Equipe do Laboratório de Pesquisa Avançada em Leishmania e Modelos Alternativos (Bioleish)
A Universidade Federal do Piauí (UFPI) teve um estudo inédito publicado na revista Veterinary Parasitology que propõe a utilização de um modelo invertebrado padronizado para avaliação farmacológica contra a Leishmaniose. A pesquisa foi conduzida no Laboratório de Pesquisa Avançada em Leishmania e Modelos Alternativos (Bioleish), sob coordenação dos professores Fernando Aécio de Amorim Carvalho (Departamento de Bioquímica e Farmacologia) e Michel Muálem de Moraes Alves (Departamento de Morfofisiologia Veterinária).
O trabalho demonstra, pela primeira vez, que a Leishmania é capaz de infectar e evoluir em larvas de Tenebrio molitor, espécie de invertebrado amplamente disponível. Essa transição, anteriormente observada apenas em organismos vertebrados, apresenta um novo caminho para o desenvolvimento de modelos experimentais mais acessíveis, éticos e eficazes na triagem de potenciais fármacos.
Segundo o professor Michel Mualem, a busca por modelos alternativos ao uso de vertebrados em pesquisas segue os princípios da política dos 3Rs (redução, refinamento e substituição). Ele explica que essa abordagem tem ganhado força em todo o mundo, principalmente por oferecer caminhos mais éticos, viáveis e acessíveis para a experimentação científica.
O professor também destaca que o Tenebrio molitor foi escolhido por reunir características fundamentais como baixo custo, facilidade de criação e alta capacidade de reprodução. “Nosso grupo de pesquisa tem sido pioneiro nos estudos que envolvem toxicidade aguda de fármacos e, agora, na utilização desse modelo para atividade antileishmania.”
Ressalta-se que o modelo tem ganhado destaque em diferentes áreas da pesquisa científica, sobretudo na investigação da atividade antimicrobiana. “O uso das larvas de Tenebrio molitor como modelo em estudos farmacológicos têm se expandido. Elas já são empregadas em diversas áreas de pesquisa e, mais recentemente, passaram a ser exploradas na avaliação da atividade antimicrobiana”, afirma.
Segundo o docente, o modelo possibilita a identificação da conversão do parasita da forma promastigota para a amastigota intracelular - fase crítica da infecção em hospedeiros vertebrados. Outro diferencial, segundo Muálem, é o tempo reduzido de experimentação. “Nos testes com Tenebrio, os experimentos são concluídos em cerca de 72 horas, enquanto nos modelos convencionais esse processo pode levar até 120 dias”.
A colaboração internacional que resultou na participação de um pesquisador israelense teve origem durante o I LeishMeio Norte (2023), evento promovido pelo Programa de Pós graduação em Tecnológicas Aplicadas a Animais de Interesse Regional (programa no qual o professor Michel orienta alunos de mestrado e doutorado) UFPI com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI). Na ocasião, o professor Gad Baneth, da Universidade Hebraica de Jerusalém, foi convidado a participar das atividades do programa de pós-graduação. A interlocução foi viabilizada por intermédio da professora Socorro Cruz, docente vinculada ao PPGTAIR. Desde então, a cooperação acadêmica entre as instituições vem se consolidando, com projeções voltadas ao desenvolvimento conjunto de pesquisas e à implementação de possíveis ações de mobilidade acadêmica internacional.
Confira o artigo publicado.