Defesa de pesquisa desenvolvida no âmbito do PPG em Letras da UFPI
Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGEL) da Universidade Federal do Piauí (UFPI) oferece uma nova abordagem sobre as relações entre a literatura fantástica e as representações queer. A dissertação, intitulada The Queer Fantastic: Narratives of Transgression and Uncertainty in Jeanette Winterson’s The Passion (1987) (O Fantástico Queer: Narrativas de Transgressão e Incerteza em The Passion, de Jeanette Winterson), é assinada pela mestranda Amanda Parente Vieira, sob a orientação do professor Cláudio Augusto Carvalho Moura e a coorientação da professora Katharine Burnett.
A proposta da pesquisa investiga como o romance The Passion (1987), da escritora britânica Jeanette Winterson, reúne elementos da literatura fantástica e da teoria queer para construir uma narrativa que desafia a realidade e questiona normas sociais estabelecidas. O estudo defende que essas duas abordagens — o Fantástico, por romper com a lógica tradicional da realidade, e a Queerness, por resistir a padrões normativos — se unem na obra para provocar uma reflexão sobre identidade, liberdade e os limites da própria estrutura narrativa.
Segundo Amanda, a escolha da obra se deu justamente por esse potencial transgressor. “A escolha de The Passion se deu ao fato de ser um romance que dialoga diretamente com o que eu tinha a intenção de pesquisar. Trata-se de uma obra rica, que possibilita uma ampla gama de abordagens analíticas, especialmente relacionadas às questões de gênero, sexualidade e transgressões das normas sociais”, afirma.
O trabalho trata-se de uma dissertação de mestrado
Ao explorar essas camadas, a autora da pesquisa destaca como o uso do Fantástico tensiona o que se compreende como realidade. “Acredito que essa abordagem permite que o leitor questione o que pode ser entendido como real, normal e natural em diversas narrativas. O Fantástico e Queerness podem ser entendidos como estratégias narrativas que desestabilizam e confrontam os discursos hegemônicos e normativos”, acentua.
O estudo mobiliza uma ampla base teórica, com destaque para Tzvetan Todorov, Rosemary Jackson e Kathryn Hume nos estudos do Fantástico; Judith Butler, Eve Sedgwick, Lee Edelman e Jack Halberstam na Teoria Queer; e Sigmund Freud e Jacques Lacan como aporte psicanalítico. A dissertação busca mostrar que o Fantástico e o Queer não apenas compartilham o desconforto que causam ao desafiar a norma, mas também oferecem possibilidades narrativas para representar a alteridade, a fluidez e o estranhamento.
De acordo com o professor Cláudio Augusto Carvalho Moura, orientador de Amanda, o principal mérito da pesquisa está em compreender o Fantástico e o Queer como forças convergentes. “Esse tipo de leitura lança luz sobre como, muitas vezes, aqueles que não se enquadram nos padrões sociais, seja por questões de gênero, sexualidade ou quaisquer dessas caixinhas escolhidas pela sociedade, são representados, por vezes de forma consciente, mas muitas vezes de forma subconsciente, por meio do dispositivo fantástico”, afirma.
O professor também destaca o valor simbólico da obra de Winterson no contexto literário contemporâneo. “Jeanette Winterson recusa rótulos como ‘literatura lésbica’ por entender que essa nomenclatura impõe uma limitação às experiências artísticas de sujeitos minorizados. O mesmo não ocorre com autores homens, brancos e heterossexuais, que escrevem sobre suas vivências sem terem suas obras reduzidas a categorias identitárias. A literatura deve ser espaço de complexidade, não de enquadramento”, avalia.
A banca avaliadora do trabalho contou com a presença da Profa. Carolina Aquino (PPGEL/UFPI) e da pesquisadora Mariana Rios Maldonado, do Centre for Fantasy and the Fantastic da Universidade de Glasgow, na Escócia, uma das maiores referências mundiais em estudos sobre literatura fantástica.
Atualmente, Amanda integra o Núcleo de Pesquisa e Extensão em Literaturas Fantásticas, Estudos Interartes e Tradutológicos (NUPLIFIT/CCHL/UFPI) e reside em Nashville, nos Estados Unidos (EUA), onde atua como professora de português na Fisk University, por meio de uma bolsa Fulbright - a mais prestigiosa bolsa de intercâmbio acadêmico dos EUA. Durante sua permanência no exterior, redigiu e defendeu a dissertação em inglês - sendo este o primeiro caso de defesa internacional do PPGEL com a estudante fora do país.