Oscar Niemeyer: paradigma da arquitetura brasileira

Fundado em 1994, o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Piauí já formou mais de 500 profissionais que atuam desde a concepção e planejamento de ambientes, projetando e organizando espaços físicos, à construção de conhecimento, dedicando-se ao ensino e pesquisa.

A graduação tem duração mínima de quatro anos e a grade curricular contempla disciplinas teóricas e práticas. Entre as matérias teóricas está "História da Arquitetura Brasileira II", ministrada pela Prof.ª Kaki Afonso, que trata da modernidade e contemporaneidade da Arquitetura no Brasil, fornecendo aos alunos o embasamento teórico para compreensão das obras dos grandes arquitetos.

Entre as grandes referências da arquitetura nacional, a disciplina estuda vida e obra do arquiteto Oscar Niemeyer, falecido na última quinta-feira (06). Sobre a importância de estudar a arquitetura de Niemeyer, a professora enfatiza: "Ele é um arquiteto que produz desde o ano de 1930, sendo uma referência da arquitetura moderna e contemporânea que influenciou todas as gerações de arquitetos até hoje. É importante que o aluno conheça obras de grandes nomes da arquitetura brasileira, como Niemeyer, para que possa ser influenciado positivamente pelos grandes mestres sendo provado a desenvolver a sua própria obra".

A presença acentuada do concreto é marca de Niemeyer, característica que o fez ser conhecido pela arquitetura brutalista, explica a Prof.ª Kaki. O Piauí não possui nenhuma obra de Niemeyer, mas é visível a influência do arquiteto em construções locais como o prédio da Assembleia Legislativa (projeto do arquiteto Acácio Gil), a sede da CEPISA (projeto do arquiteto Antônio Luís) e o Centro Administrativo (projeto do arquiteto Raimundo Dias), todas localizadas em Teresina.

 

Professora Kaki Afonso possui vasto material sobre vida e obra de Oscar Niemeyer

Niemeyer: o paradigma da arquitetura brasileira

Niemeyer teve como mentor o arquiteto Lúcio Costa, grande intelectual no campo teórico, e se tornou o maior arquiteto brasileiro em número de obras significativas produzidas, como Ministério de Educação e Saúde (1945), Conjunto Arquitetônico da Pampulha (1940), Brasília (1960), Memorial da América Latina (1987), entre tantas criações que o tornaram paradigma da arquitetura nacional e símbolo da arquitetura brasileira para o mundo.

Niemeyer conquistou por duas vezes o prêmio Pritzker, que é o oscar da Arquitetura, em reconhecimento ao seu trabalho. E tem obras espalhadas em diversos países como Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Argélia, França, Portugal, Israel, Líbano; sendo que no Brasil está a maior concentração de conjuntos arquitetônicos do arquiteto.

Kaki Afonso recorda que desde sua época de estudante até os dias de hoje Niemeyer foi e continua sendo a maior referência do Brasil em arquitetura. "É como Le Corbusier para o mundo, assim é Niemeyer para o Brasil", define a professora ao comparar a importância representativa do arquiteto brasileiro ao arquiteto suíço naturalizado francês.

Em 1947, Niemeyer participou da comissão de arquitetos para a elaboração da sede da Organização das Nações Unidas (ONU), localizada na zona leste de Manhattan, em Nova Iorque nos Estados Unidos. Mais de 50 propostas foram analisadas, sendo escolhidos os desenhos de Oscar Niemeyer e Le Corbusier.

Ao ser questionada sobre a razão da atemporalidade do trabalho de Niemeyer, a Prof.ª Kaki respondeu pontualmente: "A sua genialidade!" e explicou que apesar das críticas sobre a formalidade e plasticidade do arquiteto, foi enfática "beleza é fundamental, como já dizia o poeta Vinícius de Moraes".

Ideologia eternizada em construções, livros e revistas

Além da arquitetura, Niemeyer eternizou seus pensamentos em livros e revistas. Seu lado escritor é bem menos conhecido, mas não menos importante.

