Professor Nilson Rodrigues, um dos fundadores do Departamento de Computação, fala da paixão por ensinar

Quem passasse próximo às salas de aula do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Piauí poderia ouvir a voz do professor Francisco Nilson Rodrigues dos Santos explicando os conteúdos de matemática. “Eu falava alto, atrapalhava até a sala vizinha”, recorda. O tom de voz revelava o amor e o entusiasmo que o professor tem pela área e pela carreira que escolheu. “Eu gosto de dar aula, eu nasci para dar aula”. 

Professor Francisco Nilson Rodrigues dos Santos

A afinidade com a disciplina surgiu por um desafio. O professor Nilson fez as séries iniciais do antigo ginásio em São Pedro do Piauí, sua cidade natal, e veio para Teresina dar continuidade aos estudos. Foi matriculado no Ginásio Popular de Teresina na última série do ginásio e teve dificuldade com a disciplina de matemática, tirou nota dois nas duas primeiras avaliações.

O conselho do professor da disciplina foi certeiro: ou você estuda ou será reprovado. O professor Nilson pediu ao pai para fazer uma lousa escolar e comprar giz, ali começava sua rotina de estudo que o levou a melhorar as notas e se tornar o melhor da turma. “No segundo semestre, eu passei a ser o monitor, resolvia todos os exercícios de matemática. A partir daí, eu me interessei por matemática”.

Em 1971, o professor ingressou no curso de matemática da UFPI, ele foi aprovado em 4º lugar e integrou a segunda turma do curso na Instituição recém-formada. O curso foi concluído em 1974 e um ano depois ele retornava como professor efetivo da Instituição, aos 22 anos de idade. “É fantástico isso, na mesma Instituição que me formei, eu passei a lecionar. É agradabilíssimo”.

Professor Nilson concluiu o curso de Matemática na UFPI em 1974

Alunos notáveis – Titular da disciplina de cálculo numérico durante muitos anos, o professor ministrou aulas para os alunos de matemática, computação e das engenharias. Especialista em números, ele recorda que 80% dos professores de matemática e 60% dos professores de computação da UFPI foram seus alunos.

Dentre eles, estão o atual reitor da UFPI, professor Gildásio Guedes; ex-reitor e atual pró-reitor de pesquisa e inovação, professor Luiz de Sousa Santos Júnior, professor João Xavier Cruz Neto e Barnabé Pessoa Lima. “Temos prazer em ter sido professor de muitos professores que hoje são doutores. Esse prazer significa que plantei uma sementinha para que eles possam hoje estar frutificando. Hoje, eles estão prestando muitos serviços à Universidade, são excelentes. A minha alegria é ver que eles cresceram”.

Crescimento da UFPI – Quando ingressou como aluno, a UFPI estava recém-formada e ele pode vivenciar o crescimento da Instituição como aluno e depois como professor. Ele é um dos fundadores do Departamento de Computação (1989), um dos primeiros membros da Associação dos Docentes da UFPI e um dos primeiros participantes do Sindicato dos Trabalhadores da UFPI.

O professor recorda as dificuldades dos primeiros anos da Instituição, como a falta de estrutura e de acesso a transporte, o que não comprometia a qualidade do curso de matemática. “Hoje, a UFPI é reconhecida e respeitada no Brasil todo. Tem o ensino muito bom, tanto que a concorrência para a UFPI é muito grande, em todos os cursos”.  

Aposentadoria – Com 46 anos de sala de aula, o professor Nilson se aposentou ano passado. Em mais de quatro décadas de trabalho, ele nunca recebeu reclamações de colegas professores e técnico-administrativos ou de alunos.

Professor dedicado, ele não quer ficar parado e tem planos de continuar dando aulas em outros lugares. Essa dedicação despertou um sucessor na família, um dos filhos é professor de computação no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí, onde Nilson também foi professor.   

Nesse tempo de UFPI, o professor já assumiu a chefia do Departamento de Computação, coordenação do curso de computação e foi membro do Conselho Departamental, representando o Departamento de Computação.

Mensagem – Aos colegas professores que estão chegando, Nilson deixa uma mensagem de amor à matemática e aos alunos. “Transmitam aos seus alunos uma mensagem serena de conhecimento e de muito futuro, mostrando aos alunos qual é o objetivo daquela disciplina que ele está ministrando, qual é o futuro dos alunos e qual o caminho que  devem seguir. Procurar orientar e não só jogar a disciplina para eles. Desejo um excelente trabalho a todos, que trabalhem com amor e dedicação, como todos já fazem”.

Perguntado como gostaria de ser lembrado, o professor diz que é pela simplicidade e pelo que transmitiu aos alunos. “Eu falo com meus alunos quando me encontrarem na rua: deem um bom dia e uma boa tarde, porque isso é bom, já fui professor de vocês. Eu gostaria de ser lembrado assim: professor, muito bem, eu gostei de ter sido seu aluno. Significa que eu transmiti alguma coisa para ele, um reconhecimento daquilo que eu fiz, ser lembrado assim rejuvenesce”, finaliza.