"Quem compra agulhas
De meia cana:
Bons alfinetes
Vende a Cigana.
Ah quem compra, sim quem compra
Oh! Senhoras, Oh! senhores,
As agulhas são cuidados,
Alfinetes são amores".
Eis a primeira fala da personagem principal do drama joco-sério em um ato A Vingança da Cigana, estreada no Real Teatro de São Carlos, de Lisboa, em 1794, com música de António Leal Moreira (Abrantes, 1758- Lisboa, 1819) e texto de Domingos Caldas Barbosa (Rio de Janeiro, 1738?-Lisboa, 1800).
A pesquisa centrou-se em um manuscrito musical autógrafo do compositor, e de duas fontes do texto, uma manuscrita e outra impressa com autorização da Real Mesa da Comissão Geral e Exame, e Censura de Livros, documentos depositados na Biblioteca Nacional de Portugal.
Trata-se de uma obra que apresenta alguns aspectos inovadores. Primeiro, a relação direta com os temas populares dando um tratamento vivo e colorido da vida lisboetana de fins do século XVIII. Além disso, uma sutil crítica social no tratamento dos aspectos sociológicos, com a presença de personagens até então marginalizados do contexto sociocultural. Outras inovações podem ser observadas, como a introdução de ritmos populares, de formas populares como a modinha, de instrumentos como a guitarra, além das sutilizas semânticas numa proposital aproximação entre o português falado no Brasil e o português clássico lusitano.
Leal Moreira e Calda Barbosa com este drama musical e um anterior a este, A Saloia Enamorada, apontam para um caminho que infelizmente não foi de todo seguido: o da criação de uma ópera nacional, em língua portuguesa, antecipando, de forma premonitória, as discussões que surgiriam quase um século depois.
A ópera será apresentada no Concerto de abertura da II Semana Pedagógica Musical da UFPI, dia 08 de abril, as 20h no Cine Teatro da UFPI