como tecnologia social em regiões semiáridas: Estudo em áreas rurais do Piauí”, foi defendida pelo professor do Instituto Federal do Piauí (IFPI) e doutorando, Fabrício Higo Monturil de Morais, em abril deste ano. O pesquisador se aprofundou nos sistemas de bombeamento instalados e em como eles impactaram positivamente o dia-a-dia da população rural beneficiada.

“Durante o mestrado, conheci o projeto Canindé Solar. Quando o grupo visitava alguma comunidade para instalar um sistema, observava que as famílias da comunidade viam aquele ‘aparelho' como a salvação de suas vidas. Muitas dessas famílias não tinham o básico para a sobrevivência, e com a água retirada dos poços através do sistema, passaram a plantar e criar animais. Ao entrar no doutorado, resolvi me aprofundar nessa temática, e verificar se os sistemas que foram instalados, de fato, promoveram mudanças na vida dessas famílias”, relata Fabrício.

De acordo com o pesquisador, diversos locais do Piauí, em especial o meio rural semiárido, são muito afetados pelas condições naturais, que agravam a situação de vulnerabilidade socioeconômica dos moradores, ao passo que as famílias locais só conseguem plantar no período das chuvas. 

“Para obter água em outros períodos, as pessoas escavavam poços cacimbões e recorrem a técnicas tradicionais para obter água, retirando através de gangorra, puxando na corda, e tinham que regar suas plantações de forma manual. O acesso à energia elétrica, quando existe, é totalmente deficitário”, comenta Fabrício sobre as dificuldades enfrentadas pelas comunidades citadas. 

Nesse sentido, o bombeamento de águas a partir da energia solar se utiliza de um recurso abundante na região, que é a luz solar, para garantir que os produtores rurais exerçam suas atividades de plantio e criação sem depender de técnicas arcaicas de coleta de água nos poços.

Wilza Lopes, professora-orientadora da tese, explica que tanto o tema de energia fotovoltaica, como o tema de impactos no semiárido, faziam parte de sua linha de pesquisa, e que contou com o auxílio do professor Marcos Antônio Tavares Lira, também do programa de Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, na orientação do projeto. 

Para a docente, as problemáticas referentes ao acesso à água e à energia elétrica são recorrentes, e o espaço acadêmico tem o poder de dar respostas para o entrave, mediante a disposição de recursos para a pesquisa.

“A população do semiárido de forma histórica tem enfrentado muitos problemas, provocados por frequentes períodos de estiagem e a energia se constitui um problema para alavancar o desenvolvimento das comunidades, especialmente as rurais. Tenho certeza que o espaço acadêmico é capaz de dar respostas aos diversos problemas da sociedade, nas amplas áreas do conhecimento de forma sustentável. No entanto, para produzir conhecimento se torna necessário infraestrutura de laboratórios e pessoal, cujos custos variam nas diferentes áreas de conhecimento”, relata Wilza Lopes.

Fabrício Higo encara que a pesquisa no âmbito acadêmico deve compreender o papel de identificar problemas sociais e buscar soluções concretas. “Através de projetos de pesquisa e extensão pode-se desenvolver ou adaptar tecnologias, visando transformação social e melhora da qualidade de vida, de modo que possam trazer benefícios reais e perenes, em especial para as populações vulneráveis”, finaliza.

Projetos como os de bombeamento de água a partir da energia solar são desenvolvidos engajando diferentes áreas do conhecimento para um bem comum e com impacto positivo na sociedade. A disseminação das tecnologias estudadas no âmbito acadêmico é essencial para garantir que as mudanças ambientais sejam sentidas de forma menos drástica pela faixa da população em situação de vulnerabilidade.