Foi redator das revistas Módulo e Brasília, que tratavam de arquitetura e arte brasileira. E escreveu livros também sobre a temática da arquitetura. Entre os livros estão "As Curvas do Tempo" e "Sobre a Minha Arquitetura". A professora Kaki ressalta a  importância de conhecer a obra escrita do arquiteto. "Acho importante que as pessoas conheçam também a obra escrita de Niemeyer e saber o que ele pensava. É interessante que a nova geração saiba que ele foi funcionário público, escritor. Niemeyer não era só prancheta; ele era também pensamentos, reflexões, ideologias...". 

Além de arquiteto, Niemeyer foi redator das revistas Módulo e Brasília

 

O traço curvilíneo de Niemeyer

Representante maior da escola carioca de Arquitetura, Oscar Niemeyer é considerado o arquiteto que plasticamente mais influenciou os arquitetos brasileiros. A ele é atribuído a introdução da curva à arquitetura moderna universal.

"A arquitetura moderna mundial era cúbica, reta e muito prismática. O Niemeyer, nos anos 40, introduziu a linha curva, atribuída à mulher brasileira e à paisagem local, e criou uma polêmica em nível internacional: críticos o acusaram de tentar criar uma arquitetura moderna orgânica.", explica a Prof.ª Kaki.

A partir da linha curva, Oscar Niemeyer fez sua escola que influencia desde a arquitetura ao design de mobiliários. O traço curvilíneo do arquiteto pode ser percebido na forma da Igreja de São Francisco de Assis, Pampulha (MG), nas marquises e nos pilares presentes nos prédios de Brasília.

Integração entre Arquitetura e Arte

Ao observar os projetos assinados por Niemeyer é difícil dissociar a arquitetura da arte. Kaki Afonso explica que esses dois elementos encontram-se misturados nas obras do arquiteto e destaca a importância de Niemeyer no processo de integração das artes, característica da modernidade brasileira. "Ele sempre trabalhou com uma equipe extremamente sensível, formada por arquitetos, calculistas, paisagistas e artistas. Em seus projetos há esculturas, painéis e jardins que são verdadeiras obras de arte. A integração era perfeita entre arte, arquitetura e engenharia", explica.

"Niemeyer é 100"

"Niemeyer é 100" é o título da exposição organizada pela Prof.ª Kaki Afonso e alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPI em 2007, ano de comemoração ao centenário de vida do arquiteto. A amostra era formada por banners com fotos e reproduções das criações de Oscar Niemeyer.

Em homenagem ao legado deixado pelo arquiteto, a exposição "Niemeyer é 100" estará mais uma vez à disposição do público a partir da próxima segunda-feira (10), no salão da Biblioteca Central da UFPI, Jornalista Carlos Castello Branco, localizada no campus Ministro Petrônio Portella, em Teresina.

O homem que se definia como "um ser humano como outro qualquer", viveu mais de um século; com mais de 70 anos dedicados à Arquitetura e Urbanismo, e deixa um legado histórico que saiu de suas pranchetas para ser eternizado em forma de verdadeiras obras de arte arquitetônicas ao ar livre para o mundo.

Fotos cedidas pela Prof.ª Kaki Afonso,  acervo da exposição "Niemeyer é 100".

 

Confira o documentário "Oscar Niemeyer - A vida é um sopro", sobre a vida e obra do arquiteto.

*Alcília Afonso de Albuquerque Melo (Kaki) é arquiteta graduada na UFPE, doutora em projetos arquitetônicos pela ETSAB/UPC, mestre em História da Arquitetura(UFPE) e especialista em Conservação Urbana e Territorial (UFPE/CECI.1998) e em Arte e Cultura barroca(UFOP/MG). Ela mantém um blog, no qual aborda projetos, imagens urbanas e resgate da arquitetura moderna por meio de textos, fotografias e (re)desenhos.