Ela chama a atenção pela sua vitalidade, carisma, bom humor, ousadia, vivência e independência. Entrevistar a jornalista, bibliotecária, professora e escritora Maria das Graças Targino proporciona a sensação de uma conversa com uma amiga. Um diálogo descontraído, franco e envolvente, que aos poucos vai revelando sua história de vida e trajetória profissional. Como ela diz, "Sou uma pessoa que tem compulsão em ser autêntica. Muitas pessoas têm medo de demonstrar afeto ou o que verdadeiramente é, mas eu não", iniciou.
Graça Targino nasceu em João Pessoa, capital do estado da Paraíba. De uma família de quatro irmãos, é a terceira filha do casal Maria e Pedro Targino. "Minha mãe era professora do primário e era muito rígida. Meu pai é jornalista sem diploma. Ele é autodidata e nunca entrou em uma escola. Fez muitas coisas na vida: foi jornaleiro, poeta e chegou a escrever discursos para alguns políticos da Paraíba. Tenho muito orgulho dele", contou Graça ao explicar que seu diploma de Jornalismo, conquistado em 2006, foi dedicado carinhosamente ao pai.
Graça mostra a foto do pai, sua inspiração para fazer o curso de jornalismo
Casou duas vezes. A primeira aos 20 anos de idade. E foi para acompanhar o marido, em compromisso profissional, que Graça veio morar no Piauí, na cidade de Piripiri, onde viveu por dois anos. Com o segundo marido, foi casada durante 20 anos e teve um casal de filhos: a engenheira eletricista Ana Carla e o engenheiro agrônomo Carlos Júnior, que moram, respectivamente, em São Luiz (MA) e Marabá (PA).
Apesar da distância física, Graça mantém contato quase que diários com os filhos, por telefone e e-mail. "Há uma relação de interdependência muito amorosa e de muito respeito", explica.
Formada em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Pernambuco, foi uma das primeiras profissionais concursadas da Universidade Federal do Piauí, quando em 1972 iniciou na sua carreira como professora da Instituição.
Como a maioria das mulheres a frente do seu tempo, Graça Targino enfrentou desafios. Entre eles, cita a separação de seu primeiro marido, em 1976. "Na época foi uma loucura. Quase que eu saia da universidade, pois não se falava em outra coisa. Imagina o que era se separar naquele tempo? Eu, sozinha, sem minha família por perto, foi difícil", revela.
Mas não perdeu a graça e seguiu em frente. "Passei por cima de tudo e de todas as dificuldades. Nunca dependi de homem nenhum. É uma questão de integridade. Se eu tinha força e disposição para trabalhar, por que ia depender de homem?", frisou. E em tom de humor, finalizou a questão: "Se eu fosse homem, deixaria de trabalhar só para não dar dinheiro mole para mulher!".
A busca incessante por conhecimento resulta em uma vida acadêmica dinâmica. Possui três especializações, mestrado, doutorado e pós-doutorado realizado na Universidade de Salamanca, na Espanha.
Entre as várias publicações, têm cinco livros de autoria própria. Entre as obras, destaca-se "Jornalismo cidadão: informa ou deforma?", lançado e premiado em 2009 pelo The Information for All Programme da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Atualmente é aposentada pela UFPI, após trabalhar por mais de 25 anos, mas atua na Instituição como professora do quadro do mestrado em Comunicação. Também exerce a docência como colaboradora da pós-graduação em Ciência da Informação da UFPB.
Na bagagem e nas lembranças traz experiências vividas em viagens pelos cinco continentes. Em cada cantinho da casa de Graça Targino é possível ver recordações dos mais de 40 países que conhece. Mas a saudade de Teresina e o amor pela cidade, sempre a fazem voltar. "Minha história está aqui. Eu amo Teresina. Quando eu viajo morro de saudades, e quero voltar", enfatizou.
O respeito pelo outro e a doação fazem de Graça uma colecionadora de amigos. Religiosa, brinca ao dizer que, "Às vezes, visitar um amigo vale por uma missa".
Graça é uma mulher que surpreende pela versatilidade. Fez aulas de teatro e chegou a atuar no filme "Entre o Amor e a Razão", escrito e dirigido pelo cineasta maranhense Cícero Filho, lançado em 2006. Em sua sala de estar há tapetes tecidos por ela. E em seu corpo traz tatuado nove borboletas, símbolo da liberdade.
No modo de agir, de se vestir e até de falar Graça acabou por criar um estilo próprio. Repreendida uma vez pela filha por estar usando macacão, Graça reagiu: "Em qual legislação brasileira diz que não se pode usar macacão na minha idade? Hein?"
Graça segue com a vitalidade que lhe é característica. De onde vem tanta energia? Fazer o que ama: dar aula e escrever. Segundo ela, esse é seu segredo de longevidade. "Ser professora é a coisa mais importante da minha vida. Sou professora por vocação. A sala de aula é meu palco. Quando eu era pequena, a minha brincadeira preferida era de escolinha, eu sempre era a professora", ressaltou.
A trajetória de Graça Targino é marcada pela busca incessante por conhecimento e qualificação, além do seu esforço e dedicação em contribuir com a sociedade e o aprendizado de seus alunos. "Penso que nasci ‘velha', desde criança, tive uma consciência social muito arraigada e peculiar. Nunca mantive qualquer tipo de conhecimento como ‘redoma'. Em sentido contrário, sempre achei ‘obrigação' compartilhar o muito pouco que tenho em termos de informação e conhecimento com meus ‘meninos'", explicou.
No livro "Palavra de honra: palavra de graça", publicado em 2008 e de sua autoria, Graça descreve seu encantamento e amor pela docência. "Amo ser professora: se vida houver além desta, e se Deus me atender, serei, mais uma vez, professora, mãe, amante e algumas coisinhas mais. Diga-me: quem tem a sorte que temos de aprender com eles a cada dia? Quantos são os felizardos? Aprender formas de comportamentos singulares. Aprender as "palavras de ordem" em voga. Aprender e reaprender a viver a cada dia. Há maravilha maior do que esta? Verdade que nem tudo são sempre flores! Por exemplo, nós passamos na vida deles e nos tornamos meras lembranças. Mas são essas lembranças fugidias, os abraços inesperados que nos fazem ir em frente, ou não?"
Simplicidade, humildade e carisma são marcas que pulsam ainda que no primeiro contato com Graça Targino. Cuidar não apenas do corpo, mas principalmente da alma, permitir-se experimentar, errar, ousar, aprender e viver. A vida parece sempre estar começando para ela. "O meu tempo é agora. Porque estou viva!", finalizou cheia de graça.