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8 de Março: primeira cientista da UFPI filiada à Academia Brasileira de Ciências é destaque em área com predominância masculina

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Última atualização em Segunda, 08 de Março de 2021, 17h03

São 24.001 mulheres entre estudantes, técnico-administrativas e docentes na Universidade Federal do Piauí (UFPI). Elas ocupam diferentes espaços e são essenciais para o bom andamento da Instituição. Neste 08 de março, Dia Internacional da Mulher, a Instituição presta homenagem e reconhecimento a todas as mulheres que fazem da UFPI uma instituição com mais qualidade e reconhecimento.

Diante de muitas histórias de pioneirismo e superação, iremos conhecer um pouco da docente Fernanda Roberta Marciano, do Departamento de Física, primeira pesquisadora da UFPI eleita afiliada da Academia Brasileira de Ciências. O anúncio foi feito em dezembro de 2020 e a professora recebeu a notícia com gratidão. "Estou extremamente agradecida pela indicação e é uma grande honra poder representar a UFPI na ABC!", declarou.

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Pesquisadora da UFPI Fernanda Marciano

A professora é graduada em Engenharia Biomédica pela Universidade do Vale do Paraíba (Univap), tem mestrado em Ciência e Tecnologia de Materiais pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e doutorado em Física e Química de Materiais pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Possui experiência didático-científica na área de física, engenharia de materiais e biomédica, em particular na subárea de nanobiomaterias e materiais biocompatíveis.

Escolha profissional

Teve uma época que Fernanda Roberta Marciano queria ser médica. “Eu tenho um irmão que tem síndrome de Down, eu fiquei um pouco impactada com isso e queria fazer medicina, porque achava que ia conseguir salvar o mundo”. A mãe apoiou a escolha, mas na época do vestibular, questionou se era isso mesmo o que ela queria, já que a filha tinha mais interesse nas olimpíadas de física e matemática e não demonstrava gostar de biologia, uma das disciplinas básicas para medicina.

Foi então que ela decidiu fazer o vestibular para ciência da computação. A mãe foi quem falou de engenharia biomédica, após pesquisa sobre o curso, ela decidiu fazer vestibular para os dois. Passou em ambos e optou por engenharia biomédica. E aqui começa a sua contribuição para salvar o mundo: um mundo que ainda divide as profissões entre aquelas que são para homens e as que são para mulheres, sendo um mundo injusto com elas, já que exige, para que tenham êxito, que optem entre carreira e família ou sejam sobrecarregadas se decidirem pelos dois.

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A escolha de Fernanda mostra que é possível ter sucesso numa área marcadamente masculina. Durante o mestrado INPE e o doutorado no ITA estudou em turmas com predominância de homens. A escolha foi de não de se ver como diferente e quando ouvia alguma piada por ser mulher, ela devolvia no mesmo tom. “Nunca tive problema por ser mulher em nenhuma das instituições. A maioria das pessoas que estudaram comigo sempre foram homens, mesmo nos laboratórios eram muitos homens que trabalhavam”, lembra.

A realidade não mudou muito e ainda é pequeno o número de mulheres na área de exatas. É o que ela constata enquanto docente no curso de física da UFPI. Para ela, já existe um preconceito de que os cursos de física e matemática são difíceis e para as meninas ainda mais. “Quando elas chegam na graduação, tem uma série de fatores. Dei aula para uma menina que tinha um filho pequeno e já havia parado o curso duas vezes, quando estava grávida e quando o filho adoeceu. Ela sempre com muita dificuldade, saia mais cedo e chegava atrasada, mas fazia tudo (da disciplina). Eu disse para ela: “tenho muito orgulho de você, você vai se formar e terei mais orgulho”. Eu via o quanto ela era esforçada. Tomara que se forme logo”.

Mais mulheres na área de exatas

Para avançar na mudança dessa realidade, Fernanda acredita que é necessária uma intervenção ainda na infância e isso passa pela escola. A professora defende que professores formados em física, por exemplo, lecionem a disciplina nas escolas como forma de aprofundar o conteúdo e gerar mais encantamento. “Se você pegar as crianças lá atrás, desde os pequeninhos, e for explicando da mesma forma para meninos e meninas, não apresentando com preconceito: “olha, isso é difícil”, “menina não faz isso”, você acaba reduzindo isso (as diferenças)”.

A professora também destaca a necessidade de uma rede de apoio para as mulheres, já que há uma sobrecarga para elas. Uma forma de contribuir com a mudança são ações como as do projeto Parent in Science, que tem o intuito de levantar discussões sobre maternidade e paternidade dentro do universo da ciência do Brasil. Fernanda é embaixadora do projeto no Piauí. Mãe de um menino de 4 anos e de uma menina de 2 anos, ela sabe as dificuldades que as mães acadêmicas enfrentam e decidiu entrar no grupo para contribuir. “Mais para fazer a divulgação e tentar fazer alguma coisa que diminua essa discrepância absurda entre a renda do homem e da mulher”. Uma das ações do projeto é o apoio para as alunas mães em fase final dos cursos de pós-graduação, através de auxílio financeiro estabelecido pelo programa.

Mensagem para a filha

Os pais de Fernanda foram inspiração para sua escolha profissional. A mãe foi professora de matemática e o pai químico industrial, os dois estão aposentados. Ela lembra que o pai sempre trazia alguma novidade do trabalho, o que acabou despertando o desejo de entender o funcionamento das coisas. “Isso acabou despertando no sentido de ver coisas novas e pensar: “olha isso estica mais”, “essa bolinha quica e bate no teto”. Era tudo experimental, mas para a criança era tudo novo, diferente”, recorda.

Para a filha de dois anos, ela deseja sabedoria e que aproveite as oportunidades como ela fez. “Espero que ela faça o que quiser. A gente faz o que acha que é o melhor, mas nem sempre temos razão. Nosso papel é dar o básico e a pessoa que tenha o discernimento de pegar tudo isso e montar. Eu acho ela muito esperta e espero que saiba aproveitar as oportunidades que ela tem e seja feliz na vida que escolher”, finaliza.

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