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Mudanças Climáticas: Uma Realidade com Impactos Diretos na Alimentação e Saúde
Maísa de Lima Claro, Doutoranda em Saúde da Família RENASF/UFPI, Mestre em Ciências e Saúde UFPI/CMPP, Nutricionista da Secretária Municipal de Saúde de São João do Piauí; Natália Santos Luz, Especialista em Saúde Pública e Preceptoria no SUS, Nutricionista da Secretária Municipal de Saúde De Picos; Danilla Michelle Costa e Silva, Doutora em Ciências FSP/USP, Professora Adjunta do curso de Nutrição CSHNB/UFPI. Nos últimos anos os cientistas têm chamado a atenção dos órgãos governamentais e da população para o acelerado desmatamento das florestas e o constante aumento da poluição ambiental que tem ocasionado sérias mudanças climáticas ao redor do mundo. Em 2019, o relatório da Comissão The Lancet definiu “Sindemia Global” como a interação entre as pandemias da obesidade, desnutrição e mudanças climáticas. No dia 14 de janeiro de 2025, a cidade de Picos, localizada a 310 km da capital Teresina, no estado do Piauí, vivenciou os efeitos advindos de mudanças climáticas na região. A população teve uma madrugada aterrorizante, com pancadas de chuvas que ultrapassaram os 150 mm, provocando o alagamento de várias ruas e casas devido à forte enxurrada, levando a um verdadeiro cenário de destruição e trazendo como consequência direta a morte de duas pessoas. Os meteorologistas afirmam que o acúmulo de grandes volumes de água em curtos espaços de tempo pode ser ocasionado pelo aumento da prática de queimadas da flora nativa, invasão do leito de rios e córregos, aliado ao crescimento populacional e urbano desordenado, o que gera mais poluição e acarreta impactos profundos na natureza. Dessa maneira, as mudanças climáticas têm repercutido em regiões outrora muito chuvosas vivenciarem períodos de secas prolongadas, ao passo que em regiões de clima árido as chuvas estão se fazendo presentes com maior intensidade. Esse cenário tem atingido diretamente os sistemas alimentares, especialmente, a produção agrícola, e contribuído para uma maior insegurança alimentar. Isso porque há diminuição ou até mesmo a escassez de determinados alimentos básicos, do tipo in natura, que constituem o hábito alimentar nas regiões mais afetadas. Com a elevação no preço desses alimentos, há uma maior procura por parte da população por estratégias alimentares mais baratas, que estejam acessíveis para consumir em todos os períodos e que supram as necessidades energéticas. Nesse ínterim, muitas pessoas acabam recorrendo a alimentos ultraprocessados. O alto consumo desse tipo de alimento exacerba a insegurança alimentar e nutricional, pois o aporte de nutrientes é deficitário, ao passo que são ricos em açúcares, gorduras e sal. Com isso, há uma predisposição à má nutrição que pode ser manifestada pelo excesso de peso, surgimento das doenças crônicas não transmissíveis e por carência de micronutrientes. Uma preocupação adicional reside no fato de o público infantil, especialmente em seus dois primeiros anos de vida, estar exposto à má alimentação. Essa fase é determinante para assegurar o pleno crescimento e desenvolvimento das crianças que, de uma vez expostas à uma alimentação não saudável, podem ter seu futuro comprometido, com maiores chances de adoecimento, repercutindo negativamente na vida adulta, o que acaba, também, impactando na economia da região. Diante do exposto, considerando os recentes fenômenos climáticos em todo o mundo, é urgente a retomada da discussão da Sindemia Global, com vistas ao seu enfrentamento e alcance da saúde dos seres humanos, meio ambiente e planeta. Nesse sentido, são propostas pela Comissão The Lancet, dentre outras, ações que impactem nos sistemas de alimentação, transporte, desenho urbano e uso do solo. Para a sociedade em geral, urge a necessidade de repensarmos as nossas atitudes frente à natureza e buscar estratégias que visem melhorar o ambiente em que estamos inseridos, com vistas à uma melhor qualidade de vida a curto, médio e longo prazos. Referências ALPINO, Tais de Moura Ariza et al. Os impactos das mudanças climáticas na Segurança Alimentar e Nutricional: uma revisão da literatura. Ciência & Saúde Coletiva, v. 27, p. 273-286, 2022. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232022271.05972020 CLARO, Maísa de Lima et al. Rev. Bras. Saúde Mater. Infant., Recife, v. 22, n. 3, p. 721-726, 2022. DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9304202200030016 MELO, Laryssa Rebeca de Souza et al. Comer bem é comer saudável: mas por que comemos o que comemos? 2020. Disponível em: https://obha.fiocruz.br/?p=742 SWINBURN, B. A. et al. The global syndemic of obesity, undernutrition, and climate change: the Lancet Commission Report. Lancet, v. 393, p. 791-846, 2019 https://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2025/01/14/gerente-da-caixa-economica-morre-ao-tentar-salvar-cachorro-durante-temporal-picos-no-sul-do-piaui.ghtml