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Representantes das Comunidades Quilombolas propõem parceiras à UFPI

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Última atualização em Domingo, 24 de Março de 2019, 16h17

Representantes das Comunidades Quilombolas do Estado do Piauí participaram de reunião com o reitor da Universidade Federal do Piauí, Professor Doutor Luiz de Sousa Santos Júnior, em que discutiram a implantação de projeto para levar cursos de graduação para as comunidades quilombolas. Segundo dados da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Estado do Piauí (Cecoq), existem cerca de 150 comunidades no estado, nem todas comprovadamente reconhecidas. As principais comunidades se situam nas cidades de Oeiras, Floriano, São Raimundo Nonato, São João do Piauí, Picos, Paulistana e Simplício Mendes.

Antônio Bispo, da Cecoq, afirma que os moradores das comunidades quilombolas precisam de qualificação para a defesa de suas comunidades. "Nossa coordenação é articulada com as comunidades para que em nome delas possamos discutir melhorias de acesso a políticas públicas. Precisamos, por exemplo, formar pessoas nas áreas de Antropologia e Direito. Antropologia para ajudar na demarcação das comunidades junto ao INCRA e Direito para a defesa dos direitos dos quilombolas" enfatizou Bispo.

O reitor lembrou-se de uma reunião ocorrida na Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) do Ministério da Educação (MEC), em 2011, onde foi discutido o lançamento de edital específico para formação de professores nas comunidades quilombolas. "Na reunião foi discutido o lançamento de um programa, nos moldes dos programas de qualificação para professores que existem atualmente como o PARFOR e o PROCAMPO. Depois dessa reunião, decidimos elaborar um projeto, mapeando a demanda para a criação de cursos nas comunidades; antecipando-nos ao lançamento do edital do MEC," argumentou Luiz Júnior.

Reitor Luiz de Sousa Júnior durante reunião com representantes de comunidades quilombolas

O trabalho de mapeamento das comunidades quilombolas foi realizado pelos professores Edmilsa Araújo e Gilmar Duarte, do Campus Ferreira Amílcar Sobral, em Floriano. "Nosso mapeamento foi no sentido de levantar as demandas de formação e qualificação profissional que pudessem ser atendidas pelo Campus de Floriano. A nossa conclusão foi de que existe uma demanda necessária e urgente na região", explicou Edmilsa. Para o professor Gilmar Duarte, o país ressente de políticas sociais para as classes desfavorecidas. "Não se transforma uma sociedade sem educação. Desse modo, precisamos agir e inserir essas comunidades na educação através de cursos de extensão, técnicos e de graduação", defendeu o professor.

O reitor Luiz Júnior comentou que a universidade irá oferecer cursos de extensão e cursos técnicos, através dos Colégios Agrícolas da instituição, voltados para as comunidades quilombolas. A Extensão é uma articulação entre universidade e sociedade por meio de diversas ações. Por meio das atividades de ensino e pesquisa são planejados e executados programas e projetos, e realizados cursos e eventos em benefício da comunidade. "Nos últimos anos, a extensão deu um salto em nossa universidade. Em 2004, por exemplo, os projetos atendiam cerca de 20.000 pessoas. E somente em 2011 foram atendidas 133.045 pessoas", enumerou o reitor.

Edmilsa Araújo Prof.ª do Campus de Floriano

"Abriremos turmas e cursos voltados para as demandas de formação dos jovens das comunidades quilombolas utilizando como base a estrutura já existente nos Colégios Agrícolas de Floriano e Bom Jesus. São cursos técnicos em enfermagem, informática e agropecuária", comprometeu-se o reitor.

Na reunião, o reitor Luiz Júnior mencionou a expansão de cursos e a interiorização da UFPI que facilitaram o acesso ao ensino superior. "Atualmente oferecemos 99 cursos de graduação presencial em cinco campi. São 29 cursos apenas no interior. Alguns cursos são inéditos no Estado, oferecidos somente pela UFPI. No ensino a distância, através da UAPI, são 12 cursos de graduação. E para 2012, o vestibular da UAPI disponibilizará 3.625 vagas", afirmou Luiz Júnior.

A UFPI oferece ainda programas de qualificação para professores através do PARFOR e do PROCAMPO. O PARFOR é resultante de uma política do Ministério da Educação - MEC, e objetiva ministrar cursos superiores gratuitos e de qualidade a professores em exercício nas escolas públicas sem a formação exigida pela Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional - LDR de dezembro de 1996. "Hoje temos quase 2000 estudantes matriculados no PARFOR em 15 polos que cursam a primeira ou segunda licenciatura", explicou o reitor. O PROCAMPO é um programa de qualificação dos professores que trabalham no campo. O projeto funciona nas cidades de Oeiras e Jaicós. O curso tem natureza regular presencial especial e objetiva formar professores para o exercício dos anos finais do ensino fundamental na área de Ciências da Natureza e Matemática no e para o campo.

Projeto de extensão em realização

A UFPI já realiza alguns trabalhos em parceria com as comunidades quilombolas. A professora Maria Sueli, do Departamento de Ciências Jurídicas (DCJ), é coordenadora do projeto de extensão "Conhecimentos tradicionais quilombolas e biodiversidade Piauiense". O projeto estuda o impacto sociocultural das grandes obras de infraestrutura que afetam as comunidades quilombolas, através dos estudos dos RIMAs (Relatório de Impacto do Meio Ambiente) da ferrovia transnordestina e da implantação da Suzano na cidade de Palmeirais. "Oferecemos oficinas jurídicas e instrumentos de proteção às comunidades quilombolas", explicou a professora.

Êxodo rural

As comunidades quilombolas no Piauí localizam-se principalmente na região do semi-árido e enfrentam dificuldades de acesso a políticas públicas, como educação. São comunidades rurais que vivem da agricultura de subsistência, mas mantêm as tradições culturais preservadas. "Enfrentamos muitos desafios como o êxodo rural da juventude. Nem toda comunidade possui escola. E as que possuem, às vezes, falta professor nativo na comunidade. Um professor que possa unir o conhecimento técnico obtido na universidade com os conhecimentos nativos da comunidade. Em suma, precisamos qualificar nossos jovens para a defesa das causas quilombolas", afirma a professora Maria Rosalina dos Santos, da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas, e residente no município de Queimada Nova.

Maria Rosalina, professora do Município de Queimada Nova - PI, falou sobre os desafios e dificuldades das comunidades quilombolas

A Comunidade Salinas, localizada no município de Campinas do Piauí, vive essa realidade de êxodo rural. A comunidade onde moram 106 famílias tem educação da pré-escola ao ensino médio. Marcos Vinicius Ferreira, coordenador cultural da comunidade, afirma que muitos jovens anseiam por qualificação profissional. "Temos um grupo de 50 jovens que concluíram o ensino médio e que desejam fazer um curso de graduação. E para fazê-lo, precisam sair da comunidade; migrar para os grandes centros onde se encontra a universidade", explicou Marcos Ferreira.

Marcos Vinicíus Ferreira discorre sobre a situação da comunidade quilombola onde vive.

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