O feijão-fava, importante produto da agricultura familiar no Piauí, poderá se tornar mais resistente a doenças, mais produtivo e colhido em menos tempo. O fortalecimento da cultura tem contribuição especial de dois laboratórios da Universidade Federal do Piauí (UFPI), o Laboratório de Recursos Genéticos e Melhoramento de Plantas e o Laboratório de Sementes. Um dos avanços tem sido a colheita da fava em apenas sessenta dias quando o ciclo convencional pode levar até sete meses. As melhorias trazem aos produtores maior segurança alimentar e incremento de renda.
Com pesquisas iniciadas em 2002, a Universidade Federal do Piauí (UFPI) mantém o mais avançado e consolidado grupo de pesquisadores que se dedicam à cultura do feijão fava no Brasil, reunindo professores de áreas diversas, como melhoramento, fitopatologia, microbiologia, nematologia, produção e tecnologia de sementes, fertilidade do solo, tecnologia de alimentos e outros. Além disso, a Universidade faz parte de uma rede internacional de estudos da cultura, incluindo pesquisadores do México, Estados Unidos, Colômbia, Equador, Itália, Espanha e África.
O Piauí é o quinto produtor nacional de fava, com mais de 660 toneladas produzidas em 2023, segundo dados do IBGE. O município maior produtor da cultura é Tanque do Piauí, responsável por 15% da produção estadual da leguminosa. Mas o plantio da fava se espalha por várias cidades, de distintas regiões, como Várzea Grande, Francinópolis, Barra d'Alcântara, Bom Jesus, José de Freitas, e em várias outras.
Experimento conduzido por pesquisadores da UFPI no município de Tanque do Piauí
No cultivo da agricultura familiar no Piauí, predomina o uso de variedades “crioulas”, sem melhoramento genético, passadas de geração a geração, com ciclo longo e característica de planta trepadora. As sementes utilizadas são tiradas da própria produção, reservadas para serem plantadas no ano seguinte.
Laboratório de Recursos Genéticos e Melhoramento de Plantas
Sob coordenação das pesquisadoras Ângela Celis de Almeida Lopes e Regina Lucia Ferreira-Gomes, o Laboratório de Recursos Genéticos e Melhoramento de Plantas, avança na consolidação de resultados. Com um rico banco de germoplasma que conserva material genético do Nordeste e de outros países, sucessivas caracterizações e análises, será possível desenvolver uma cultivar melhorada que permitirá a colheita em apenas 60 dias, quando o habitual são sete meses. O melhoramento é resultado do cruzamento de acessos do banco de sementes com material de outros países.
Pesquisadora da UFPI, Regina Lucia Ferreira-Gomes
“Por volta de 2015, a gente começou a realizar um trabalho de melhoramento. A professora Ângela Celis de Almeida Lopes, que trabalha aqui com a gente, foi aos Estados Unidos fazer pós-doutorado e realizou cruzamentos entre o material daqui, dos Estados Unidos, do México e da Argentina. Veio para cá e a gente foi avançando esse material. O objetivo é desenvolver linhagens para serem registradas no Ministério da Agricultura.”, avalia a pesquisadora Regina Lucia Ferreira-Gomes.
A pesquisadora Regina Lucia Ferreira-Gomes explica que o feijão-fava plantado pela maioria dos agricultores familiares no Piauí é da variedade “crioula”, ou seja, não melhorada geneticamente e que oferece limitações. “A gente tem trabalhado tentando reduzir o ciclo da cultura e aumentar a produtividade de grãos, tentando produzir linhagens mais eretas que facilitem a colheita, analisando a questão de proteína, a questão nutricional dos grãos para que eles possam ser utilizados na merenda escolar”, detalha Ferreira-Gomes.
Laboratório de Sementes
As pesquisas relacionadas à qualidade das sementes do feijão fava também seguem avançando. No Laboratório de Sementes do Centro de Ciências Agrárias da UFPI, as pesquisas buscam aumentar o tempo de armazenamento e a resistência no campo a situações adversas como irregularidades no solo, na irrigação e clima desfavorável, explica o coordenador do Laboratório, Professor Wilson Vicente Pereira.
Pesquisador da UFPI, Wilson Vicente Pereira
“O campo tem condições adversas que a gente não consegue controlar. Então, quanto melhor a qualidade da semente, melhor sua a resistência e da planta a essas condições, e melhor a produtividade. Quanto maior a qualidade da semente que chega ao produtor, maior será a produtividade obtida”, enfatiza o pesquisador.
No Laboratório, os trabalhos de pesquisa incluem análises diversas em equipamentos como estufas para a secagem, para teste de umidade, teste de massa seca nas sementes e nas plantas e câmaras de Germinação, para testes de germinação e envelhecimento de sementes.
Manter o poder de germinação e a conservação das sementes são grandes desafios para os produtores familiares. “Os produtores familiares não conseguem usar sementes armazenadas por mais de um ano e isso provavelmente tem relação com alguma exigência diferenciada da espécie quanto aos procedimentos entre a colheita e o armazenamento. Então, nosso foco é detectar o momento ideal de colheita e determinar as melhores condições de armazenamento, sempre com foco nas condições que o pequeno produtor terá acesso, para garantir a manutenção prolongada da qualidade das sementes”, detalha o Prof. Wilson Vicente Pereira.
Fortalecimento de uma cultura negligenciada
Apesar da popularização da leguminosa, do valor agregado de venda e do potencial como fonte nutritiva na alimentação humana, a cultura do feijão fava segue negligenciada. Na UFPI, pesquisadores buscam reverter essa realidade, aumentando a caracterização e a identificação da espécie, colaborando para formação de bancos genéticos robustos, explorando todo o potencial da fava e colaborando com estratégias para o aumento da produção com menos impacto ao meio ambiente.
O Laboratório de Sementes e o Laboratório de Recursos Genéticos e Melhoramento de Plantas são ligados ao Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Agrárias (CCA) do Campus da UFPI de Teresina.