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Laboratório de Osteoarqueologia da UFPI abriga a maior coleção de ossos arqueológicos do Nordeste

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Última atualização em Segunda, 29 de Julho de 2024, 08h47

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Laboratório de Osteoarqueologia da UFPI fica localizado no CCN 2

O Laboratório de Osteoarqueologia da Universidade Federal do Piauí (LOA/UFPI) foi fundado em 2020 e se destaca como um centro de pesquisa e estudo de ossos humanos e animais escavados de contextos arqueológicos. Além de explorar histórias e mistérios que atravessam séculos, os estudos comparativos e as pesquisas antropológicas desempenham um papel crucial na formação acadêmica de alunos de graduação e pós-graduação em Arqueologia, proporcionando experiências práticas que complementam o aprendizado teórico.

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Professora do curso de Arqueologia, Claudia Cunha

A existência do laboratório é essencial para a formação dos estudantes desses cursos, além de garantir que materiais arqueológicos, como ossos ancestrais, permaneçam no Piauí. Anteriormente, esse tipo de material era enviado para museus ou instituições no Sudeste do país e muitas vezes não retornava. A recente lei de retorno de material arqueológico determina que esses itens devem voltar para o estado de origem e para a comunidade, como ocorreu com o trabalho de escavação em Santiago do Iguape, na Bahia, organizado por Claudia Cunha, professora do curso de Arqueologia da UFPI e por Rosivânia Aquino (Totem Consultoria em Arqueologia).

"Essa lei é muito recente. Inclusive, a comunidade da Bahia conversou conosco, e eles estão decidindo entre construir um mausoléu na igreja local ou reenterrar os ossos em um novo cemitério. Ou seja, após os estudos, devolveremos os indivíduos às suas famílias. Nesse caso, a comunidade acompanhou a escavação; algumas pessoas trabalharam como ajudantes, e crianças visitaram o local. Nós os estudaremos e os devolveremos ao seu lugar de origem", afirma a professora.

Trabalho de Bioarqueologia

O papel da Bioarqueologia é recolher informações sobre a vida de indivíduos ancestrais, principalmente aqueles anônimos, que fizeram parte da população, ou seja, recuperar a história de vida de pessoas comuns. Toda a informação recolhida é organizada em uma ficha com características dos indivíduos como estatura, sexo, idade, e doenças que o indivíduo tinha, e entregue em forma de relatório para o arqueólogo coordenador da  escavação, assim como para o órgão fiscalizador.

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Laboratório abriga maior coleção do Nordeste

O trabalho que está sendo desenvolvido atualmente no laboratório tem como órgão fiscalizador o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). “Nossa fiscalização é feita pelo IPHAN, então uma cópia dessa documentação vai para eles. Como esse material foi escavado em outro estado, ele não pode ficar no Piauí, então veio com permissão para ser estudado e, por lei, será devolvido para a Bahia. Este material veio para cá porque eles não têm laboratório para esse tipo de estudo por lá”, destaca a professora Claudia Cunha.

Ainda sobre o material que está sendo limpo e analisado no laboratório por estudantes do e pesquisadores do LOA/UFPI, ela afirma que é do período Colonial. Apesar de fragmentado por conta das condições de preservação no local onde foram escavados, ainda assim é possível obter informações importantes sobre as pessoas que viveram na região de Santiago do Iguape no período: condições de saúde, estimativa de idade à morte em indivíduos não-adultos, hábitos alimentares e culturas que deixam marcas nos ossos, entre outros. “Uma das coisas que os dentes nos dizem é justamente a origem dessas pessoas, porque a forma dos dentes é controlada geneticamente. Observando 52 características de todos os dentes, conseguimos determinar a origem geogenética do indivíduo. Neste conjunto que temos, já sabemos que há pessoas de origem africana porque encontramos alguns dentes com modificação dentária intencional típica de tradições africanas. Algumas etnias africanas tinham o costume de modificar os dentes para criar desenhos, o que é uma questão religiosa e cultural. Além disso, esse conjunto de indivíduos foi escavado perto da Baía de Todos os Santos, no Recôncavo Baiano, local que historicamente ligado às origens africanas do povo brasileiro, em grande parte descendente de pessoas africanas escravizadas”, conclui.

