Medicamento para HIV inibe replicação do vírus corona em laboratório

Pesquisa da Fiocruz, com financiamento da CAPES, indica que atazanavir pode ser útil no combate ao novo coronavírus. Programa de Combate às Epidemias concedeu bolsas para 10 programas de pós-graduação da instituição.

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Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) conseguiram inibir a replicação do novo coronavírus utilizando o medicamento atazanavir. O estudo é mais um que conta com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e recebeu bolsas pelo Programa de Combate às Epidemias.

Criado em 2003, o atazanavir é usado no tratamento de pacientes com HIV. Nos testes feitos pelos pesquisadores da Fiocruz, o remédio ajudou a reduzir a produção de proteínas que estão ligadas ao processo inflamatório dos pulmões, diminuindo o agravamento da COVID-19. Durante os procedimentos, também foi feita uma combinação desta medicação com outro medicamento antirretroviral, o ritonavir.

Thiago Moreno, virologista da Fiocruz e coordenador da pesquisa, explica que o novo coronavírus é similar ao vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) de causou uma epidemia em 2002. Na época, uma das moléculas que conseguiu inibir o vírus foi a substância lopinavir. Esse medicamento foi testado com a SARS no início dos anos 2000 e usado em 2012, durante o surto da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS).

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Segundo o virologista, os pesquisadores atuaram para inibir uma enzima do vírus chamada protease, que é um alvo já consolidado para o combate ao coronavírus. “Tentamos avaliar se outros inibidores da protease mais contemporâneos conseguem inibir a replicação do vírus ao interagir com esse alvo. Descobrimos que conseguem e de uma maneira até superior ao loponavir”, afirma Moreno.

Os estudos foram realizados na fase pré-clínica e divididos em três etapas. Na primeira, por bioinformática, os pesquisadores conseguiram determinar que o atazanavir se liga mais fortemente ao vírus em comparação com o lopinavir. A segunda etapa foi marcada por ensaios com a protease do vírus. Por último, foram feitos ensaios com células infectadas do novo coronavírus.

Os dados clínicos de pacientes com a COVID-19 mostram que quando a doença evolui para um quadro grave, o organismo tem uma reação pró-inflamatória descontrolada. “Nossos achados de que o atazanavir consegue inibir a replicação viral e com isso diminuir os níveis de mediadores respiratórios, pode ser uma vantagem competitiva desse fármaco no seu desenvolvimento clínico contra a COVID-19”, afirma Thiago Moreno.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) busca quais medicamentos são mais recomendados para tratar clinicamente os pacientes acometidos com a doença. A pesquisa da Fiocruz ainda não está na fase de testes em pacientes. O virologista ressalta que os estudos podem evoluir para testes clínicos e oferecer uma alternativa para o tratamento se as opções em estudo pela OMS não tiverem resultados positivos. “Estamos em uma situação pandêmica que não tem precedentes. É muito importante que a gente tenha alternativas”.

Os testes realizados pela Fiocruz até o momento foram in vitro, que são em ambientes controlados. As próximas etapas da pesquisa são testes in vivo – tecidos com vida, e, posteriormente, ensaios clínicos com pacientes. Todas as etapas são necessárias para confirmar se o atazanavir é efetivo contra a COVID-19.

Combate às Epidemias
A CAPES está financiando pesquisas que contribuem direta ou indiretamente para o combate ao novo coronavírus pelo Programa de Combate às Epidemias

O Programa é desenvolvido em três etapas e terá investimento de R$200 milhões em quatro anos. Na primeira delas, que beneficiou a Fiocruz, foram distribuídas 900 bolsas para Programas de Pós-Graduação (PPGs) com notas 5, 6 e 7. A segunda, cujo edital para inscrição de propostas está aberto, financiará até 30 projetos de pesquisa, concedendo mais 900 bolsas para a área de saúde. Na última fase do programa serão distribuídas mais 800 bolsas com abrangência para cursos das áreas de Saúde e Exatas. Confira o edital nº 09/2020.

Na Fiocruz, dez PPGs receberam bolsas por meio desta ação emergencial, são eles: Biologia Parasitária, Biologia Celular e Molecular, Ciências da Saúde, Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa, Saúde Pública, Medicina Tropical, Epidemiologia em Saúde Pública, Saúde Pública e Meio Ambiente, Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas, e Biociências e Biotecnologia em Saúde.

Além da CAPES, a pesquisa da Fiocruz recebe financiamento da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Fonte: CCS/CAPES

(Brasília – Redação CCS/CAPES)