Discussão do PET Saúde Equidade foi realizada na Sala de Vídeo I do CCHL
Aconteceu na terça-feira (23), no Centro de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal do Piauí (CCHL/UFPI), a oficina Saúde Mental e Liberdade: Setembro Amarelo e a Luta Antimanicomial. Realizado das 14h30 às 16h30, o encontro reuniu especialistas, usuários dos serviços de saúde mental e acadêmicos para discutir políticas, práticas de cuidado e os impactos sociais relacionados ao tema.
Promovido em alusão ao Setembro Amarelo e às lutas antimanicomiais, o evento teve como propósito ampliar o debate sobre esses movimentos sociais, apresentar o projeto desenvolvido pela universidade e ressaltar a importância de reflexões que subsidiem políticas públicas e práticas de cuidado mais inclusivas.
Momento de debate
Participaram do debate a professora Lúcia Rosa (UFPI), a terapeuta ocupacional Marta Evelyn (CAPSad) e Olavo Ferreira, usuário do Centro de Atenção Psicossocial Leste, entre outros convidados, que traçaram a trajetória da luta antimanicomial no Piauí e destacaram a relevância das mobilizações locais.
Professora Lúcia Rosa
De acordo com a professora do Departamento de Serviço Social, Lúcia Rosa, a proposta deste encontro é discutir a mobilização social a partir da luta antimanicomial, que se distingue de outros movimentos. “Defendemos a desconstrução do manicômio, tanto em sua forma física quanto nas práticas culturais associadas. A liberdade não deve ser tutelada; nosso debate gira em torno disso. Quanto ao Setembro Amarelo, considero fundamental que a discussão sobre suicídio não se limite a este mês. É preciso reconhecer que o tema faz parte da vida e ir além da análise de risco: focar em ações de prevenção e desenvolver novas formas de cuidado, baseadas na perspectiva comunitária, que não se restrinjam apenas aos profissionais de saúde mental. Saúde mental é um assunto de toda a sociedade”, afirmou.
Os palestrantes também chamaram atenção para o alarmante cenário local: o Piauí figura entre os Estados com maior taxa de suicídio no país, um fato que, segundo os organizadores, exige respostas sociais abrangentes e incentivo à busca por ajuda especializada.
Olavo Ferreira
Emocionante, o depoimento de Olavo Ferreira trouxe à tona a experiência de quem vive o processo de cuidado no CAPS. “Faço tratamento há bastante tempo e, hoje, consigo seguir com minha vida. Já tive internações em sanatórios e hoje faço tratamento com medicação, mas muita gente encara isso como frescura, e esse preconceito atrapalha a busca por ajuda. Precisamos desmistificar o assunto”, relatou Olavo.
Marta Evelyn
A terapeuta ocupacional Marta Evelyn trouxe a experiência profissional e militante, conectando a pauta antimanicomial ao Setembro Amarelo e às dinâmicas de adoecimento contemporâneas, em especial entre estudantes. “Queremos conectar a luta antimanicomial ao Setembro Amarelo e incentivar que os alunos reflitam e se envolvam. Nas universidades há um adoecimento crescente, e o preconceito muitas vezes impede a pessoa de falar e procurar ajuda. Vamos tratar de como e onde pedir apoio, tudo isso relacionado a vínculo, a apoio e à conexão com o outro. Estamos cada vez mais conectados virtualmente e, ao mesmo tempo, desconectados entre nós. Essa sensação de desamparo e solidão pode levar ao desespero. Nada substitui o olhar no olho; a carência é esse contato humano”, enfatizou Marta.
Ao longo da oficina foram reforçadas orientações para identificar sinais de risco, incentivar a escuta qualificada e divulgar caminhos de atendimento. Organizadores e palestrantes defenderam a ampliação das redes de acolhimento e a promoção de práticas comunitárias de cuidado como caminhos para enfrentar o problema de forma permanente.