O Prof. Dr. Ângelo Alves Corrêa, do Curso de Arqueologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), foi premiado no concurso nacional de tese do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e recebeu Menção Honrosa pela mesma na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
A tese premida, intitulada Pindorama de Mboîa e îakaré: Continuidade e mudança na trajetória das populações Tupi e defendida na USP no ano de 2014, disserta sobre a história das populações falantes de línguas Tupi e baseou-se nas características de vasilhas cerâmicas encontradas nos sítios arqueológicos relacionados a esses povos. Segundo o Prof. Dr. Ângelo Alves Corrêa, o estudo tem o propósito de observar o processo de continuidade e mudança na história dos povos Tupi, e tentar contribuir com os modelos de origem de migração, ocupação, e transformação desta ao longo do tempo. “Para fazer a tese me baseei em levantamento bibliográfico, e foi possível reunir quase cinco mil sítios arqueológicos e 700 datações. Além disso, também visitei coleções onde existem peças e cerâmicas”, conta.
Prof. Dr. Ângelo Alves Corrêa foi premiado no concurso nacional de tese do IPHAN e recebeu Menção Honrosa na CAPES
O professor explica que o estudo priorizou as cerâmicas ou vasilhas inteiras ou semi-inteiras. “O trabalho continua, estamos fazendo levantamentos. E existem muitas outras coleções no país que ainda guardam esse material e que precisa ser consultado. Vamos trabalhar e contribuir um pouco mais com a história dessas populações”. Até o momento, 83 coleções foram analisadas em museus diferentes, localizadas em quinze estados brasileiros.
A tese premiada baseou-se nas características de vasilhas cerâmicas encontradas nos sítios arqueológicos relacionados a povos Tupi
O estudo das cerâmicas também está presente em outro projeto coordenado pelo professor Ângelo Alves, intitulado “Mapeamento Arqueológico da Serra de Ibiapaba: história de longa duração das populações Tupi”. O trabalho procura analisar diversas hipóteses, como por exemplo, a de que populações amazônicas Tupi migraram para o nordeste e teriam dado origem aos povos Tupinambá. “Estudamos a hipótese de que populações amazônicas Tupi da Amazônia vieram para o nordeste e permaneceram durante centenas de anos. Essas populações tinham suas próprias características, mas, chegando aqui, sofreram um processo de modificação, e foi o que, provavelmente, deu origem à população Tupinambá”, observa.
No projeto, está sendo possível verificar a existência de cerâmicas com características Tupinambá e de um conjunto que se assemelha bem mais com a cerâmica da Amazônia. “Trata-se de uma transformação regional dentro do Nordeste, de um povo da Amazônia para o povo que conhecemos como Tupinambá. Montei esse projeto para verificar, por meio das coleções, as semelhanças entre esses povos, constatar a relação entre as duas e, dessa forma, construir a historia de modificação deles”, diz. O projeto irá mapear sítios e coleções particulares em bibliotecas públicas, colégios e igrejas.
O estudo priorizou as cerâmicas ou vasilhas inteiras ou semi-inteiras
Sobre os povos Tupi e Tupinambá, o Prof. Dr. Ângelo Alves Corrêa ressalta que podem ser obtidas importantes informações por meio das cerâmicas arqueológicas e etnográficas . “É pressuposto da arqueologia que, quando as sociedades mudam, muda todo o conjunto de artefatos, e a cerâmica é um deles. Pensamos que, se uma população sai de uma região para outra região, o clima, a comida, o tamanho da aldeia, tudo isso irá interferir no processo de modificação dessas. Conseguimos enxergar por meio dos vasilhames as mudanças, mas é uma associação que nem sempre é possível de ser feita. Para a população Tupi, temos dois tipos de cultura material: os artefatos cerâmicos e os líticos, as pedras.” Porém, existe pouca informação sobre os artefatos de pedra nos museus, pois estes optam em montar suas coleções com cerâmicas, por chamarem mais atenção dos visitantes.
O projeto busca verificar as semelhanças entre os povos Tupi e Tupinambá
O professor conta que uma das principais técnicas para estudar a cerâmica é a análise tecnológica. “Estudamos todos os pontos, as formas, os acabamentos, e a própria morfologia. E a resposta está sendo muito boa”, afirma otimista. Para agilizar o processo, ele utiliza a técnica de fotogrametria, ou seja, a fotografia para fazer restituição métrica. Desse modo, é possível tirar as medidas e as características de uma cerâmica a partir da foto, ao invés de ficar medindo peça por peça.
A técnica de fotogrametria possibilitou tirar todas as medidas e as características das cerâmicas
O professor diz que, futuramente, o projeto irá comparar tanto a cerâmica do nordeste quanto a de outras regiões do país e até de outros países. “Já sabemos que todas essas populações são aparentadas em algum grau. Então, com essas comparações, esperamos descobrir qual grupo originou o outro, e qual está mais próximo ou distante em termos de parentesco”, diz.