Documentário sobre transmasculinidade, produzido na UFPI, é selecionado para Festival de Cinema no Paraná

O documentário “Felicidade no olhar transbordou”, produzido por alunos e pesquisadores ligados ao Núcleo de Pesquisa sobre Crianças, Adolescentes e Jovens (NUPEC/UFPI), foi selecionado para exibição no 8° FestCine - Festival de Cinema “Curta Pinhais”. O evento ocorre de 23 a 30 de abril e é promovido pela Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer de Pinhais no estado do Paraná. Com exibição marcada para 28 de abril, o filme concorre a melhor documentário na disputa com 23 trabalhos de todo o Brasil. A cerimônia de premiação será dia 25 de abril, às 19h.  

                                  Cena do documentário em que aparece Daniel Valente, aluno de Ciências Sociais da UFPI

No filme, são compartilhadas histórias de vida, de construção da masculinidade trans e das dificuldades enfrentadas por três jovens para conviver e serem aceitos em espaços como escolas e na Universidade. A produção é fruto de atividades de projetos de pesquisa e extensão realizados por alunos de graduação de diversos cursos e de pós-graduação em Sociologia, supervisionados por professores do NUPEC.

  Coordenadora do NUPEC ( esquerda) e parte da equipe que produziu o documentário

Com 16 minutos de duração, e filmado em Teresina, o documentário levou cerca de seis meses entre produção, filmagem e finalização, até sua conclusão neste ano de 2020. Totalmente colaborativo, foram os próprios estudantes e professores ligado ao Núcleo que se reuniram para viabilizar a produção do material, incluindo a necessidade de recorrer a empréstimos de equipamentos para tocar a produção.

Diretor do documentário, Oliver ( Oliveira Júnior), aluno de mestrado em Sociologia na UFPI explica a proposta do trabalho. “A ideia foi trabalhar a questão das transmasculinidade a partir do discurso dos próprios sujeitos. Fomos atrás dos personagens, tivemos primeiros contatos e instigamos a construção dessa masculinidade do homem trans. São três personagens: dois alunos da UFPI, Armando e Daniel, e um aluno secundarista, Gael Victor”.

                               Armando Angelim, um dos participantes do documentário - Foto arquivo pessoal

Armando Angelim, de 27 anos, aluno do Curso de Serviço Social da UFPI, é um dos sujeitos que dividem suas vivências e desafios como homem trans no documentário. “Participar do documentário me fez colocar pra fora algumas coisas que me incomodam dentro da Universidade enquanto pessoa trans. A gente estuda aqui, mas não se sente acolhido. Há também inúmeras burocracias e conflitos que sofremos aqui dentro”, opina. “O documentário é uma oportunidade encantadora de a gente apontar para as pessoas que não conhecem sobre a causa situações que elas têm que entender, trabalhar e evoluir a respeito”.

Aurora Viana, estudante de Jornalismo, participou da produção do documentário

Para a estudante de Jornalismo da UFPI, Aurora Viana, que também participou da produção, amplificar o debate sobre como se sentem homens trans em espaços como a Universidade foi uma das missões do filme. “Acho que um dos diferencias do nosso documentário foi ter contado muito bem as dificuldades que os meninos têm para estar no ambiente universitário e estudantil como um todo. Mostrou as questões psicológicas e os processos de burocracias como um todo nesses ambientes. Retratou de forma sincera e deu um espaço para os meninos serem mais ouvidos, porque mesmo na Universidade, um ambiente de desconstrução, ainda se enfrenta preconceito muito grande”.

Coordenadora do NUPEC, a professora Lila Cristina Luz, destaca que a importância do protagonismo juvenil na realização do documentário, a exemplo de outros projetos desenvolvidos no Núcleo, são o melhor incentivo para produzir novos olhares a temas caros aos jovens dentro e fora das universidades.

Coordenadora do NUPEC, a professora Lila Cristina Luz

“O que a gente observa no documentário é algo que preservamos e incentivamos no Núcleo desde sua fundação em 1992: a autonomia juvenil nos processos de construção. Eles têm tido, dentro dessa inserção, a liberdade de apresentar projetos e a gente vai incorporando e eles vão construindo. Isso fez com que o documentário tivesse a cara deles. Mostra também como é importante a gente apostar na potencialidade juvenil”, avalia.

                                                       Marvin Wallace, da equipe de produção do documentário

Para Marvin Wallace, homem trans, aluno de Filosofia da UFPI, que também compôs a equipe de produção do filme, a produção, como o próprio título faz supor, transbordou muita verdade. “Foram depoimentos muito sinceros, e os relatos dos meninos foram muito fortes, uma vivência particular de cada um, diferente da minha como homem trans. E quando a gente fala de transexualidade existe muito cientista, antropólogo, muita gente falando, mas pouco existe a própria voz do homem trans. E você escutar dos meninos falando da vida deles doi mundo, permite que a gente sinta como eles se sentem”.

Sobre o FESTCINE – O evento tem a proposta de estimular o desenvolvimento do mercado de cinematografia para amadores que atuam na área e dar visibilidade a produções independentes, além de abrir espaço para novos talentos e promover o intercâmbio entre artistas, produtores, diretores, distribuidores, público e entidades culturais. Reúne produções profissionais e amadoras da área do cinema, em apresentações de curtas e longas metragens de qualquer gênero (ficção, documentário, animação, drama, comédia, musical, épicos, adulto, infantil) e outras técnicas cinematográficas alternativas, além de Clipes Musicais.

Após a exibição no Festival, o documentário estará liberado pra acesso ao público.

Confira teaser do filme:

Ficha Técnica do Filme: