Depois de dois anos parado por causa da pandemia o grupo de Culicidologia do Laboratório de Parasitologia, Ecologia e Doenças Negligenciadas (Lapedone) do CSHNB/UFPI retomou as suas atividades de monitoramento de mosquitos. Uma das linhas de pesquisa realizadas no Lapedone é a vigilância entomológica, algo de suma importância estando direcionado para estudo dos vetores transmissores de doenças ao homem que afetam a qualidade de vida da população picoense.
A pesquisa é realizada através da captura e identificação destes vetores, a bioecologia e a determinação da densidade populacional dos mesmos ao nível de vários bairros e zonas da cidade, perspetiva-se iniciar aproximamente, o estudo para a detecção dos agentes infecciosos presentes nos mosquitos. Os resultados destas pesquisas são publicados em periódicos indexados, visando orientar as intervenções em matérias de controle vetorial e prevenção de epidemias.
Grupo de pesquisa e Diretor do CSHNB, Profº Dr. Juscelino Nascimento
no retorno as atividades do Lapedone
Segundo a professora Ana Carolina Pacheco do Curso de Ciências Biológicas do CSHNB são monitorados três gêneros principais de mosquitos vetores: o Anopheles - que transmite a malária; o Aedes - que transmite uma grande quantidade de arboviroses; o Gênero Culex (muriçoca) - que transmite a Febre do Nilo Ocidental por meio da picada de mosquitos fêmeas infectados.
“Ainda não se sabe ao certo o porquê, mas o Estado do Piauí é o único estado brasileiro que apresenta casos da Febre do Nilo Ocidental humana, inclusive o primeiro caso da doença aconteceu em Aroeiras do Itaim, apenas 28 km distante da cidade de Picos. Na época fizemos uma visita a localidade para observação da área, mas essa doença tem como principal ciclo o silvestre onde os principais afetados são as aves e os equídeos e acidentalmente temos a transmissão para o homem. A doença em animais possui registros em diferentes estados do País, entretanto, há casos em seres humanos só no Piauí. Daí a importância de se monitorar os mosquitos do gênero Culex que é a muriçoca comum", explica a docente.
Outro Culicideo importante que é feito o monitoramento no Lapedone são os do gênero Anopheles que é malária. Carolina Pacheco destaca que apesar da Malária no Brasil ser endêmica na Amazônia Legal, pode ocorrer surtos em outros estados, pois quando as pessoas viajam para alguma área endêmica retornam aos seus locais de origem e a presença do inseto vetor que no caso são mosquitos do gênero Anopheles possibilita com que haja a transmissão local.
“Ano passado tivemos um surto de Malária no município de Joaquim Pires - PI, localizado a 239 km da capital Teresina. O surto de Joaquim Pires foi causado por uma pessoa que chegou de outro Estado e acabou contaminando pessoas da cidade. Então temos a presença esporádica desses casos que são trazidos e que na presença do vetor existe a possibilidade dos casos autóctones, como casos que outrora foram resgatados em Picos, causando surtos isolados fora da área endêmica da Amazônia Legal”.
O carro-chefe do monitoramento e pesquisa, conforme a docente, é o mosquito do gênero Aedes que faz a transmissão da grande maioria das arbovirosses (a saber: Dengue, Chikungunya, Zika e da Febre Amarela Urbana) porque a febre amarela silvestre é transmitida principalmente por mosquitos do gênero Haemagogus.
Grupo de Culicidologia
O atual grupo de Culicidologia é composto por acadêmicos do Curso de Ciências Biológicas do Campus Senador Helvídio Nunes de Barros: José Fabrício de Carvalho Leal (9º período), Raile Bezerra de Sousa (8º período), Tais Veloso, Viviane Araújo e Alan Kaio (6º período) coordenados por Ana Carolina Pacheco, docente na Licenciatura.
Participante da equipe desde 2018, José Fabrício avalia como enriquecedora a oportunidade de atuar junto ao grupo. “Através da pesquisa eu pude adquirir muitos conhecimentos. Saber que um mosquito por menor que seja transmite várias doenças é muito instigante. Durante esses quatro anos têm sido muito bom trabalhar com toda essa parte da entomologia médica e também isso acaba agregando em mim como ainda estudante ter a vontade de continuar pesquisando”, destaca.
Grupo de pesquisa analisando larvas coletadas
Recém-chegada ao grupo de pesquisa, Tais Veloso relata a sua expectativa quanto à oportunidade de compor a equipe. “Poder extrair ao máximo o que será ofertado aqui. Eu já participei do programa de iniciação à docência que é o PIBID, agora vou entrar em uma área totalmente diferente que é a da pesquisa. Acho isso interessante no Curso de Licenciatura em Biologia da UFPI , você poder trabalhar não só com a docência, também com pesquisa e pode juntar as duas que é algo que penso posteriormente. Pesquisar aqui dentro e levar para a sala de aula também. Expandir ao máximo, principalmente para o pessoal que está no Ensino Fundamental, as crianças podem e são um potencial para receber esses conhecimentos e levar as informações aos seus familiares, explica a discente."
