Quintal Agroecológico leva novas tecnologias para jovens do campo
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Pablo Felipe da Silva reside na comunidade Nossa Senhora dos Remédios, no Território Cocais, junto com os pais. Ele tem 21 anos. Essa é uma idade de muitos sonhos. Um dos sonhos do Pablo é ter fonte de renda na sua comunidade, assim, não precisaria sair para buscar trabalho em outro lugar. “Eu tenho esse sonho de conseguir a terra, introduzir a criação de aves, trabalhar a piscicultura e a agricultura de uma forma geral, como hortaliça, fruticultura, tudo dentro de uma área, e, também, num sistema agroflorestal”, declarou.
Pablo Felipe da Silva quer montar na sua comunidade o Quintal Agroecológico
Esse sistema de que fala o Pablo é o Quintal Agroecológico, projeto vinculado à Pró-Reitoria de Extensão da UFPI. O Quintal integra os saberes, produz alimentos de base ecológica, aproveita resíduos e sobras de uma atividade para outra, reduz custos de produção, interage a produção animal com a vegetal, além de todas as etapas de desenvolvimento atenderem aos processos socialmente justos, economicamente viáveis e ambientalmente adequados.
Prof. Dr. Josenildo Souza trabalha o projeto do Quintal nas dimensões tecnológica, pedagógica e política
O projeto é uma iniciativa do Prof. Dr. Josenildo Souza, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Reis Velloso (CMRV), em Parnaíba. O Quintal nasceu na Universidade, onde foram iniciadas pesquisas e estudadas novas tecnologias. A metodologia contempla três dimensões: tecnológica, pedagógica e política. “A ideia primeira é a tecnológica, atrair pelo tecnológico e desenvolver tecnologias socioambientais simplificadas e de baixo custo. Mas, é necessário que a gente semeie saberes nessas tecnologias e elas têm que estar a serviço de um processo pedagógico, temos que semear alguns jovens para que eles possam educar outras pessoas nesse tipo de manejo agroecológico. Então, ele é pedagógico nesse sentido: de que estamos trabalhando jovens que sejam semeadores desses saberes e, consequentemente, vão adaptar e construir novas tecnologias. E é político porque a ideia é que esses jovens tanto possam executar as políticas públicas que estão postas aí, como construir políticas públicas a partir da sua própria realidade, dores e clamores. É um processo, também, de conscientização política do meio em que ele está inserido, do que é e da importância da agricultura familiar, a importância que o jovem seja qualificado e tenha uma formação de qualidade para que não precise migrar do Piauí para ir a outras regiões, e, assim, possa ter pertencimento e condições de estudar, trabalhar e viver dignamente no seu lugar”, explicou o professor Josenildo.
Pela exposição do professor Josenildo já deu para perceber que o projeto não ficaria restrito à Universidade: ele cresceu, ganhou parcerias e chegou a diversos locais. E foi assim que o Pablo e o Quintal Agroecológico se encontraram. Numa cooperação que tem entre os parceiros da UFPI, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Piauí (FETAG-PI), Secretaria de Estado de Desenvolvimento Rural do Piauí (SDR) e Escolas Familiares Agrícolas foi realizada a formação “Módulo de Construção de conhecimentos quintais agroecológicos: aquicultura de base ecológica, tecnologias socioambientais e soberania alimentar”, realizada na FETAG, em três etapas, com jovens dos Territórios dos Cocais e Planície Litorânea. A última aconteceu de 28 a 31 de março e resultou na construção do Quintal Agroecológico da FETAG.
Alessandra Vasconcelos, estudante de Engenharia de Pesca, ensina para outros jovens o que aprendeu no projeto
O Pablo e outros jovens construíram uma unidade do quintal a partir do que viram na formação. E quem fez a capacitação foram os estudantes da UFPI, bolsistas dos projetos coordenados pelo professor Josenildo. Sabe aquela proposta pedagógica de multiplicação do saber? Pois é, os estudantes passaram pela formação e agora são multiplicadores. Esse é o caso da Alessandra Vasconcelos, estudante do Curso de Engenharia de Pesca do CMRV. Fazer parte desse projeto é especial para ela. “Sou filha de agricultores, então, para mim é uma honra imensa, é prazeroso. Quando pensamos que sabemos tudo, percebemos que não sabemos, o conhecimento empírico, que é o conhecimento deles, aprendemos muito mais nesse convívio. Está sendo um prazer trabalhar com eles, levar daqui amigos e torná-los profissionais. Como estudante de engenharia de pesca, tento repassar e influenciar de alguma maneira que estamos no caminho certo dentro da agricultura familiar e da aquicultura”, destacou.
