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UFPI participa de estudo arqueológico sobre adolescente pré-colonial com séria má-formação congênita

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Last Updated: Thursday, July 20 2023 19:28

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Equipe do Laboratório de Osteoarqueologia (LOA-UFPI) durante análises com esqueleto Jéssica

As primeiras análises feitas pelo Laboratório de Osteoarqueologia (LOA) da Universidade Federal do Piauí, sob orientação da professora Claudia Cunha, acerca do esqueleto de uma garota indígena do período pré-colonial batizada carinhosamente pelos estudantes de Jéssica, expuseram resultados que intrigaram os pesquisadores, como deficiência na coluna, possíveis hábitos do grupo para auxiliar no seu deslocamento e artefatos e adereços enterrados juntos com a jovem. O estudo do esqueleto, encontrado no Sítio Arqueológico Toca do Olho D’Água das Andorinhas, no Parque Nacional da Serra das Confusões (PI), também conta com a participação das Universidades Federais de Minas Gerais e Vale do Rio São Francisco e Universidade de Paris X - Nanterre.

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Esqueleto foi localizado no Parque Nacional da Serra das Confusões (PI)

Jéssica foi encontrada pelos alunos e professores das mencionadas instituições de ensino e, posteriormente, trazida ao LOA-UFPI para ser estudada com o intuito de fazer sua osteobiografia – uma análise que busca saber como seria o indivíduo em vida (idade, sexo, estatura, condições de saúde, alimentação, entre outros. De acordo com a pesquisa, Jéssica teria cerca de 15-16 anos ao morrer, era indígena (com uma probabilidade de 99%), sem contribuição estrangeira na sua ancestralidade, e tinha cabelos negros e longos que estavam presos a uma trança quando foi depositada na cova.

As análises realizadas pelo LOA-UFPI mostraram uma má-formação congênita no osso sacro, que é indicativa de uma patologia conhecida como Espinha Bífida. Por ser um caso severo, as alterações ósseas observadas no esqueleto indicam que ela teria dificuldade de locomoção da jovem. Os achados demonstram como Jéssica foi bem tratada pela comunidade à qual pertencia tanto em vida, quanto ao momento de sua morte.

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Professora do Curso de Arqueologia da UFPI, Cláudia Cunha

“A pesquisa sugere que ela foi uma menina muito bem cuidada pela comunidade na qual nasceu e que essas pessoas dedicaram tempo, recursos, conhecimentos médicos e atenção para que ela sobrevivesse a uma má-formação congênita em grau severo”, explica a professora Cláudia Cunha, coordenadora do Laboratório de Osteoarqueologia da UFPI. “Esta menina é o testemunho da empatia e da solidariedade do seu grupo para com alguém que necessitava disso para sobreviver, e também da capacidade das comunidades indígenas no que se refere aos cuidados de saúde”

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Estudante do Mestrado em Arqueologia da UFPI, Ana Luzia Freitas

Além da professora Claudia, três discentes do Mestrado em Arqueologia da UFPI (Ana Luzia Freitas, Fernanda Lívia Costa e Bruna Brito) e mais um da graduação de Arqueologia (Yuri Mesquita) participaram das pesquisas relacionadas à Jéssica na UFPI. A mestranda Ana Luzia Freitas, que dedica seus estudos à criação do primeiro Banco de Dados relativo a Contextos Funerários do Brasil, reforça os cuidados da comunidade para com a jovem.

“A Jéssica foi muito bem cuidada pelos membros da comunidade a qual ela pertencia. Isso demonstra que houve um esforço comunitário, um esforço social, para que ela sobrevivesse por tantos anos. São muito raros os casos de indivíduos arqueológicos que chegaram à fase juvenil com uma patologia congênita grave como a dela”, acrescentou.

O trabalho foi iniciado com o estágio pós-doutoral de Tiago Tomé na UFPI sob supervisão do Professor Grégoire Van Havre. Posteriormente, Tiago passou a compor o corpo docente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da qual, desde 2022 vêm alunos para escavações no Piauí. A professora Cláudia Cunha, coordenadora do LOA-UFPI, fala da participação da universidade nos estudos.

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Artefatos foram enterrados juntos com o esqueleto 

“Desde o início temos dado suporte para a análise laboratorial dos materiais arqueológicos que, depois de estudados, passarão a compor parte do acervo do Museu de Arqueologia e Paleontologia da UFPI”, explicou.

A coordenadora ressalta ainda que a Universidade de Paris X – Nanterre e a Missão Franco-brasileira no Piauí, por meio do Professor Eric Boëda, tem ajudado com parte dos custos e também proporcionado análises laboratoriais, como a datação por Carbono 14, que está em andamento. Já a Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), através do Prof. Leandro Surya, tem colaborado com as análises de imagiologia do subsolo.

A mestranda Luzia Freitas demonstra a importância da parceria entre as universidades. “A ciência deve ser feita em conjunto, ser partilhada entres os cientistas, é uma relação mútua de troca de experiências e conhecimentos. É uma grande honra poder estar junto aos demais profissionais que fazem parte desse estudo”, disse.

As pesquisas na região da Serra das Confusões devem ser retomadas no final de julho e os pesquisadores esperam encontrar outras pessoas e mais objetos informativos sobre comunidade a que Jéssica pertencia. “Pretendemos ampliar a escavação no sítio-cemitério de onde veio esta jovem, encontrar outros enterramentos da sua comunidade que nos ajudem a montar um retrato mais humano dessas pessoas que domaram a caatinga”, afirmou a professora Claudia.

Confira mais fotos:

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