O Museu do Piauí, com o apoio da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e do Centro de Inteligência em Agravos Tropicais Emergentes e Negligenciados (CIATEN), recebe para visitação a exposição “Vozes”. A mostra busca levar visibilidade, conscientização e debate sobre os desafios enfrentados por mulheres acometidas pela hanseníase. A exposição segue aberta ao público até o dia 30 de janeiro. O projeto integra a campanha Janeiro Roxo, que visa à conscientização sobre a doença, e reúne arte e expressão para fomentar a discussão sobre o cuidado e a saúde das mulheres vítimas de estigma, preconceito e outras formas de violência.
A exposição foi idealizada a partir de uma pesquisa qualitativa em saúde, com o objetivo de investigar as experiências de estigma e exclusão social enfrentadas por mulheres diagnosticadas com hanseníase no Piauí. O estudo analisou as práticas de cuidado existentes e como as políticas públicas contribuem para a perpetuação ou enfrentamento desses estigmas, ao mesmo tempo em que buscou compreender os impactos psicológicos, sociais e de saúde gerados pela marginalização dessas mulheres. Vale mencionar que o projeto contou com financiamento do CNPq e Ministério da Saúde.
Professor da UFPI, Fábio Solon
Para Fábio Solon, professor do curso de Medicina da UFPI, a exposição é necessária para a construção de uma agenda sobre a hanseníase no estado do Piauí, complementada pelo elemento artístico. "A arte pode ser um canal de comunicação com a população, porque poucas pessoas têm acesso a artigos científicos ou livros, e a arte é universal. Tentamos, por meio da simbologia, da ilustração e do desenho, proporcionar o primeiro contato com o tema, o que pode se tornar um agente multiplicador para prevenir e controlar não apenas a hanseníase, mas também tantos outros agravantes. Hoje, estamos discutindo a hanseníase, mas colocando o foco na violência contra a mulher", afirma.
Sobre a importância de estimular a conscientização no combate e prevenção à hanseníase, ele explica que, embora ainda não exista uma vacina, a conscientização sobre os sinais e sintomas pode orientar a população sobre o tratamento oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). "Quanto mais fizermos para orientar a população sobre os sinais e sintomas, e sobre as informações acessíveis para um diagnóstico e tratamento rápidos, melhor", declara.
Estudante Maria Rita Amorim
Maria Rita Amorim, estudante do curso de Medicina da UFPI e uma das organizadoras da exposição, comenta sobre o processo de construção e aplicação do trabalho. "Focamos em ouvir as histórias dessas mulheres. Fomos a campo, buscamos o apoio das mulheres do Centro Maria Imaculada e, sempre que íamos, deixávamos perguntas pré-prontas. O objetivo não era fazer um questionário rígido, mas usar essas questões como ponto de partida para que as mulheres compartilhassem suas vivências com a hanseníase e também com outros aspectos de suas vidas. Buscamos entender o quanto elas conheciam sobre os diversos tipos de violência e se tinham conhecimento sobre como poderiam agir diante dessas situações."
Maria Rita também fala sobre a importância de conectar a cultura com a pesquisa acadêmica para a comunidade. "É uma forma de quebrar barreiras. Conseguimos aproximar o que produzimos enquanto ciência na universidade da população, pois a arte é uma linguagem universal. Dessa maneira, conseguimos transmitir conhecimento de forma mais lúdica, por meio de desenhos e pinturas temáticas, de forma que não seja necessário ter preparação acadêmica para entender, utilizando uma linguagem acessível", diz.
Vitória Reis Cordeiro, presidente da Liga de Sexologia da UFPI, destaca a relevância de um projeto como o Vozes para a sociedade piauiense. "Este é um evento importante porque o trouxemos para o Museu do Piauí, localizado no Centro e de acesso livre. É essencial nos apropriarmos de nossa cidade e promover eventos com pautas pertinentes. Essa é a maior contribuição que uma universidade pública pode oferecer à sociedade."
Ela reafirma a importância de disseminar conhecimento para combater a violência sofrida por mulheres com hanseníase. "Só conseguiremos combater o estigma da hanseníase quando nos informarmos sobre a doença, que é curável e tem tratamento no SUS. E, além disso, devemos entender como ela afeta as mulheres. Claro, afeta tanto mulheres quanto homens, mas precisamos abordar a questão especificamente no contexto da violência que as mulheres acometidas pela hanseníase enfrentam. Acredito que esta exposição oferece uma oportunidade única para entender mais sobre a doença e contribuir para o fim dessa violência", finaliza.
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