A Arqueologia da UFPI também prepara os alunos para trabalharem com Bioarqueologia

A demanda por bioarqueólogos no mercado brasileiro atual é grande, e poucas instituições do país oferecem formação em Bioarqueologia devido à escassez de professores especializados. No entanto, os alunos da Universidade Federal do Piauí (UFPI) recebem formação para estudar e escavar ossos humanos. Em instituições onde não há professores da área, os alunos não recebem essa formação, o que destaca a importância da Bioarqueologia dentro da Arqueologia, uma área com poucos profissionais qualificados. Oferecer essa formação aos estudantes da UFPI é um diferencial significativo. As aulas das disciplinas específicas sobre remanescentes humanos estão abertas não apenas para os alunos do curso, mas também para técnicos forenses.

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Estudante da graduação em Arqueologia, Victor Bacelar

Victor Bacelar, estudante do terceiro período do curso, comenta sobre as vantagens da curadoria e limpeza de materiais arqueológicos serem realizadas por alunos. “A curadoria do material é fundamental tanto para o desenvolvimento acadêmico quanto para o profissional. Ter contato com o material e aprender as técnicas de limpeza é crucial. Nós acabamos aprofundando nosso conhecimento porque vemos na prática tudo o que estudamos em sala de aula”, afirma.

Parceria do Laboratório com o IML

O laboratório de Osteoarqueologia da UFPI trabalha atualmente em parceria com o Instituto Médico Legal (IML), analisando tanto materiais arqueológicos antigos quanto ossadas recentes. Essa parceria visa formar uma coleção de esqueletos para estudo por futuras gerações do curso. Essa coleção começou a ser montada em 2023, graças à colaboração com a Polícia Técnica.

A professora Claudia destaca que essa parceria traz benefícios mútuos tanto para o laboratório quanto para o Instituto. “O IML tem como função identificar pessoas cujas mortes ocorreram em condições não naturais. Muitas vezes, essas pessoas não são reclamadas por suas famílias, e o IML precisa liberar espaço para abrigar novas vítimas à espera de identificação. Assim, ossadas são cedidas para instituições de pesquisa e ensino. Esta é a primeira vez que se forma uma coleção de referência de esqueletos humanos para a Arqueologia no estado”, diz.

Um esqueleto humano recém-chegado ao laboratório está sendo utilizado como tema de conclusão de curso por uma das estudantes de Arqueologia. Enviado pelo IML, o DNA desse esqueleto já foi coletado para reconhecimento pela família, oferecendo uma oportunidade de estudo para os alunos do curso, focando na identificação de características em um indivíduo arqueológico. “O profissional que trabalha em Bioarqueologia deve ser capaz de identificar características em esqueletos completos ou fragmentados, que são o que geralmente recuperamos de sítios arqueológicos. O aluno deve aprender com esse tipo de material para depois aplicar o conhecimento em materiais arqueológicos mais antigos”, enfatiza a professora Claudia.

Ela acrescenta que a parceria com os órgãos de segurança visa ajudar na devolução da identidade dos esqueletos encontrados. “O ideal seria devolver a identidade, mas, caso não seja possível, esses esqueletos farão parte do acervo da universidade. Não realizamos análises destrutivas, pois, além de seres humanos com direito à dignidade, esses esqueletos são como livros, que estarão em uma espécie de biblioteca de esqueletos que estamos começando agora”, explica a Professora.

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Mestranda em Arqueologia, Fernanda Lívia Batista da Costa

Para Fernanda Lívia Batista da Costa, mestranda em Arqueologia, a parceria do LOAF/UFPI com o IML/THE é uma oportunidade de iniciar a montagem de uma coleção de referência e uma osteoteca. “A parceria é de grande importância para o curso de Arqueologia, possibilitando aos graduandos e pesquisadores em Bioarqueologia o contato com material real em 3D, algo que os manuais de Osteologia não oferecem. Embora eu pesquise ossos arqueológicos, participar da curadoria desses indivíduos doados pelo IML foi uma experiência ímpar. Trabalhamos com o Laboratório de Osteologia Forense da UFPE, coordenado pela professora Renata Campina, que nos forneceu protocolos de curadoria. Fizemos as adaptações necessárias ao nosso espaço e ao tipo de ossos que recebemos, ainda com a presença de tecidos moles e vestígios de decomposição”, afirma.

“O resultado é que alunos da graduação e do mestrado agora têm acesso a esses ossos nas aulas práticas de Bioarqueologia, o que é um diferencial em suas formações, considerando a escassez de arqueólogos no Brasil especializados em contextos com ossos humanos. Nosso objetivo no LOA é nos tornarmos um laboratório de referência nesse tipo de pesquisa”, declara Fernanda Lívia.

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Laboratório consiste em importante centro de pesquisa e estudo de ossos no contexto arqueológico

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