Lotada do campus Senador Helvídio Nunes de Barros da Universidade Federal do Piauí (UFPI), localizado em Picos, a professora Juliana Bendini realizou, em parceria com a professora Rebeca Hennemann da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), o “Projeto Realeira: protagonismo jovem na apicultura em Massapê do Piauí, Território Chapada Vale do Itaim”, o projeto de extensão visou promover ações para impulsionar o protagonismo da juventude rural na apicultura desenvolvida no Território Chapada Vale do Itaim.
O projeto foi contemplado pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Piaui (FAPEPI). E deu início às suas ações em agosto de 2023. Inicialmente foi realizada uma mobilização com os sócios da Associação de Apicultores local, a ABOMEL. Na ocasião, a professora Juliana Bendini explicou sobre os objetivos do projeto, incentivando a participação dos filhos e filhas dos sócios. Assim, foi formada uma turma de 16 estudantes residentes do município de Massapê do Piauí e com condições de se deslocar para a comunidade rural São Francisco, onde as atividades seriam desenvolvidas.
Mobilização realizada junto aos Apicultores da Associação de Massapê do Piauí
Dessa maneira, entre os meses de setembro de 2023 e julho de 2024, foram realizados 7 cursos formativos em apicultura, 3 cursos complementares em temas transversais à apicultura, além de 2 visitas técnicas a importantes centros relacionados à apicultura regional.
Durante os cursos formativos, foi estimulada a discussão dos conteúdos com a intenção de promover a contextualização com a realidade da apicultura realizada na região do semiárido piauiense. Os seguintes tópicos foram abordados ao longo destes: Identificação das plantas de potencial produtivo e de manutenção para as colônias de abelhas africanizadas Apis mellifera na Caatinga; Relação entre as necessidades biológicas das abelhas e as características do clima semiárido; Manejo das colônias de abelhas africanizadas em função das diferentes estações climáticas do semiárido; Noções sobre a Seleção e melhoramento genético das colônias por meio da produção de rainhas; Aumento da produtividade de mel; Produção de mel orgânico e de qualidade exigida pelo mercado externo; Noções básicas da produção de própolis e de pólen apícola; Oficina de cosméticos a base de produtos apícolas.
Oficina de sabonetes organizada no projeto
É importante evidenciar que durante o intervalo entre os encontros mensais, os estudantes realizavamtarefas práticas, envolvendo seus familiares em sua maioria, incentivando assim o envolvimento nas atividades relacionadas com a apicultura no âmbito da unidade familiar. Além disso, foram utilizados recursos didáticos que facilitaram o processo de aprendizagem, como uma caixa expositora de vidro, que permite a visualização em sala de aula das diferentes castas de uma colméia, além a colméia didática, que permite a simulação de diferentes situações ocorrentes durante o manejo das colmeias, como a divisão de colônias.
No que tange os cursos complementares, foram abordados os seguintes temas: Protagonismo juvenil e associativismo; Fake news, ciência e apicultura; e equidade de gênero, empreendedorismo e apicultura.
A princípio, quando se fala de associativismo, palavra que é a concretização do ditado “a união faz a força”, e que segundo a professora Juliana Bendini se alia a esse protagonismo. O associativismo é ainda mais importante no Piauí, onde as organizações sociais são a marca da nossa Apicultura. “Considerando que as mudanças climáticas constituem-se em uma das maiores ameaças para a Apicultura no Piauí, uma vez que o semiárido, território com maior número de Apicultores do Estado, é extremamente vulnerável ao aquecimento global, torna-se especialmente importante incentivar o protagonismo dos jovens, que são menos rígidos as inovações tecnológicas necessárias para manejar as abelhas daqui por diante" , relata.
Além disso, falando sobre o tema “Fake news, ciência e apicultura”, a professora Juliana destaca que durante todo o projeto foi usado um material didático baseado em artigos científicos e pesquisas locais, levando os estudantes a entenderem e valorizarem a ciência em detrimento de outras fontes informais como influenciadores digitais que não entendem questões específicas do clima local. “Durante toda a formação, nós trabalhamos em nosso material de apoio didático, muitos artigos científicos realizados pelos nossos grupos de pesquisa em Apicultura da UFPI e também do grupo da Universidade Federal Rural do Semiárido UFERSA. "Citando esses artigos, explicando como foram conduzidas e os resultados, estimulando assim, que os alunos valorizem a ciência e que continuem seus estudos”, explica.
Por fim, ao tocar no segundo tema, “Equidade de gênero, empreendedorismo e apicultura”, é necessário destacar que em um mercado onde a predominância é masculina, o projeto teve mais participantes mulheres, por isso é tão importante abordar a questão da equidade de gênero: “Esses temas foram bem trabalhados por meio de rodas de conversa com apicultores da região e pelo próprio protagonismo das alunas participantes do projeto" ressalta a Professora Rebeca Hennemann, também coordenadora do Realeira.
Em relação ao empreendedorismo, os jovens foram estimulados a valorizarem o mel oriundo da Caatinga e agregar valor a ele. Além disso, trouxemos uma egressa, que hoje é consultora do Sebrae, para ministrar um curso sobre sabonetes à base de produtos apícolas. Tratamos da diversificação da cadeia, por meio da produção de outros produtos da colmeia, como a própolis, por exemplo. Eles aprenderam a fazer o extrato de própolis” infere.
O projeto é mais um exemplo das ações da Universidade saindo dos campi e agindo diretamente na sociedade. Esses jovens tiveram a oportunidade de trabalhar a apicultura em suas comunidades e ainda em conjunto com seus familiares. José Erinaldo de Barros Costa, pai de uma das alunas participantes, deu seu depoimento: “Eu gostei bastante do projeto, achei importante por que a minha filha pôde aprender bastante coisa, me ajudou bastante durante todo o projeto e também me ensinou coisas novas”, conclui.
A professora Juliana sublinha que "À medida em que os participantes se apropriavam dos conceitos referentes à atividade apicola, o protagonismo desse grupo de jovens aumentava".
E assumindo esse protagonismo, os jovens, juntamente com as coordenadoras do projeto, organizaram o I Festival de Mel do Povoado São Francisco, reunindo Apicultores e Apicultoras, amigos e familiares. Dessa forma, os jovens orgulhosamente expuseram suas atividades realizadas ao longo do projeto que ao final culminou com a formatura de 4 novos apicultores e 11 novas apicultoras.
I Festival do Mel do Povoado São Francisco
Além disso, com o recurso foi distribuído 15 colméias e macacões apícolas como incentivo aos jovens para que se mantivessem na atividade.