Projeto de extensão incentiva produção agroecológica e empoderamento de mulheres rurais
Em Bom Jesus, há um grupo de mulheres rurais que está assumindo o protagonismo dos processos produtivos e econômicos e reconhecendo seus lugares nos processos sociais. Essas conquistas estão sendo possíveis com o apoio do projeto de extensão “Quintais agroecológicos e as mulheres no protagonismo dos processos produtivos e econômicos no território da Chapada das Mangabeiras”, coordenado pela professora Pollyana Oliveira da Silva, do curso de zootecnia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Professora Cinobelina Elvas (CPCE) em Bom Jesus.
O projeto é uma parceria entre a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (SEAD) do Governo Federal e o CPCE, por meio do Núcleo de Agroecologia e Arte do Vale do Gurgueia (NAGU). Iniciado em 2018, tem como objetivo acompanhar mulheres rurais na implantação de quintais agroecológicos, capacitação de suas produções e comercialização, e fortalecimento do seu processo de transição agroecológica no território da Chapada das Mangabeiras no Semiárido piauiense.
Dona Dalvina Falcão e a filha Maria Falcão no quintal
São atendidas 23 mulheres rurais das comunidades Piripiri e Buriti Seco, no município de Bom Jesus. Dona Dalvina Falcão, 69 anos, faz parte desse grupo. Ela tem um quintal com produção diversificada, como rúcula, pimentão, tomate, hortelã, capim santo, açafrão, banana, mamão e diversos outros produtos. O que não é consumido em casa é vendido para ser investido em outras necessidades da família e o projeto foi essencial para melhorar a qualidade da produção e a renda da dona Dalvina. “Eu gostei muito, porque agora eu aprendi, eu aprendi muito com os estudantes, tem planta que a gente não pode plantar perto da outra porque causa praga, tem que plantar cada qual num lugar separado”, destaca.
O aprendizado relatado pela dona Dalvina veio de cursos ministrados pelo projeto antes do início da pandemia da covid-19. As mulheres foram capacitadas em Sistemas Agroflorestais, com conteúdos como práticas sustentáveis, uso consciente do solo, produção de alimentos livres de agrotóxicos, como fazer uma composteira, conservação de sementes crioulas, o que é um quintal agroeflorestal agroecológico e a importância do conhecimento tradicional, além de participarem da implantação do quintal agroecológico modelo.
Outra capacitação foi para a gestão da Caderneta Agroecológica, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR). As mulheres aprenderam como é feito o preenchimento da caderneta e a sua importância para o empoderamento. Foi aí que Dona Dalvina percebeu o quanto produzia no seu quintal. “Antes, a gente plantava, produzia e não notava nada, não sabia o que dava, o que gastava, hoje eu sei, eu anoto e já sei o que produzo no meu quintal, então foi uma boa, melhorou muito”, frisou.
Professora Pollyana Oliveira da Silva, coordenadora do projeto
Segundo a professora Pollyana Oliveira, as mulheres são importantes para os agrossistemas e o fortalecimento nas suas atividades pode trazer mais qualidade de vida a partir do reconhecimento de seu lugar em processos sociais e produtivos. “O acompanhamento e assessoria em suas práticas produtivas e de comercialização garante um ambiente de empoderamento das mulheres, dando visibilidade e reconhecimento ao seu protagonismo nas esferas familiares, de grupos produtivos e na sociedade”, destacou.
Produtos são para consumo das famílias e comercialização na feira
Os quintais estão passando pela transição agroecológica, as mulheres receberam um kit com 14 produtos de jardinagem e cartilhas com o modo de preparo de alguns defensivos naturais. Além disso, o projeto realizou junto com elas em cada quintal as práticas de como preparar um biofertilizante e montar uma composteira. “As mulheres se tornaram guardiãs de sementes e já estão colhendo os frutos das implementações e aprimoramentos dos canteiros, aumentando as espécies de vegetais disponibilizadas para a família e na feira, com isso melhorando suas rendas”, salientou a professora Pollyana.
Outra conquista é o reconhecimento da comunidade e da família. Dona Dalvina diz que seu quintal tem recebido vizinhos e moradores de outras comunidades que querem aprender e fazer igual. “Com o projeto, os homens estão dando mais valor às mulheres, porque antes eles achavam que eram só eles que trabalhavam e sustentavam a casa, hoje eles estão vendo e notando o valor que as mulheres têm”, finaliza.
Quintais passam pela transição agroecológica
As mulheres atendidas passaram a integrar a Articulação em Rede Piauiense de Agroecologia (AREPIA). Estão envolvidos no projeto 11 docentes e 30 discentes dos cursos de bacharelado em zootecnia, licenciatura em educação do campo, bacharelado em agronomia, engenharia florestal, ciências biológicas e bacharelado em medicina veterinária.
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