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UFPI realiza pesquisa para mapear áreas de ocorrência da malária no Piauí

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Última atualização em Domingo, 24 de Março de 2019, 16h17

A malária é uma doença parasitária grave, de evolução rápida, e que mata cerca de 580 mil pessoas por ano no mundo. Com objetivo de mapear as áreas de ocorrência da doença no estado do Piauí por meio de estudos dos fatores ambientais de risco que contribuem para sua transmissão, o Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGGEO), da Universidade Federal do Piauí (UFPI), realiza a pesquisa intitulada "Avaliação geoambiental da malária no estado do Piauí".

O trabalho, idealizado a partir da dissertação de mestrado do aluno Antonio Carlos dos Santos, "Estudo Geoambiental da Ocorrência de Casos de Malária no Piauí. Estudo de Caso: Campo Largo do Piauí e Porto 2002 a 2013", buscou mapear as áreas de ocorrência de malária como também o georreferenciamento dos casos nesses locais. Para o geógrafo, a malária é negligenciada e esquecida pelas autoridades, principalmente na região considerada extra-amazônica, como é caso do Nordeste. "Esta pesquisa consiste no estudo geoambiental das ocorrências dos casos da doença no Piauí, especificamente em Campo Largo do Piauí e Porto, do ano de 2002 a 2013. Isto porque houve um surto muito grande da doença no ano de 2004, com o registro de 110 casos nesses municípios".

O Mestre em Geografia, Antonio Carlos dos Santos, conta que foram trabalhados dados secundários oriundos da Secretaria de Estado da Saúde do Piauí (SESAPI), Meio Ambiente e do IBGE, como também pesquisa de campo para levantamento dos aspectos geoambientais e georreferenciamento dos endereços dos casos de malária dos municípios de estudo. "Inicialmente, priorizamos os hábitos dos vetores (mosquito transmissor da doença) e o comportamento das pessoas, seu uso e a cobertura das terras, bem como os tipos de ocupação (profissão) que contribuem para a contração da doença. Levantamos o relevo com suas altitudes e declividades de Campo Largo do Piauí e Porto e fizemos mapas de altimetria, declividade e das unidades geomorfológicas", explica.

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Para o MSc. em Geografia, Antonio Carlos dos Santos, a malária é negligenciada e esquecida pelas autoridades, principalmente na região considerada extra-amazônica, como o Nordeste

Também foram utilizados os SIG'S (Sistema de Informação Geográfica), com o objetivo de gerar mapas, com variáveis do meio físico (geomorfologia, hidrografia e uso cobertura das terras) e da saúde (vetores e dos casos de malária). Sua maior vantagem é permitir, através dos mapas, interpretação e análise dos fatores ambientais de risco e da distribuição espacial da doença de forma contínua e direcionada.

Segundo o Coordenador do Mestrado de Geografia da UFPI e do projeto, Prof. Dr. Gustavo Souza Valladares, a pesquisa de campo foi detalhada e consistiu-se em conhecer os locais onde ocorreu malária nos últimos anos. "Foram coletados dados geográficos ligados ao ambiente, e epidemiológicos, como relevo e as chuvas. Pensamos nos fatores ecológicos que interferem na doença, a umidade relativa do ar, mapas de uso e cobertura das terras, como via de acesso, estradas, áreas urbanizadas, diferentes tipos de cobertura vegetal".

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O trabalho buscou conhecer os locais onde ocorreu malária nos últimos anos, além de dados de endereços das pessoas infectadas

A atualização do mapa de distribuição geográfica do mosquito fundamentou-se também na análise da altitude, as pastagens, o tipo de vegetação, e a questão da fronteira com o Maranhão, pois é uma área considerada da Amazônia legal, e ainda ocorrem casos da doença de forma endêmica.

Além disso, foram feitos georreferenciamento a partir dos locais onde as pessoas infectadas costumavam transitar: "riachos, açudes, balneários, assentamentos rurais. A partir disso, construímos seis mapas, e interpomos um no outro, fazendo uma média ponderada". Posteriormente, o sistema somou e dividiu, aparecendo no mapa as áreas de risco para a ocorrência da doença em cima dos fatores estudados.

