Dia Nacional do Café: Pesquisas da UFPI abordam um café da manhã saudável e nutritivo

Café tão presente na mesa dos brasileiros é objeto de estudo no PPG em Alimentos e Nutrição da UFPI

Uma xícara de café preto (ou com leite) é um dos componentes mais comuns no amanhecer do brasileiro. Amargo, forte e quente, a bebida desperta e deixa você pronto para um dia cheio. Entretanto, seu café pode ser ainda mais nutritivo a partir de uma produção orgânica e enriquecida com produtos de origem local, conforme defende a professora Regilda Moreira-Araújo, do Programa de Pós-Graduação em Alimentos e Nutrição (PPGAN).

Professora do Programa de Pós-Graduação em Alimentos e Nutrição, Regilda Moreira-Araújo

Por meio do PPGAN, a Universidade Federal do Piauí (UFPI) estuda soluções orgânicas e sustentáveis para tornar seu café mais saudável. Regilda afirma que o café orgânico é cultivado sem o uso de defensivos agrícolas — produtos químicos que impedem o desenvolvimento integral dos alimentos no solo. “Existem compostos antioxidantes, como os fenólicos, que atuam como defesas naturais das plantas; quando não há o uso de defensivos, a planta produz mais desses compostos”, explica a professora.

O café que você consome em casa possivelmente não é uma opção orgânica, e sim tradicional. Os estudos do PPGAN apontam que as opções disponíveis no mercado apresentam bem menos antioxidantes e nutrientes. E você deve priorizar o café com antioxidantes ao café comum para garantir uma saúde de primeira, pois eles são responsáveis por combater os radicais livres, que causam doenças cardiovasculares, obesidade e processos inflamatórios.

“Além dos antioxidantes, o café orgânico possui minerais. Estudos demonstram que os alimentos orgânicos, dentre eles o café, são mais ricos em potássio, magnésio, cálcio, fósforo, zinco, ferro, manganês e cobre. Dos 9 minerais que analisamos, todos apresentaram maior concentração nos produtos orgânicos. Às vezes, 5 vezes mais, 2 vezes mais do que é encontrado nos convencionais”, destaca a professora Regilda.

E você pode até pensar “o café orgânico é muito mais caro, não posso comprá-lo”. Verdade, os produtos orgânicos ainda têm um preço mais elevado em comparação aos não orgânicos. Entretanto, a professora Regilda esclarece que os altos preços desses produtos estão relacionados aos hábitos dos consumidores e acrescenta que, com a maior demanda por alimentos saudáveis, a produção nacional tende a aumentar nesse segmento e, consequentemente, baratear os produtos.

“A partir do momento que as pessoas se conscientizarem do benefício dos alimentos orgânicos, vai aumentar a demanda, vai aumentar a produção e diminuir o custo. Então as pessoas que já têm conhecimento sobre o benefício de consumir mais um orgânico do que um convencional, já buscam esse tipo de café. O café convencional também possui compostos fenólicos, que são benéficos à saúde, devido a ação antioxidante, mas em quantidades menores, argumenta

Vai um pãozinho de queijo orgânico?

Pão de queijo a base de feijão caupi

Outro produto cotidiano da mesa do brasileiro é o pão. E todo mundo ama comer um pão de queijo com um cafezinho antes de começar o dia, certo? Melhor ainda seria um pão de queijo enriquecido com ferro, proteínas e baixo teor de gordura e sódio, para te dar ainda mais força no dia a dia, concorda? Pois já existe. É justamente esse o trabalho desenvolvido pela Caupi Alimentos Saudáveis Funcionais LTDA, que produz e entrega para o mercado pães de queijos artesanais feitos à base de farinha de feijão-caupi (Vigna unguiculata (L).Walp), comum na alimentação do piauiense.

A empresa, apoiada pela Incubadora de Empresas do Agronegócio Piauiense (INEAGRO) da UFPI, foi criada através da atuação da professora Regilda, e pesquisa a introdução do feijão caupi de forma não convencional para enriquecer a alimentação do piauiense. Essa startup universitária ganhou corpo a partir do Edital Centelha de 2019, iniciativa de apoio ao empreendedorismo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI). O produto também conquistou aprovação no Edital Startup Nordeste, promovido pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no estado do Piauí (SEBRAE/PI).

Professora Amanda de Castro

Professora do curso de Nutrição da UFPI, Amanda de Castro, também é sócia da startup e explica que o alimento produzido é mais nutritivo e sustentável do que as opções tradicionais disponíveis. “Com a adição de farinha de feijão caupi, conseguimos melhorar as características desse produto e torná-lo ainda mais nutritivo, que continua sendo bem aceito. Temos a versão normal e a versão sem lactose, ambas bem recebidas no mercado. Já fizemos alguns testes de venda em feiras e eventos do Sebrae durante a pesquisa”, acrescenta.

Estudante de Nutrição, Miqueias Soares

Sócio na Caupi Alimentos, o estudante de graduação em Nutrição, Miqueias Soares, explica que o produto é feito de maneira artesanal e valoriza a economia regional por ser produzido a partir de uma leguminosa tradicional na alimentação do Piauí. “O pão de queijo à base de feijão caupi traz um aumento de nutriente, como o aumento de proteínas, de ferro, de sais minerais e também de sabor e crocância, sendo um dos fatores que mais conta na alimentação do dia a dia”, enfatiza.

A Caupi Alimentos também produz outros artigos e estuda outras matérias primas locais na produção de alimentos orgânicos, incluindo o uso de Plantas Alimentícias Não-Convencionais (PANCs), alimentos incomuns na dieta nutricional local). Recentemente, a startup foi contemplada no Edital de Seleção de Propostas Inovadoras para Incubação de Negócios, do programa InovaUFPI, pelo desenvolvimento de uma bebida fermentada do tipo kombucha, bebida tradicionalmente feita à base de chá-verde. No projeto aprovado, a bebida será feita à base de orá-pró-nóbis, PANC comum no Piauí, e cajuína.

A professora Regilda destaca que os objetivos da Caupi Alimentos são trazer à população local artigos orgânicos, sustentáveis e que valorizem a agricultura do Estado. Desse modo, a docente afirma que o empreendimento também busca cumprir 6 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), sendo eles o primeiro, Erradicação da Pobreza, pela criação de novos empregos e a valorização do trabalho dos produtores rurais de feijão-caupi; o segundo, Fome Zero e Agricultura Sustentável, por utilizar matérias-primas orgânicas e artesanais e por conter nutrientes importantes, podendo ser usado na merenda escolar; o terceiro, Saúde e Bem-estar, por conter proteínas, minerais, como o ferro, antioxidantes naturais e baixo teor de gordura e sódio; o oitavo, Trabalho Digno e Crescimento Econômico, através do uso de produtos agrícolas e matérias-primas regionais, incentivando a economia e o produtor local; o nono, Indústria, Inovação e Infraestrutura, a partir da criação de alimentos novos e de utilidade pública; e o décimo, Redução das Desigualdades, com a geração de empregos e a introdução dos produtos mais saudáveis, regionais e orgânicos na alimentação escolar.