Pesquisa inédita da UFPI revela o perfil de jovens que ingressaram no ensino superior de Parnaíba

Nos últimos anos, o Brasil aumentou consideravelmente o número de alunos no ensino superior. Os estudantes de 18 a 24 anos que frequentam ensino superior no Brasil somavam 58,5% do total de estudantes nessa faixa etária em 2014, conforme os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pensando em fomentar esta discussão sobre educação superior no país, a estudante de iniciação científica Jullyane Frazão Santana e seu orientador, Prof. Dr. Samuel Pires do Departamento de Ciências Sociais e da Educação do Campus Ministro Reis Veloso da Universidade Federal do Piauí desenvolveram o projeto de pesquisa sobre “O ensino superior de Parnaíba pelo perfil de jovens rurais e pescadores das áreas das ciências da natureza do CMRV/UFPI”.

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Estudante de iniciação científica Jullyane Frazão Santana

A pesquisa foi premiada em 2º lugar como destaque da Iniciação Científica 2016 área de Ciência humanas e sociais, letras e artes durante o XXV Seminário de Iniciação Científica da Universidade Federal do Piauí.  “Nosso objetivo foi debater no âmbito das juventudes que constroem suas identidades através das vivencias entre os espaços urbanos e rurais, pois acreditamos que os jovens rurais são atores sociais que constroem identidades particulares em meio a coletividades rurais e em relação a outras juventudes, mas que, apesar disso, esta é uma categoria que necessita ainda ser melhor compreendia”, explica Jullyane Frazão.

Segundo a estudante de iniciação científica voluntária, o estudo foi resultado da análise de 38 questionários, respondidos por jovens que se originam de comunidades rurais e pesqueiras e frequentam regularmente os cursos da área de ciências da natureza da Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Reis Veloso.

“Com base nos resultados obtidos, nós analisamos a relação entre juventude rural e os programas de interiorização e expansão universitária que estão se desenvolvendo no Brasil, visando inferir os contributos destes para o acesso e permanência dos jovens rurais no ensino superior. Procuramos traçar o perfil sociocultural desses jovens, com o intuito de apontar alguns traços das trajetórias escolares e identificar suas expectativas para o futuro com base na conclusão do ensino superior”, pontuou.

De acordo a pesquisa, foi constatado no perfil socioeconômico dos jovens que:  60,5% são do sexo masculino; 26,3% julgam-se brancos, 21,1% negros, 2,6% amarelos e a metade 50% pardos. Com base na sexualidade, tem-se que quase todos 94,7% são heterossexuais e 89,5% são solteiros. Em relação a renda familiar, 13,2% afirmam que a renda vai até um salário mínimo, enquanto que 34,2% apontam de um até três salários mínimos, 50% afirmam que não sabem e 2,6% não responderam.

“Os jovens que responderam a nossa pesquisa são representantes de uma pequena parcela que conseguem atingir o status de universitários do sistema público, pois o acesso às universidades é muito escasso e as dificuldades são muitas, sendo assim são poucos os jovens das comunidades rurais que conseguem dar continuidade aos seus estudos, e quando o fazem, encontram-se nas redes de ensino privada, na modalidade semipresencial e em muitos casos em cursos que não são de seu interesse”, salienta.

Já em relação as trajetórias escolares dos estudantes em questão, Jullyane Frazão e o Prof. Dr. Samuel Pires notaram que uma das estratégias utilizadas pelos jovens para concluir a educação básica é a migração e que o resultado obtido confirma a influência direta da busca por educação como uma das consequências para o aumento dos fluxos migratórios

“Considerando o todo, tem-se que 84,2% cursaram o ensino fundamental integralmente em escola pública, e um percentual de 13,2% cursou, apenas, a maior parte nessa rede de ensino, tendo em algum momento frequentado a rede particular, vale ressaltar que apenas 2,6% diz ter cursado a maior parte em escola privada. Um pouco mais da metade dos respondentes (55,3%) cursou o ensino regular em nível de fundamental em escolas da zona rural, entretanto, uma parcela significativa (44,7%) já evadiu do meio rural/comunidades pesqueiras logo nos primeiros anos da escolarização. Quando voltamos nosso olhar para o ensino médio, percebemos que a grande maioria (81,6%) permaneceu na rede pública, ao passarem para esta etapa 7,9% cursaram integralmente em escola particular, outros 7,9% a maior parte em escola pública, tendo em algum momento frequentado a rede particular, apenas 2,6% permaneceu cursando a maior parte em instituição privada. Levando em consideração o todo, 97,4% cursaram o ensino médio na modalidade regular, e apenas 2,6% concluiu por meio do curso supletivo. Apenas 31,6% dos respondentes permaneceram na zona rural/ comunidades pesqueiras, com isso percebemos uma queda significativa na permanecia desses jovens em suas localidades de origem, ou seja, na medida em que o nível de escolaridade aumenta a evasão dessas comunidades também. Tal colocação pode ser confirmada pelo o crescimento no percentual de jovens (68,4%) que passaram a frequentar as escolas em perímetro urbano”, Explicam.

A Pesquisa também analisou os dados sobre a dedicação dos jovens ao estudo. “ Percebe-se que a maioria dos estudantes tem condições de vivenciar a universidade sem precisar trabalhar e o fazem, visto que 42,1% nunca trabalhou, 39,5% já trabalhou mas não trabalha atualmente e apenas 18,4% trabalha em bens e/ ou serviços na cidade. Uma informação importante a ser discutida, é o fato de que 97,4% dos estudantes nunca tiveram que parar de trabalhar para estudar, ou seja, mais da metade dos jovens tiveram que trabalhar e estudar ao mesmo tempo. Tal afirmação contribui com o fato de, a esses jovens, serem ofertados subsídios para poderem ingressar no ensino superior, contribuindo para sua possível formação e ingresso no mercado de trabalho, possuindo uma melhor qualificação que fornece assim, melhoria em sua qualidade de vida”, analisa a pesquisadora.

Com relação as mudanças que a formação superior representa em suas vidas e na vida da família, o estudo apontou que, 50% dos jovens apontam para melhorias na condição financeira e/ou ajudar a família, 26,3% apontam para o fato de se tornarem orgulho e/ou exemplo de transformação para a família e a comunidade, sendo que 18,4% apontam pra a formação como uma forma de conquista pessoal e profissional e 5,3% não responderam essa questão. Destes, 74,3% pretendem prestar concurso público, bem como investir em formação continuada e/ou retornar ao local de origem, 2,6%, respectivamente, atuar em outra área e prestar concurso público e 23,7% consideram apenas formação continuada.

De acordo com o professor Samuel Pires,  a pesquisa “O ensino superior de Parnaíba pelo perfil de jovens rurais e pescadores das áreas das ciências da natureza do CMRV/UFPI” é de suma importância para estudos que compreendam as juventudes rurais e a sua inserção em instâncias de ensino superior e contribui também para a discussão acerca da formulação de políticas públicas que considerem a importância de apropriar-se dos aspectos sociais, culturais e econômicos que influenciam diretamente nas trajetórias educacionais dos jovens em questão.