Antonio Carlos dos Santos ressalta que, apesar de a malária não ser mais endêmica no estado desde 1985, é importante ficar em alerta. "O horário de atividade do mosquito é à noite, do entardecer ao amanhecer. Isso quer dizer que a pessoa pode se infectar quando está dormindo também, ou em atividades como pesca, principalmente em áreas rurais".

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Foram analisados aspectos geoambientais como relevo, hidrografia, solos, vegetação e estradas

Medidas como evitar sair de casa durante a noite, tomar banho após às 18h em rios, córregos, igarapés e açudes, são essenciais para a contenção da doença. Dormir com mosqueteiro, colocar telas nas janelas, usar repelente são medidas que podem ajudar a combater a proliferação do mosquito.

Segundo o Prof. Gustavo Valadares, a transmissão da malária é favorecida por aspectos ambientais. "O mosquito precisa de condições ambientais para sua reprodução: clima tropical quente, corpos d'água, rios, lagos, de preferência com sombreamento. O desmatamento favorece a transmissão, pois o mosquito é muito pequeno e seria mais difícil se deslocar no meio de uma floresta com uma série de obstáculos, como as árvores. Se você desmata, o próprio vento pode ajudar a deslocá-lo mais facilmente", conta.

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Coordenador do Mestrado de Geografia da UFPI e do projeto, Prof. Dr. Gustavo Sousa Valadares

A proliferação do mosquito acontece por meio do acúmulo de água em áreas de relevo plano, por exemplo. "Em Campo Largo do Piauí e Porto vimos que a doença tem relação com o relevo, porque áreas de baixas atitudes com acúmulo de água propiciam a proliferação do mosquito", diz o professor.

Antonio Carlos dos Santos observa que, mesmo o medicamento sendo gratuito, por meio da Secretaria de Saúde, há o prejuízo econômico para as pessoas que contraem a malária, pois precisam ficar pelo menos 15 dias paradas. "Quem trabalha na roça, por exemplo, se prejudica, pois, o tratamento da malária exige repouso. E, através de pesquisas como essa, as autoridades locais de saúde do município podem identificar as áreas de risco onde as pessoas podem ser infectadas e realizarem medidas de profilaxia e de controle, como diagnóstico, tratamento e dedetização da casa da pessoa infectada e as áreas próximas".

O mosquito transmissor da malária é do gêneroanopheles, conhecido como mosquito prego. No Brasil existem três tipos da doença:Plasmodium vivax, Plasmodium falciparum, Plasmodium malariae. As fêmeas hematófagas são responsáveis pelas picadas nos humanos. Elas procuram lugares luminosos com presença humana, pois precisam se alimentar para maturar seus ovos e reproduzir.

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Áreas de baixas atitudes com acúmulo de água propiciam a proliferação do mosquito

Após a picada, ocorre o período chamado de incubação, e os sintomas da doença podem se anifestar de 10 a 15 dias. "No momento em que a pessoa sente os sintomas, deve procurar a rede médica. Fazer o exame para que, a partir do diagnóstico, comece o tratamento. Quanto mais rápido diagnosticar, maiores são as chances de cura, evitando assim a evolução da doença à óbito. O papel das secretárias de saúde do estado e dos municípios é intervir com ações de controle químico e biológico para que não haja transmissão para outras pessoas", conta o geógrafo. Entre os sintomas da malária estão febre intermitente, vômito e dor de cabeça.

O geógrafo Antonio Carlos dos Santos fala ainda da pesquisa como fator de sensibilização das pessoas. "Com esse trabalho, procuramos sensibilizar as pessoas para os cuidados a serem tomados e também sugerir as secretarias de saúde a realização de ações de prevenção da doença, por meio de medidas educativas nos locais mais propícios a ocorrência, tanto na zona rural como a urbana". A pesquisa durou 27 meses e foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI).

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Os SIG'S (Sistema de Informações Geográficas) geraram mapas e os analisou de forma contínua

Segundo o Prof. Gustavo Valladares, os SIGS podem contribuir para a eficiência do controle da doença. "Pode ser útil para que os órgãos municipais montem equipes que trabalhem com essa ferramenta. Nosso propósito é informar melhor a população a respeito da doença, mostrando onde está ocorrendo e quais as medidas de contenção".

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