Ensino, Pesquisa e Extensão
Ana Carolina Pacheco acredita no enriquecimento curricular dos estudantes ao ingressarem no grupo. "Os alunos vêm participar do nosso laboratório e acabam aprendendo não só a pesquisa em si, mas a escrever artigos científicos, resumos e resumos expandidos para apresentar em eventos científicos da área. Eles viajaram para diversas cidades do País; Fazer cursos para complementar como Cursos de Verão em Entomologia, em Genética e geralmente são beneficiados porque já fazem parte de um grupo de pesquisa, já que a seleção geralmente é realizada por análise de currículos. Ter experiência de iniciação científica é extremamente importante para que esses alunos sejam selecionados para cursos em instituições como USP, UFMG, UFRB que é para onde nossos diversos alunos já tiveram a oportunidade de ir, além de seguir na carreira acadêmica através de mestrado e doutorado”, explica a docente.
Outro fato extremamente importante destacado por Ana Carolina Pacheco é que estando em um Curso de Licenciatura eles têm a possibilidade de praticar a docência. "Hoje, nós temos o Fabrício e a Rayla que são alunos que estão comigo a mais tempo, aproximadamente 4 anos, tendo a possibilidade de passarem seus conhecimentos adquiridos aqui, ensinando e treinando os novos membros da nossa equipe. Então, como estamos dentro de um Curso de Licenciatura é extremamente importante que esses alunos tenham a oportunidade de fazer a pesquisa, de trabalhar com a pesquisa aplicada, mas de também ter a capacidade de realizar um treinamento, de passar o conhecimento que eles adquiriram durante o tempo que fazem parte do grupo", destaca a professora.
Monitoramento
Neste retorno, a coleta das larvas têm sido realizadas através de armadilhas do tipo Larvitrampas (confeccionada de pneu), mas em breve serão instaladas as armadilhas do tipo Ovitrampa (confeccionada de vaso plástico e palheta de madeira). Depois da coleta é feita a triagem das larvas, onde são armazenadas em potes com água limpa onde ficarão até chegarem a vida adulta (mosquito alado). O monitoramento e manutenção das larvas em laboratório é feito diariamente até que as formas imaturas atinjam o estágio de mosquito alado para que seja realizada a completa identificação dos indivíduos coletados.
Coleta de larvas armadilhas na armadilha Larvitrampas
Publicação
A professora Ana Carolina Landim Pacheco, do curso de Ciências Biológicas, do Campus Senador Helvídio Nunes de Barros da Universidade Federal do Piauí (UFPI), assina o artigo “Mapeamento de mosquitos Aedes spp. e detecção do vírus Dengue em zona urbana do município de Picos, Piauí”, publicado em janeiro de 2022, na Research, Society and Development.
No artigo, a pesquisadora descreve pela primeira vez sobre o mosquito Haemagogus spegazzinii, como relato muito importante deste tipo de mosquito em uma área de Caatinga restrita em um local periurbano e peridomiciliar. "Na pesquisa fizemos o monitoramento através das larvas e agora também através dos ovos para ver quais as espécies encontradas aqui. No Brasil nós temos duas espécies principais do gênero Aedes que são: o Aedes aegypti e o Aedes albopictus que é considerado mais silvestres, então, ele não ficava muito próximo aos ambientes domiciliares, mas inclusive no artigo mostrou a presença do Aedes albopictus em diversos cantos mesmo no intradomicílio que também é uma das primeiras publicações aqui no País já que esse mosquito não é original daqui ele é conhecido como Tigre Asiático" explica a docente.
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Inseticida natural
O Lapedone é formado por um grupo de professores e a professora Márcia Maria Mendes Marques que desenvolve pesquisas de extratos de plantas que podem ser utilizados como larvicidas naturais. Conforme Carolina Pacheco," trabalhamos fazendo testes de funções larvicidas. Tantos os larvicidas que são trabalhados pelas autoridades de saúde que fazem o combate a esses insetos vetores pesquisados como também testamos os produtos que são utilizados provenientes de plantas. Produtos que são naturais para ver se eles têm essa função larvicida. Para que consigamos fazer na verdade um controle dos insetos sem causar danos ao meio ambiente, porque esses inseticidas podem trazer algum dano, quando esses tipos de inseticidas são jogados no meio ambiente", finaliza a docente.