Lucilene Feitosa, Vice-Presidente da FETAG-PI, acredita que o Quintal pode ajudar a fixar o jovem no campo
Para a Vice-Presidente da FETAG-PI, Lucilene Feitosa, o projeto pode contribuir para diminuir o êxodo rural dos jovens. “A UFPI é uma parceira e ganhamos um presente do professor Josenildo em trazer e aplicar esse projeto junto conosco. A nossa juventude precisa desse projeto, sabemos que o êxodo rural existe e se tivéssemos como transformar esse projeto e atender a demanda do estado do Piauí como um todo seria muito bom, porque só vem a somar para a nossa juventude e para a FETAG Piauí”, informou.
Patrícia Vasconcelos Lima, Superintendente da Agricultura Familiar da SDR, defende que o Quintal seja transformado em Política Pública
Pode ser que o desejo da Lucilene se realize. É que o Quintal Agroecológico tem dado tão certo que a SDR quer transformá-lo em Política Pública de Estado da agricultura familiar. “Vamos realizar uma apresentação de alguns projetos no Conselho do Fundo Estadual de Combate à Pobreza, porque o Quintal é direcionado para a geração de renda em comunidades rurais. Então, ele é um projeto de geração de renda que inclui várias atividades produtivas e uma das marcas da agricultura familiar é a questão da diversidade, e aqui temos plantas medicinais, criação de peixe, horticultura e fruticultura. A SDR, por meio do Secretário Francisco Lima, tem a intenção e abraça como proposta poder financiar e apoiar essas iniciativas dos quintais e, também, o compromisso para transformá-lo em política pública” declarou a Superintendente da Agricultura Familiar da SDR, Patrícia Vasconcelos Lima.
Profa. Dra. Nadir Nogueira, Vice-Reitora da UFPI, destaca o apoio da Instituição ao projeto que pode transformar as comunidades
A Administração Superior da UFPI tem acompanhado e apoiado o projeto do Quintal desde a concepção. A Vice-Reitora, Profa. Dra. Nadir Nogueira, esteve na inauguração do Quintal Agroecológico da FETAG e destacou o papel transformador de projetos dessa natureza. “Percebemos que esse projeto tem um alcance social muito grande, é um trabalho feito por várias mãos e que necessita de um nível de organização como o que estamos vendo aqui, senão, as coisas não estariam acontecendo como aconteceram. E, o mais importante: permitindo que esse modelo de quintal possa ser implantado em outros ambientes, ou seja, possam ser replicados sempre na perspectiva da inclusão social, que considero de suma importância. Aliada a esse aspecto da inclusão, a participação desses jovens que abraçam e entram nesse movimento de pensar uma agricultura sustentável e familiar e de que é possível transformar realidades, seja no âmbito domiciliar e na comunidade, é um trabalho que pode provocar grandes transformações econômicas, políticas e sociais, daí a importância dele e do compromisso da Universidade”, informou.
Seu Antônio Gonzaga vai implementar na sua comunidade o que aprendeu na formação
E não são apenas os jovens que podem ser beneficiados com as tecnologias do Quintal Agroecológico. O seu Antônio Gonzaga tem 59 anos e sempre foi agricultor familiar. Ele participou da formação ofertada pela UFPI e pretende implantar o que aprendeu. “O que achei mais interessante foi essa aplicação dos módulos que trabalhamos. Por exemplo, o pomar é uma coisa bem conjunta com vários tipos de frutas. Venho criando minha família da roça e tenho o prazer de mostrar para as famílias e para os jovens como a gente trabalha e como é significativo para nós o desenvolvimento das nossas comunidades”, declarou.
Unidade experimental em Parnaíba
Uma unidade experimental do Quintal Agroecológico foi montada na Comunidade Cacimbão, município de Parnaíba, em setembro de 2015. A unidade foi instalada na propriedade rural do estudante Luis Gustavo de Oliveira. O terreno tem pouco mais de dois hectares e recebeu o cultivo de frutas e verduras e criatório de animais de forma integrada. Desde então, diversas outras tecnologias foram criadas e implementadas ao projeto.
Confira como era a primeira unidade do Quintal Agroecológico no Piauí:
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