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Tela Sociológica exibe o filme "The Sunset Limited" para abordar o tema suicídio

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Última atualização em Segunda, 29 de Abril de 2019, 11h50

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Cartaz do filme "The Sunset Limited"

Acessar os mais variados temas através da linguagem cinematográfica é um dos objetivos da Tela Sociológica. Uma perspectiva metodológica que estabelece um diálogo entre olhares, em especial os dos cineastas e os dos sociólogos. Pensando nisso, para a abordar o tema suicído, a Tela Sociologa da próxima terça-feira (30) exibirá o filme "The Sunset Limited", às 16h, na Sala de Vídeo I do Centro de Ciência Humanas e Letras (CCHL).

Na abordagem do tema suicídio, é proposto um encontro entre o ator/diretor Tommy Lee Jones e os sociólogos que analisaram os comportamentos dos suicidas, em particular Émile Durkheim na sua clássica obra “O Suicídio”. O filme que embasa o debate é THE SUNSET LIMITED, escrito por Cormac McCarthy. No cartaz da sua divulgação, está registrada a seguinte frase: “Nada é para sempre”. Em cena, um cerebral encontro entre dois homens adultos. Um negro, ex-presidiário e seguidor de Jesus Cristo. O outro, branco, professor e com ideações suicidas. Dentro de um apartamento fechado, a dupla masculina mergulha em uma profunda reflexão em torno dos sentidos e absurdos existenciais. O nome dos personagens não recebe menção ao longo da narrativa. Nos créditos finais, os atores são nomeados em função de suas cores: Black e White. Tudo começa após o primeiro ter evitado que o segundo se jogasse na frente de um trem, em uma estação de metrô.

set.jpgCena do fime "The Sunset Limited"

Na sequência, eles vão dialogar dentro de um apartamento fechado. O texto que proferem mostra uma teatralidade cinematográfica que valoriza as palavras. O filme inteiro é ambientado dentro das quatro paredes do espaço onde eles foram conversar. “Então, o que devo fazer com você, professor?” Pergunta disparadora de um embate entre posicionamentos diferentes sobre o valor da vida. “O cinema pensa”. Na sua “introdução à filosofia através dos filmes”, Julio Cabrera promove um encontro entre Schopenhauer e cineastas para refletirmos sobre questões filosóficas. Os pensadores da “imagem-movimento” pensam na alteridade dos contatos humanos quando projetam questionamentos sobre os lados sombrios e luminosos da humanidade. “Pode-se esperar que os outros nos ajudem quando precisamos deles?” Em seus exercícios filosóficos, Cabrera usa textos schopenhauerianos e fílmicos para pensar sobre a “vontade de viver” na existência que “oscila entre a dor e o fastio”.

Munido de uma Bíblia, o ex-presidiário, no ato de ter evitado que o professor consumasse o seu suicídio, com boa vontade tenta convencer o seu interlocutor para que ele desista da sua mortífera intenção. Em nome de Deus, argumenta segundo as suas referências cristãs. Serão elas consistentes e convincentes diante dos fundamentos expostos pelo decidido professor no seu objetivo de não mais querer continuar vivendo? Somos estimulados a pensar sobre o que diríamos para alguém com uma firme decisão de pôr um ponto final na sua caminhada terrena. Nossa argumentação teria uma potência de convencimento em favor da ideia de que vale a pena prosseguir vivendo? Vamos ouvir alguns fragmentos das falas de quem, na “escuridão”, justifica as razões da sua desistência de continuar tocando em frente a sua existência: “A imagem mais escura é sempre a correta. Quando você lê a história do mundo está lendo a saga de derramamento de sangue, ganância e loucura que é impossível de ignorar. E ainda assim imaginamos que o futuro de alguma ...será diferente. Não faço ideia por que ainda estamos aqui. Provavelmente não vamos estar aqui por muito mais tempo”. Discurso subjetivo desalentado, desencantado e decepcionado com um processo histórico violento, injusto, desigual e insano. Um dramático discurso a levar em conta o contexto social de quem o emite. Situado na sociedade do espetáculo, ele assiste a uma série de barbáries nas telas que invadem o seu cotidiano. Sua sensibilidade fica saturada pelo excesso de horrores e terrores dos shows nossos de cada dia. A exibição de tais cenas eleva os índices de audiência. Quais os seus impactos na saúde mental dos que são por elas atingidos?

A Sociologia durkheimiana apresenta o suicídio “como fenômeno social” e alerta para os perigos dos abalos experimentados em contextos sociais críticos: “...A grande elevação das mortes voluntárias atesta não o florescimento crescente de nossa civilização, mas um estado de crise e de perturbação cujo prolongamento não pode deixar de ser perigoso”. Indivíduos perturbados em situação de “tristeza coletiva” são casos para a saúde pública. Em suas subjetivações, o professor da obra fílmica focalizada, na sua pretendida morte voluntária, fundamenta o “estado patológico” civilizacional de um mundo atual sombrio. A voz, no escuro existencial, na incerteza e sob o império do efêmero, registra a fragilidade das suas referências de conexão com a vida: “Coisas culturais, por exemplo, livros, música, arte, coisas assim. ...Essas são as coisas que têm valor para mim. São os alicerces da civilização. Bem, elas tinham valor para mim. Elas já não têm mais muito valor. ...As pessoas pararam de valorizá-las. Eu parei de valorizá-las até certo ponto. ...Não sei se posso lhe dizer por quê. Aquele mundo praticamente não existe mais. Logo terá desaparecido completamente. ...As coisas que eu amava eram muito fracas, muito frágeis. Eu não sabia. Eu pensei que elas eram indestrutíveis. Mas não eram”. Objetivo e sem fé religiosa, o professor não enfeita a sua visão mundana: “As coisas em que acreditei não existem mais. É tolice fingir que existem. A civilização ocidental finalmente virou fumaça nas chaminés de Dachau, e eu estava muito enfeitiçado para ver. Mas agora eu vejo”. Chegou a sua vez de refletir sobre o que você diria em resposta às argumentações de quem quer finalizar o seu trajeto terreno. Na poética desalentada de Florbela Espanca, o que dizer para quem quer deixar “entrar a Senhora Dona Morte, a Iluminada”?

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