Departamento de Morfologia realiza Solenidade de Homenagem ao Cadáver Desconhecido

Ao curvar-te com a lâmina rija de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te de que este corpo nasceu do amor de duas almas; cresceu embalado pela fé e esperança daquela que, em seu seio, o agasalhou, sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens; por certo amou e foi amado e sentiu saudades dos outros que partiram, acalentou um amanhã feliz e agora jaz na fria lousa, sem que, por ele, se tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que tivesse uma só prece. Seu nome só Deus o sabe, mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza  de servir  a humanidade que por ele passou indiferente (Oração ao Cadáver Desconhecido, Karel Rabistansky, 1976).

 homenagem ao cadaver-52.jpg

Entre uma apresentação, uma música ou entre um poema e outro, professores, alunos, técnicos-administrativos e terceirizados que compõem o Departamento de Morfologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI) realizaram pausas para refletir, relembrar momentos e demostrar gratidão, admiração, respeito e agradecimento ao corpo biológico e sua contribuição como instrumento fundamental para conhecimento, durante a Celebração em Homenagem ao Cadáver Desconhecido e Missa de Ação de Graças realizada na manhã desta sexta-feira (29), no Laboratório de Anatomia Humana da Universidade Federal do Piauí.

homenagem ao cadaver-28.jpg

Profa. Dra. Nadir do Nascimento Nogueira e docentes do Departamento de Morfologia 

O evento contou com a participação da Vice-Reitora da UFPI, Profa. Dra. Nadir do Nascimento Nogueira; da Vice-Diretora do Centro de Ciências da Saúde, Profa. Dra. Carla Maria de Carvalho Leite; da Chefe do Departamento de Morfologia, Profa. Dra. Maíra Soares; do coordenador das disciplinas de Anatomia Humana, Prof. Me. Anselmo Alves Lustosa; da Profa. Dra. Selma Maria Moura; da Profa. Dra. Eunice Anita de Moura Fortes, alunos, técnicos-administrativos e terceirizados.

homenagem ao cadaver-16.jpg

Arislla Lopes de Assunção e as colegas do Curso de Enfermagem durante a celebração do Cadáver Desconhecido

“Acho importante a questão do estudo com o corpo”, afirmou a estudante do 1º período Curso de Enfermagem, Arislla Lopes de Assunção. “Isso aumenta ainda mais o nosso conhecimento, pois é muito diferente uma peça artificial de uma peça natural, então com certeza, contribui muito para o nosso conhecimento e ajudará a gente futuramente como profissional. Eles são de extrema importância para nossa aprendizagem e profissão”, disse.

homenagem ao cadaver-31.jpg

Jordana Karine dos Santos Alcântara, aluna do Curso de Nutrição

A estudante do primeiro período do Curso de Nutrição, Jordana Karine dos Santos Alcântara, achou que teria dificuldade em lidar com o corpo de um desconhecido durante as aulas práticas. “Eu achei que ia ficar com medo, pois sou uma pessoa muito sensível, nunca gostei de velório, lidar com a morte, mas quando cheguei à Universidade já foi diferente, foi mais tranquilo. Não senti tristeza, achei natural”, explica.

homenagem ao cadaver-8.jpg

Jordana Karine dos Santos durante apresentação na Cerimônia

Além disso, Jordana Karine participou da celebração realizando a apresentação musical “Exequias” de Pe. Zezinho e uma “Oração do cadáver” e refletiu sobre a importância de fazer parte do evento. "É a primeira vez que participo e sempre vi na internet e na Universidade que acontece essa homenagem. É muito importante que as pessoas reconheçam quem é o cadáver desconhecido, tanto por ele ter sido alguém na vida, como também, por ele ser um instrumento de estudo para todos os alunos da área da saúde. Então, me senti na obrigação de participar e fazer alguma homenagem”.

homenagem ao cadaver-33.jpg

Flora Nina Silva Arrais estudante do último período do Curso de Ciências Sociais 

Flora Nina Silva Arrais, estudante do último período do Curso de Ciências Sociais, explica que descobriu a Celebração do Cadáver Desconhecido por meio das redes sociais da UFPI e isso a instigou a compreender as práticas de ritos de passagem, humanização de corpos e refletir a nossa relação com a morte e com os corpos que desconhecemos. “Eu já acompanho a missa desde 2017. Em 2018 eu participei da celebração com o intuito de fazer uma análise a partir do que eu estudo que é: Antropologia, Sociologia e Ciências Políticas e a relação humana, principalmente, voltado para questão da temática da morte”.

Segundo a estudante, que está produzindo seu trabalho de conclusão de curso voltado para temática do cadáver desconhecido, o momento é uma das maneiras de se lidar com o morto, com o corpo. “Escolhi a missa em homenagem ao cadáver desconhecido como objeto do meu TCC, também por conta de resgatar um pouco da história, uma vez que é tradição daqui UFPI e não tem nenhum trabalho desenvolvido sobre o evento. Acho importante esse tipo de evento ter visibilidade até dentro da própria instituição, para entendermos mais como são os ritos de passagem e a humanização de corpos que tendem a ser objetificados. Esse cadáver está passando por uma transição, ele ainda assim, morto, como um corpo, terá uma função na sociedade que é educar, ele vira um “professor” e os alunos vão aprender a partir dele. Então essa extensão da vida dele é que eu estou pesquisando”, explica.

homenagem ao cadaver-18.jpg

Profa. Dra. Carla Maria de Carvalho Leite, Vice-Diretora do CCS

A professora do Departamento de Morfologia e Vice-Diretora do CCS, Dra. Carla Maria de Carvalho Leite, fala do significado do cadáver desconhecido para a aprendizagem na área da Saúde. "Estudar o corpo humano no livro nos traz um estudo sistemático dos órgãos, com seus respectivos sistemas, porém no cadáver, você vai ter uma vivência muito maior, muito mais lógica, pois você vai observar in loco o que a anatomia propõe, que são as relações anatômicas dos órgãos, a morfologia, os aspectos anatômicos como um todo. Então, toda aquela vivência, todo aquele conhecimento teórico que você está visualizando no cadáver fica muito mais completo”.

homenagem ao cadaver-25.jpg

Vice-Reitora da UFPI participou da celebração

“Cada celebração que eu participo é única. Cada vez que acontece a homenagem ao Cadáver Desconhecido é uma emoção diferente que nos motiva, renova, anima, emociona e mostra que a academia precisa resgatar e alimentar sentimentos tão importantes que foram destacados aqui", declara a Profa. Dra. Nadir do Nascimento Nogueira.

homenagem ao cadaver-29.jpg

Profa. Dra. Nadir do Nascimento Nogueira

“Nós ouvimos as leituras, apresentações dos alunos de diversos cursos da área da Saúde, que têm a oportunidade de ter seu aprendizado dentro da anatomia e imaginar que por essa experiência acadêmica, nós podemos formar diferentes profissionais, de diferentes posturas, mas lembrar de nosso papel como instituição de ensino superior na formação dos nossos profissionais. A celebração em homenagem ao Cadáver Desconhecido é uma cultura nossa, da Universidade Federal do Piauí, praticamente desde a sua instalação, já se começou a pensar nesse cuidado com o cadáver desconhecido. Independente das condições adversas ou não, esse cadáveres chegaram até o Departamento de Morfologia, no setor de Anatomia e nos deram essa grande oportunidade, por meio da ciência, de conseguir alcançar o conhecimento e conseguir proporcionar saúde de qualidade e, principalmente, trabalhar na perspectiva da prevenção e promoção da saúde”, finaliza a Profa. Dra. Nadir do Nascimento Nogueira.

Confira mais fotos.