TELA SOCIOLÓGICA: PIXOTE – A LEI DO MAIS FRACO

Data: 27/11/2017

Horário: 16:00

Sala Newton Lopes 

O Cinema põe o pé no chão e toca nas mazelas sociais. Imagens realistas para pensarmos sobre as dramáticas situações cotidianas. Cinema para além do entretenimento. Obras provocativas que incomodam por desvendarem as precárias condições existenciais de parcelas significativas das nossas populações. Arte cinematográfica sem fronteiras. O diretor Hector Babenco foi um diretor sensível, criador de filmes focados em algumas tragédias brasileiras. Artista antenado com os sinais dos nossos ambivalentes tempos. Progressos e regressões de um mundo “globarbarizado”. Barbáries vistas nas brutalidades nossas do dia a dia. Espetáculo de violências exibidas pelos abutres midiáticos. Banalização e dramatização dos atos violentos, transformados em produtos de consumo. Programas “barras pesadas” têm altíssimos índices de audiência. Um tema recorrente no repertório fílmico de Babenco é o sistema prisional brasileiro. Prisões que são uma das faces do nosso terror institucionalizado. Abrindo os anos 80, do século passado, as telas cinematográficas dos nossos brasis projetaram os bastidores dos “reformatórios de menores” daquele momento histórico. Como estão os seus equivalentes nos dias de hoje? PIXOTE – A LEI DO MAIS FRACO foi exibido décadas passadas e pode ser usado como um parâmetro para pensarmos, aqui e agora, sobre o como estão sendo tratadas as nossas crianças e adolescentes, principalmente as que são pobres e criminalizadas. Como está sendo aplicado o Estatuto a elas direcionado? Quais os avanços e retrocessos das políticas voltadas para a “meninada” ou “garotada”? Também falam em “pivetada” ou “gurizada”. Perguntas de direitos humanos. Babenco expôs o seu olhar. Choque e indignação para espectadores sequiosos por mudanças estruturais e justiça social. Estando em uma outra conjuntura histórica, exibir PIXOTE para uma leitura crítica do seu discurso, mostra a extensão temporal de um trabalho artístico que provoca reflexões para pensarmos a atualidade. Um espelho para percebermos os saltos qualitativos e os nós de um país Belíndia nas suas escandalosas desigualdades. Bélgica e África dentro do continente brasileiro de exclusões e apartheids. Abrindo PIXOTE, Babenco emite uma fala que contextualiza a sua visão cinematográfica:

Isto aqui é um bairro de São Paulo, grande polo industrial da América Latina, responsável por 60 ou 70% do Produto Nacional Bruto desse país. Brasil é um país com 120 milhões de habitantes, aproximadamente 50% estão abaixo dos 21 anos de idade. Dos quais, aproximadamente também, 28 milhões de crianças vivem numa situação abaixo das normas exigidas pelos direitos internacionais da criança das Nações Unidas. Existem ainda, aproximadamente, nesse país 3 milhões de crianças que não têm casa, que não têm lar e que não têm origem familiar definida. A situação da criança é tanto mais caótica quando se sabe que a criança é só passiva de condenação por algum delito cometido após os 18 anos de idade, o que permite o aliciamento das crianças menores de 18 anos, por parte de alguns adultos para que elas possam cometer algum tipo de crime ou de delinquência sabendo que elas não serão punidas. No máximo, serão enviadas a um reformatório onde conviverão um par de meses, onde, pela pressão e pela falta de vagas serão automaticamente colocadas em liberdade. Esse bairro, por exemplo, se trata de um bairro onde vivem famílias de operários, de fábricas vizinhas, fábricas muito grandes. O quadro típico é que o pai e a mãe vão trabalhar e as crianças ficam em casa. E quem toma conta, normalmente, é uma irmã maior ou alguma vizinha que é paga pra isso. Fernando, por exemplo, que é o personagem principal do filme “Pixote” vive com a mãe e mais 9 irmãos nessa casa, certo? E o filme inteiro é representado por crianças que pertencem a esta origem social. Comentários: Prof. Francisco Barros Júnior.