Com o apoio da Universidade Federal do Piauí (UFPI), o Museu do Piauí recebe para visitação, a partir de 8 de janeiro, a exposição "Vozes", que busca dar visibilidade e promover o debate sobre os desafios enfrentados por mulheres acometidas pela hanseníase. A mostra, que integra a campanha Janeiro Roxo de conscientização sobre a doença, reúne arte e discussão sobre o cuidado à saúde dessas mulheres, vítimas de estigmas, preconceitos e outras formas de violência.
A exposição foi idealizada a partir de uma pesquisa qualitativa em saúde, cujo objetivo foi investigar as experiências de estigma e exclusão social enfrentadas por mulheres diagnosticadas com hanseníase no estado do Piauí. O estudo analisou ainda as práticas de cuidado existentes e como as políticas públicas contribuem para a perpetuação ou enfrentamento desses estigmas, ao mesmo tempo em que buscou compreender os impactos psicológicos, sociais e de saúde gerados pela marginalização dessas mulheres.
Segundo os resultados da pesquisa, as mulheres diagnosticadas com hanseníase enfrentam não apenas os desafios do tratamento da doença, mas também uma série de dificuldades adicionais relacionadas ao preconceito. O estigma social e institucional afeta diretamente sua autoestima, suas relações familiares e comunitárias, além de dificultar o acesso a cuidados de saúde adequados. Muitas relataram situações de discriminação em diversos espaços, incluindo no ambiente de trabalho, em casa e até em instituições de saúde.
A exposição é uma forma de sensibilizar e mobilizar a sociedade sobre essas questões, oferecendo uma reflexão sobre os impactos do estigma e a importância de um cuidado integral à saúde dessas mulheres, que leve em conta tanto os aspectos físicos quanto as repercussões psicológicas e sociais da doença. O evento também visa promover o diálogo e a construção de soluções colaborativas para o enfrentamento dos problemas identificados pela pesquisa.
Segundo o professor do curso de Medicina da UFPI, Fábio Solon, a mostra, cadastrada na Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PREXC), será composta por quatro ambientes no Museu do Piauí, cada um abordando diferentes perspectivas da questão. A Sala 1, intitulada "Eldenira Rodrigues", destaca a produção das próprias mulheres acometidas pela hanseníase. A Sala 2, "Caminhos de transformação", traz a produção de pesquisadores, docentes, discentes e profissionais da saúde. Já a Sala 3, "Entrelaçadas: da vulnerabilidade à força", é dedicada à produção de Maria Rita Amorim Braga. Por fim, a Sala 4, "Quebrando o silêncio", apresenta a produção do respectivo docente do curso de Medicina da Universidade.
De acordo com a estudante de Medicina da UFPI, Maria Rita Amorim Braga, o projeto faz parte da sua iniciação científica como bolsista do PIBIC 2024/2025, sendo orientada pelo professor Fábio Sólon Tajra. "A arte foi o caminho escolhido para acessar a comunidade em geral, e todo o processo de criação foi fundamentado na pesquisa qualitativa, por meio de entrevistas com mulheres acometidas pela hanseníase, buscando criar um ambiente seguro para o compartilhamento de suas vivências. A partir dessas entrevistas, minha afetação com tudo o que foi compartilhado, combinada com minha perspectiva pessoal, foi essencial para integrar a pintura e o bordado em tela na confecção das obras. Como aluna do curso de Medicina da UFPI, posso afirmar que esse processo foi um divisor de águas na minha compreensão sobre o conceito de saúde. Ele ampliou meu olhar, fazendo-me perceber o universo que reside no indivíduo para além da fisiopatologia. Acredito que, além de incentivar os estudantes a pensarem fora da caixa, a expressão cultural nos aproxima e facilita nosso diálogo com a população, seja de que forma for", explicou.
Apesar de aberta ao público no dia 8 de janeiro, a abertura oficial acontecerá no dia 17 de janeiro, às 9h, e contará com uma roda de conversa sobre os desafios enfrentados pelas mulheres atingidas pela hanseníase, com a participação de representantes de diversas instituições, incluindo o Centro de Inteligência em Agravos Tropicais Emergentes e Negligenciados (CIATEN), que é responsável pela realização do evento.
A exposição "Vozes" segue até o final do mês de janeiro e visa sensibilizar o público a promover uma discussão profunda sobre os estigmas e as práticas de cuidado à saúde das mulheres que vivem com a hanseníase no Piauí.