Ir direto para menu de acessibilidade.
Página inicial > Últimas Notícias - UFPI > Projetos da UFPI estudam sustentabilidade ambiental de processos e produtos na perspectiva do ciclo de vida
Início do conteúdo da página

Projetos da UFPI estudam sustentabilidade ambiental de processos e produtos na perspectiva do ciclo de vida

Imprimir
Última atualização em Sexta, 10 de Junho de 2022, 11h45

A sustentabilidade é o processo que permite o desenvolvimento econômico aliado à conservação do meio ambiente. Essa definição considera, além do ambientalmente correto, o economicamente viável e o socialmente justo. A partir dessa ideia, a professora Elaine Aparecida da Silva, Coordenadora Local do Doutorado em Desenvolvimento em Meio Ambiente – REDE, curso que integra oito Instituições de Ensino Superior da região Nordeste, desenvolve, desde 2019, dois projetos de pesquisa que abordam a Gestão do Ciclo de Vida.

A Gestão do Ciclo de Vida está associada à avaliação ambiental, social e econômica de produtos, processos e serviços e é executada por meio de ferramentas específicas. No caso da avaliação ambiental, a ferramenta utilizada é a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) que permite identificar os estágios do ciclo de vida de um produto, por exemplo, em que os impactos são mais significativos e, por esse motivo, devem ser mitigados.

WhatsApp_Image_2022-06-09_at_13.04.46.jpeg

Galpão de uma das concreteiras visitadas para a realização do projeto de estudo

O primeiro projeto, “Gestão do Ciclo de Vida: possibilidades e incertezas nas atividades que demandam brita”, conta com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e propõe a aplicação da ACV para avaliação ambiental de processos e produtos que envolvem a utilização da brita, obtida a partir da mineração do diabásio. 

“Levamos em consideração vários estágios do ciclo de vida do produto: extração de matéria-prima, transporte, processamento na indústria e uso. Dependendo do produto, avaliamos também as formas de destinação e disposição final, como reciclagem e aterro sanitário. A partir dos resultados, apresentamos indicações para que o processo produtivo e os produtos sejam mais sustentáveis ambientalmente”, afirmou Elaine Aparecida.

O foco do estudo aconteceu em indústrias sediadas em Teresina-PI que fabricam concreto e postes a partir da brita. A ferramenta utilizada possibilita, ainda, a identificação dos hotspots, estágios do ciclo de vida do produto em que as intervenções têm maior relevância em virtude dos impactos negativos serem mais significativos. Desse modo, as intervenções indicadas para amenizar o impacto ambiental são mais pontuais. Isso é importante, também, para evitar o chamado greenwashing, situação em que organizações desenvolvem as suas práticas ambientais em contextos em que não há efetividade e, ainda assim, utilizam isso como estratégia de marketing para atrair o consumidor. 

De acordo com a pesquisadora, uma vez que os impactos mais significativos se concentram na produção do cimento e da sílica ativa, as alternativas são a substituição da sílica ativa por cinzas de bagaço de cana-de-açúcar e a redução do teor de cimento na mistura do concreto. Contudo, essas modificações precisam ser realizadas levando em consideração as exigências técnicas dos produtos em que essas matérias serão aplicadas, pois a melhoria do desempenho ambiental não deve substituir o menor desempenho do produto e, muito menos, o não atendimento das exigências técnicas associadas ao mesmo. “Fizemos também as seguintes indicações para as indústrias pesquisadas: adquirir um triturador para reciclagem e reaproveitamento de resíduos sólidos, a fim de diminuir a sua incidência e optar por produtos cimentícios em substituição à sílica ativa e que possam ser utilizados para diminuir o teor de cimento no traço do concreto”, ressaltou.

Outro ponto indicado para redução do impacto ambiental diz respeito à escolha dos fornecedores de matéria-prima por parte das indústrias avaliadas. Quanto menor a distância do fornecedor para a indústria em que as matérias-primas serão processadas, menor o consumo de combustíveis fósseis e, consequentemente, a emissão de gases do efeito estufa.

O projeto já rendeu publicações em eventos e periódicos científicos nacionais e internacionais com a participação de estudantes da iniciação científica e aluna de doutorado que já é egressa e continua como colaboradora no projeto. A professora Elaine enfatiza a relevância do envolvimento dos estudantes/formação de recursos humanos.

Entre os colaboradores do estudo, está o estudante de iniciação científica do Curso de Engenharia Civil da UFPI, Ismar Júnior. Ele atua na pesquisa científica “Impactos e perspectivas para a sustentabilidade ambiental de estruturas pré-fabricadas de concreto”. A proposta do trabalho é avaliar os impactos ambientais de produtos pré-moldados de concreto (pilares, estacas, cocho, tampas e tubos) por meio da avaliação do ciclo de vida.

Ainda de acordo com o estudante, foi possível identificar os potenciais impactos ambientais e conhecer os processos mais críticos do ciclo de vida de produtos pré-moldados de concreto. “Os dados obtidos possibilitaram a construção de um roteiro para direcionar as indústrias desse setor a um patamar de sustentabilidade, no qual os resíduos não sejam mais considerados desperdícios e que haja a promoção de iniciativas visando a economia de recursos como energia e água”, destacou. 

Para Ismar, a participação de graduandos em pesquisas científicas representa uma oportunidade ímpar para o aluno ser introduzido ao mundo da produção científica. “É fundamental ressaltar a relacão do professor orientador no estabelecimento de uma boa conexão entre o recurso humano com a pesquisa desenvolvida. Assim, com a supervisão da professora Elaine, consegui me familiarizar mais rapidamente com as técnicas, ferramentas e formas de abordagem para obtenção dos dados, além de experimentar diferentes maneiras de pensar e de externalizar o conhecimento que a cada dia estava construindo ao longo do projeto”, comentou.

Sustentabilidade em produtos de higiene menstrual

O segundo projeto em curso é “Gestão Ambiental de produtos, processos e serviços”, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Piauí - FAPEPI. 

Conforme relata a professora Elaine, o projeto também é vinculado às suas orientações na graduação, mestrado e doutorado. Nesse caso, o projeto é mais abrangente, pois envolve diversos tipos de processos e produtos, como exemplo: pavimento asfáltico, tintas e produtos de higiene menstrual. Sobre esses últimos, desenvolvido por mestre egressa do programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, verificou-se que os absorventes tiveram impactos expressivamente negativos nos parâmetros físico/químico e biológico/ecológico, principalmente, por sua matéria-prima de plástico, advinda da extração do petróleo, que não é facilmente biodegradável. 

“O coletor menstrual se mostrou como uma alternativa interessante por ser reutilizável e não demandar a compra de novos itens a cada ciclo menstrual, por consequência, reduz a produção de rejeitos; porém, ainda é avaliado com impactos negativos quanto ao preço de investimento inicial, necessidade de água para a sua higienização adequada, além de existir barreiras associados ao seu uso por questões culturais, por conta da sua inserção vaginal”, pontuou a professora Elaine.

Por último, a pesquisadora reflexe os desafios de estudos voltados ao meio ambiente. “Por exemplo, no ambiente empresarial, há resistência para o fornecimento de dados em razão da cultura local. Apenas quando o benefício econômico está explícito é que há voluntariedade na incorporação de medidas que tenham resultados ambientais e sociais positivos”, finalizou.

Fim do conteúdo da página