Data: 04/05/2016
Horário: 16:00 e 18:00
Local: Sala Newton Lopes
Organização: Prof. Francisco de Oliveira Barros Junior/Departamento de Ciências Sociais
“A tragédia da vida começa na relação entre pais e filhos” (R. Akutagawa). Tal afirmação abre o filme FILHO ÚNICO (Hitori Musuko), uma pérola cinematográfica de Yasujiro Ozu (1903 – 1963). Uma obra essencial, delicada, de sutilezas e profunda. Os pais investem, apostam nos filhos e criam expectativas em torno dos seus futuros. Em 1923, na Província de Shinshu, no Japão Central, uma mãe, viúva, dá toques para o seu filho: “Estude muito e se transforme em um grande homem. ...Farei o que eu puder por sua educação. ...Ninguém consegue prosperar sem educação hoje em dia”. Diante de tais lições, a promessa filial: “Aguarde, mamãe. Vou ser um grande homem”. Em função das precárias condições socioeconômicas em que viviam, ele vai tentar a sorte em Tóquio. Com mais de 25 anos e na década de 30, do século passado, fixa residência na cidade e vai trabalhar como professor noturno. No novo contexto, constitui família. Com a esposa e o filho enfrenta uma vida de dificuldades, entre as quais as de ordem financeira. A mãe vai visitá-lo e percebe que a sua cria não decolou do ponto de vista profissional. Naquelas circunstâncias, o trabalhador da educação enfrentava adversidades. Na ocasião da visita materna, ele chegou a pedir dinheiro emprestado para recebê-la em sua casa. Um dos pontos altos do filme é a cena na qual os dois dialogam em torno do insucesso dos objetivos traçados quando da decisão do filho de partir para uma experiência, em outro lugar, na busca por uma colocação ocupacional. Em outro momento da narrativa, a avó, com o neto em seus braços, indaga: “Pequenino, o que você vai ser quando crescer?” Pergunta que não conhece fronteiras espaciais e temporais. Quem não ouviu tal questionamento no período da infância? Questão inquietante e provocativa. Em torno dela Ozu constroe um texto fílmico tocante e que gera uma identificação com as nossas trajetórias de vida. No nosso processo de formação somos levados a pensar sobre a nossa vocação profissional e em muitos casos a busca por uma resposta a qual atividade laborial ou trabalho quero dedicar meu tempo, é marcada por incertezas e tensões. As pressões são as mais variadas e o encontro com a procurada resposta pode demandar paciência. Nas lentes de Ozu, um cineasta do cotidiano, o desassossego engendrado por tais situações é conduzido com humanismo e em detalhes. O foco é na subjetividade dos personagens. Imagens e falas traduzem, com simplicidade e beleza, o relacionamento entre mãe e filho no seu turbilhão de emoções e sentimentos paradoxais. Comentários: Francisco de Oliveira Barros Junior