Data: 30/09/2016
Horário: 16:00 e 18:00
Local: Sala Monsenhor Melo
Organização: Prof. Francisco de Oliveira Barros Junior/Departamento de Ciências Sociais
Entre no carro do Sr. Badii que ele tem um serviço para te propor. O Pagamento é vantajoso. Ele oferece 200.000 tomans. Percorrendo as vias de Teerã, Badii quer contratar alguém para jogar pás cheias de terra sobre o seu corpo, após ele ter praticado o suicídio. Três homens recebem tal proposta e cada um deles explicita uma reação particular. GOSTO DE CEREJA. Um filme genial feito por um diretor original e de uma sensibilidade ímpar. Com profundidade, o diretor Abbas Kiarostami mostra a complexa questão do suicídio. Um texto fílmico permeado por sutilezas, humanidade, inteligência discursiva e que provoca o seu leitor. Uma singular situação é apresentada por variados prismas. Uma pluralidade discursiva para tocar em um tema “maldito”. Em um contexto de precárias condições sócio-econômicas, Badii tem um trabalho para quem quer ganhar uma boa grana. Nem todos topam tudo por dinheiro. Em tela, mais um conflito de valores. Um dos interlocutores de Badii é um seminarista muçulmano. Kiarostami dá voz para quem quer demitir-se da vida. As falas são substantivas. Diálogos inteligentes, com argumentos filosóficos que escapam dos simplórios julgamentos sobre os atos dos outros. Kiarostami merece todas as palmas. Os aplausos vão para um olhar penetrante sobre uma questão de saúde pública. Com Durkheim e Camus, o olho mágico do cinema amplia a interpretação compreensiva sobre uma cena humana, demasiadamente humana. Atentemos para o discurso de Badii sobre os sentidos da sua decisão de querer demitir-se da vida:
“Sei que minha decisão vai contra suas crenças. Você acha que Deus dá a vida e que a tira quando crê que é hora. Mas chega o momento em que um homem não pode continuar. Está exausto e não aguenta esperar pela ação de Deus. Aí, decide agir sozinho. É a isso que se dá o nome de suicídio”. Veja, a palavra “suicídio” não foi feita só para os dicionários. Ela precisa ter uma aplicação prática. E aqui está a aplicação. O homem tem que decidir sobre sua aplicação.”
“Eu decidi me libertar desta vida. Para quê? De nada adiantaria saber, e não posso falar a respeito. Se eu contasse, você não entenderia. Não é que não seja capaz de entender, mas não sente o mesmo que eu. Pode simpatizar, compreender, mostrar compaixão. Mas sentir minha dor, isso não. Você sofre, e eu também. Eu o compreendo. Você compreende minha dor, mas não pode senti-la”.
“Sei que suicídio é um dos pecados mortais. Mas ser infeliz também é um grande pecado. Quando está infeliz, você magoa outras pessoas. Isso não é pecado? Também não é pecado magoar os outros? Magoar sua família, seus amigos, a si próprio, não é pecado? Se eu magoar você, não é pecado mas se eu me matar, é? ...Acho que Deus é tão grande e misericordioso que não deseja ver suas criaturas sofrerem. Em sua grandeza é impossível que ele nos force a viver. Assim, oferece ao homem essa solução”. Comentários: Francisco de Oliveira Barros Junior