Nascem os primeiros bezerros produzidos "in vitro" no Piauí

A Produção In Vitro de Embriões (PIV), a terceira geração das biotécnicas reprodutivas (primeira a IA e segunda a TE), é uma técnica plenamente dominada e de grande aceitação entre os criadores, particularmente aqueles que exploram uma bovinocultura mais tecnificada. Trata-se de um processo evoluído da transferência de embriões clássica (TE), modernamente denominada de produção in vivo de embriões que, a exemplo da PIV, valoriza o potencial genético de matrizes consideradas superiores. No período de 1997 a 2005 a TE foi crescente no país e muito contribuiu para o melhoramento dos rebanhos. No Estado do Piauí, não podemos deixar de ressaltar a importância do Médico Veterinário João Carneiro e do pecuarista Dr. Lourival Sales Parente, pioneiros na adoção dessa técnica em nosso meio.

Ao tempo em que a TE se mantinha como técnica plenamente estabelecida, entre 2000 e 2004 a PIV ia se definindo e comparativamente se apresentando mais atrativa que a TE. Após 2005, houve um forte crescimento da atividade PIV no país, favorecido pela retração da TE no mesmo período. Para que se tenha uma ideia da importância da PIV, basta refletir sobre os números mais recentes divulgados pela Sociedade Brasileira de Tecnologia de Embriões (SBTE). Em 2011, a produção de embriões bovinos no Brasil, alcançou o marca histórica de 350.000 unidades, sendo 90,7% produzidos in vitro (PIV) e apenas 9,3% in vivo (TE). Em relação à especialidade da raça, 76,3% foram em bovinos de corte e 23,7 em bovinos de leite.

A técnica é montada basicamente nos seguintes pilares: a) escolha criteriosa das doadoras de oócitos e das receptoras de embriões; b) recuperação dos oócitos das matrizes doadoras, via transcervical, por punção dos folículos ovarianos, utilizando agulhas especiais, guiada por ultrassom; c) maturação das estruturas recuperadas em meio biológico apropriado, sob temperatura, pressão e atmosfera controladas (estufa de CO2); d) classificação e fertilização "in vitro" das estruturas recuperadas, utilizando sêmen sexado (macho ou fêmea) ou convencional (macho e fêmea); e) cultivo das estruturas fertilizadas em meios biológicos específicos e sob condições especiais (estufa de CO2); e f) transferência dos embriões cultivados e viáveis (blastocistos) para as fêmeas receptoras, que tiveram o estro previamente sincronizado com o dia da fertilização (FIV). O processo só é finalizado com a realização do exame ultrassonográfico aos 30 dias para comprovação ou não da prenhez e aos 60 dias, para detectar as eventuais perdas embrionárias ao tempo em que também se faz o diagnóstico do sexo (sexagem fetal). 

Em termos práticos, de uma vaca saudável, raça Nelore, obtêm-se em média 20 oócitos por sessão de coleta, dos quais 80% são classificados e maturados, e destes, cerca de 80% são submetidos a fertilização e cultivados, de onde cerca de 35% se desenvolvem à condição de blastocistos transferíveis que, uma vez inovulados, vão gerar índices gestacionais em torno de 30%. Dada à possibilidade de se fazer várias sessões de coleta de oócitos ao longo do ano, é aceito entre os técnicos e laboratórios especializados que, enquanto uma vaca sob condição natural produz um bezerro por ano, na TE a vaca produz em média um bezerro por mês, e, na PIV, um bezerro por semana. Ressalta-se no entanto, a grande dependência que a técnica tem em relação a aspectos como: condições nutricionais e sanitária das fêmeas, qualidade dos meios e do sêmen utilizados, qualidade dos equipamentos, fornecimento de energia e CO2, sincronismo entre doadoras e receptoras e, naturalmente, da competência do técnico responsável pelo projeto. 

Fica evidente portanto que, a exemplo do que vem ocorrendo em outros regiões do país, essa técnica traz perspectivas de melhoria na qualidade genético dos rebanhos bovinos do estado do Piauí. No momento, o domínio dessa técnica em nosso meio, está associado ao Laboratório de Biotecnologia da Reprodução Animal (LBR) do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), sob a Coordenação do Professor Dr. José Adalmir Torres de Souza e do Médico Veterinário Dr. Felipe de Jesus Moraes Júnior, técnico responsável pela equipe envolvida no processo.

A perspectiva desse projeto é apoiar o ensino e a pesquisa da própria Instituição, tanto na Graduação como na Pós-Graduação, de outras Instituições associadas ao Laboratório, e fazer extensão junto às Associações de Criadores e, particularmente, aos pecuaristas da iniciativa privada. Nesse particular, gostaríamos de agradecer aos pecuaristas pioneiros na adoção dessa biotécnica neste Estado, o Médico Veterinário João Sebastião Alves Neto (Fazenda Santa Luzia- Elesbão Veloso-PI) e o Deputado João Madison (Fazenda Santa Tereza-Teresina-PI).
Para finalizar, apresentamos abaixo os dois primeiros produtos PIV nascidos no Estado do Piauí, no final de março de 2013, com todas as etapas da Produção In Vitro desenvolvidas no Laboratório de Biotecnologia da Reprodução Animal do CCA / UFPI.

Abaixo os dois primeiros produtos PIV nascidos no Estado do Piauí, no final de março de 2013.

 

Escrito por Prof. Dr. José Adalmir Torres de Souza