Data: 08/06/2016.
Local: Sala Newton Lopes
Horário: 16:00 e 18:00
Organização: Prof. Francisco de Oliveira Barros Junior/Departamento de Ciências Sociais
Shakespeare, em suas densas obras, revelou ser um profundo conhecedor da nossa humanidade. Quais as motivações que impulsionam as nossas ações? Do que somos capazes para atingir os nossos objetivos? Tais questões são ilustradas nos seus clássicos textos, marcados por personagens complexos, não reduzidos a simplórios maniqueísmos, comuns em escritos reducionistas. A ambiguidade e a contradição, marcantes nas performances humanas, são apreendidas por um sábio escritor. Quando pensamos sobre a questão do poder, o como conseguí-lo ou mantê-lo, Shakespeare dá aulas de compreensão acerca dos sentidos que regem os comportamentos humanos. Fico imaginando um encontro entre Shakespeare e Maquiavel para debaterem sobre os bastidores da política. Atemporais, descortinaram os conchavos, alianças e estratégias postas em movimento nas disputas políticas que atravessam o processo histórico humano. Júlio César é uma tragédia teatral Shakesperiana que representa os tronos manchados de sangue que escorreu ao longo dos conflitos históricos que tiveram seus registros. Júlio César ganhou uma versão cinematográfica dirigida por Joseph L. Mankiewick. A narrativa fílmica trata de ambição, ardis, bajulações, conspiração e golpe, ou seja, termos constituintes do glossário de quem participa das disputas políticas cotidianas. Marcos Brútus, Caio Cássio, Décio Brútus, Mételus, Cinna, Caska e Trebônio são os nomes dos conspiradores que apunhalaram Júlio César no Senado romano. Os citados sanguinários são modelares para todos os contextos da história política mundial. Ao lermos e vermos Júlio César, na atual conjuntura política brasileira, ficamos perguntando quem são os Brútus e Cássios do momento em que vivemos. A potência das palavras Shakesperianas atinge um clímax no discurso de Antônio. Na cena II do terceiro ato, diante dos plebeus, ele usa as armas verbais para atingir os golpistas daquela situação: “Amigos, romanos, compatriotas, emprestem-me os seus ouvidos! Venho enterrar César, e não tecer-lhe loas. O mal que os homens cometem vive para depois de suas mortes; o bem que fizeram quase sempre enterra-se junto com seus ossos. Então, que assim seja também com César. O nobre Brútus falou-lhes de como César era ambicioso; se assim foi, era um defeito grave, que lhe foi cruelmente cobrado. Aqui vim, com a licença de Brútus e dos outros – pois que Brútus é um homem honrado, e também o são os outros, todos homens honrados -, vim para falar no enterro de César. Ele era meu amigo, fiel e justo para comigo, mas Brútus diz que ele era ambicioso, e Brútus é um homem honrado. Ele trouxe muitos prisioneiros para Roma, cujos resgates abarrotaram os cofres do povo; isso era ambição em César? Quando os pobres choravam, César vertia lágrimas; a ambição devia ser feita de matéria mais dura. E, no entanto, Brútus diz que ele era ambicioso, e Brútus é um homem honrado. Os senhores todos viram que, nas Lupercais, por três vezes ofereci a ele uma coroa de rei, que três vezes ele recusou. Era isso ambição? E, no entanto, Brútus diz que ele era ambicioso, e com certeza ele é um homem honrado. Não falo para refutar o que Brútus disse, mas estou aqui para falar daquilo que eu sei. Todos os senhores amaram a César, e com justos motivos. Que motivos então os senhores têm agora para não se enlutarem por ele? Ó discernimento, tu te refugiaste nos mais brutos animais, e os homens perderam o juízo! Sejam pacientes comigo, meu coração está naquele esquife, com César, e preciso descansar, até que ele volte ao meu peito”. Comentários: Francisco de Oliveira Barros Junior