A tese aponta para a necessidade de intervenções específicas que atenuem riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública
Uma análise recente realizada na bacia hidrográfica do rio Gurguéia, localizada no sul do estado do Piauí, revelou indícios de contaminação do solo e de sedimentos por elementos potencialmente tóxicos (EPTs). O estudo é parte da pesquisa de Doutorado em Ciências Agrárias da Universidade Federal do Piauí (UFPI) da discente Kamylla Gonçalves, sob orientação do professor Yuri Jacques Agra. A tese tem como título: “Elementos Potencialmente Tóxicos em Solos, Banco de Canais e Sedimentos de Leito da Bacia Hidrográfica do Rio Gurguéia, Piauí”.
A pesquisa investigou a presença de diversos elementos químicos — chumbo (Pb), cromo (Cr), níquel (Ni), zinco (Zn), ferro (Fe), bário (Ba), cério (Ce), cobalto (Co), cobre (Cu), lantânio (La), manganês (Mn), neodímio (Nd), praseodímio (Pr), escândio (Sc), samário (Sm), tório (Th), titânio (Ti), vanádio (V) e ítrio (Y) — em diferentes áreas da bacia hidrográfica. Ao todo, foram coletadas 188 amostras em cinco regiões distintas: Cerrado preservado (81 amostras), pastagens (48), áreas agrícolas (14), bancos de canais fluviais (36) e sedimentos de leito (9).
Pesquisa desenvolvida por Kamylla Gonçalves
Os resultados indicaram que os sedimentos de leito e os bancos de canais fluviais apresentam níveis de poluição, destacando o papel dos sedimentos como indicadores de poluição de médio e longo prazo. Segundo Kamylla Gonçalves, os dados obtidos foram embasados em uma ampla revisão bibliográfica sobre a história, aspectos econômicos, geologia e hidrologia da bacia, além de uma avaliação da poluição com base em índices geoquímicos, como: fator de enriquecimento, fator de contaminação, índice de carga poluidora e potencial de risco ecológico.
Embora os índices geoquímicos não tenham caracterizado um cenário alarmante de poluição, classificando a região como não poluída ou moderadamente poluída, com baixo ou nenhum enriquecimento por Elementos Potencialmente Tóxicos (EPTs), identificaram-se áreas, especialmente nos sedimentos fluviais, com concentrações mais elevadas desses elementos. Para a autora, isso “evidencia a necessidade de intervenções direcionadas para reduzir a descarga de efluentes nos recursos hídricos”.
Pesquisa teve orientação do professor Yuri Jacques Agra
A pesquisa aponta que as estratégias de mitigação da degradação do solo e de recuperação da bacia devem priorizar as margens e o leito do rio, além da preservação das nascentes. O professor Yuri Jacques Agra destaca que o estudo serve como base para futuras pesquisas sobre a concentração de EPTs em solos e sedimentos da região, observando que “existem áreas, especialmente nos sedimentos de leito ao longo do curso d’água principal e nas margens do rio, que mostram níveis mais altos de contaminação, evidenciando que a bacia hidrográfica está sob pressão ambiental e demanda uma estratégia de recomposição da faixa de vegetação ripária (mata ciliar)”.
O professor também defende ações práticas a partir dos resultados, como a implementação de um sistema de monitoramento contínuo dos EPTs em toda a bacia, e o desenvolvimento de regulamentações específicas pelos órgãos competentes, com foco na mitigação dos impactos das atividades humanas sobre os recursos naturais. “Entre as medidas prioritárias estão o descarte adequado de resíduos e a proibição da descarga direta de efluentes nos corpos hídricos”, pontua.
Por se tratar de uma pesquisa pioneira na região, os resultados representam um avanço significativo na compreensão das concentrações e dos riscos ecológicos associados aos EPTs. “Os dados reforçam a urgência de intervenções voltadas à redução da poluição por efluentes agrícolas e industriais, bem como à recuperação das margens dos rios — uma medida já prevista pelo Código Florestal Brasileiro”, conclui o professor Yuri Jacques Agra.