Ir direto para menu de acessibilidade.
Página inicial > Últimas Notícias - UFPI > Anfíbios e répteis da Era Paleozoica são encontrados no Nordeste
Início do conteúdo da página

Anfíbios e répteis da Era Paleozoica são encontrados no Nordeste

Imprimir
Última atualização em Domingo, 24 de Março de 2019, 16h17

Uma pesquisa desenvolvida pelo paleontólogo da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Juan Carlos Cisneros, juntamente com mais cinco cientistas estrangeiros descrevem a descoberta de novas espécies de anfíbios e um réptil no Nordeste brasileiro. Os fósseis encontrados possuem aproximadamente 278 milhões de anos, correspondendo ao período Permiano, referente ao final da era paleozoica, sendo mais antigo que os dinossauros.

Prof. Dr. Juan Carlos Cisneros

Segundo o prof. Dr. Juan Carlos Cisneros, até agora, tinha-se pouca informação sobre os animais que habitaram o hemisfério sul, e a pesquisa intitulada Nova fauna permiana do Gondwana tropical, estudo publicado na revista Nature Communications no último dia 05 de Novembro, foi desenvolvido como forma de ajudar a preencher esta lacuna geográfica de 278 milhões de anos e revelar como os animais se dispersaram nas regiões do antigo supercontinente, Pangeia.

Os fósseis foram encontrados na região da Bacia do Parnaíba, local já conhecido dos paleontólogos pelos achados históricos de troncos petrificados. Muitos destes troncos afloram dentro da cidade de Teresina, onde há uma verdadeira floresta fóssil às margens do Rio Poti.

Crânio e parte do esqueleto do anfíbio Timonya anneae. Timonya é um anfíbio arcaico que habitou lagos tropicais do Nordeste durante o Período Permiano (aprox. 278 milhões de anos atrás). Este espécime foi encontrado em Timon, MA. Seu nome homenageia o município de Timon. Este crânio pertence a um animal jovem. Foto: Juan Cisneros.

Juan Carlos Cisneros  explica que as primeiras duas espécies encontradas foram de anfíbios carnívoros arcaicos. A primeira delas, Timonya anneae, era um pequeno anfíbio inteiramente aquático com presas e guelras, e um aspecto que lembraria uma mistura entre uma salamandra aquática e uma enguia. Seu nome homenageia o município de Timon, no Maranhão, onde foi descoberta.

A segunda espécie é Procuhy nazariensis, um anfíbio cujo nome na língua timbira - nativa do Maranhão, Piauí e Tocantins - significa "sapo de fogo", faz homenagem ao município de Nazária, no Piauí. Contudo, Procuhy nazariensis não morava no fogo, vivia submerso na água. Seu nome vem da formação geológica Pedra de Fogo na qual foi encontrado (a formação tem esse nome pela presencia de sílex, uma rocha usada para produzir fogo). Embora ambas as espécies fossem parentes distantes dos anfíbios modernos, elas não eram verdadeiras salamandras nem sapos, mas membros de um grupo extinto que era comum no Período Permiano.

Equipe de campo procurando fósseis em Nazária, PI. De esquerda a direita, em sentido horário: Christian Kammerer, Jörg Fröbisch, Juan Cisneros, Martha Richter, Renata Quaresma. Foto: Kenneth Angielczyk.

A terceira espécie é um anfíbio do tamanho de um pequeno jacaré, cujos parentes mais próximos viveram vinte milhões de anos depois no Paraná e na África do Sul, e uma espécie de réptil com aspecto de lagartixa que até agora só tinha sido encontrada na América do Norte.

O Paleontólogo da UFPI, Juan Carlos Cisneros explica, também, sobre a ocorrência de um réptil registrado apenas na América do Norte que foi encontrado durante as escavações realizadas no nordeste brasileiro. "O primeiro réptil encontrado aqui na região dessa idade, é precisamente uma espécie que já era conhecida na América do Norte, precisamente nos estados do Texas e de Oklahoma nos Estados Unidos. Isso significa que a fauna do Piauí tinha uma relação, uma conexão com a fauna daquela região, hoje em dia parece estranho, mas temos que lembrar que naquela época os continentes estavam unidos, formando o que a gente conhecia como a pangeia, então a América do Norte estava coladinha com a América do Sul e realmente não é tão difícil que os animais pudessem habitar uma área compartilhada entre os Estados Unidos e o Brasil, e agora a gente pode comprovar que isso de fato aconteceu. Nós temos uma espécie de réptil em comum entre os Estados Unidos e o Brasil na era paleozoica".

Martha Richter segura uma laje com um crânio parcial de peixe pulmonado que foi descoberto por Christian Kammerer em uma pedreira em Nazária, PI. Foto: Juan Cisneros.

"Os fósseis da era paleozoica eram conhecidos unicamente na América do Norte e na Europa, essa é a primeira fauna desta idade encontrada no hemisfério sul. O fato destas espécies terem sido registradas no Nordeste do Brasil complementa um panorama regional de como era a bacia do Parnaíba naquela época e ajudam os paleontólogos a terem um panorama sobre como estes animais se dispersaram durante o Permiano e como colonizaram novas regiões da Pangeia. A descoberta preenche uma lacuna do conhecimento na paleontologia mundial sobre a era paleozoica", disse Juan Carlos Cisneros.

A pesquisa foi financiada pelos seguintes órgãos: Negaunee Foundation, The Grainger Foundation, The Field Museum, Conselho Nacional para a Ciência e Tecnologia, National Geographic Committee for Research and Exploration, Universidad de Buenos Aires Ciencia y Técnica, Sofja Kovalevskaja Award of the Alexander von Humboldt Foundation, e Natural History Museum of London. A equipe de pesquisa inclui cientistas da Universidade Federal do Piauí, Universidad de Buenos Aires (Argentina), Iziko South African Museum e University of Witwatersrand (África do Sul), Natural History Museum (Reino Unido), Museum für Naturkunde and Humboldt-Universität (Alemanha), e Field Museum e Saint Xavier University (EUA).

Roger Smith (esquerda) e Christian Kammerer (direita) desembalam fósseis no Laboratório de Paleontologia da UFPI em Teresina. Foto: Kenneth Angielczyk.

"A parceria com outras instituições e outros países foi importante, e acho que foi o fator chave para ter bons resultados, porque cada um tem conhecimentos diferente e complementa a equipe de pesquisa, isso também nos permitiu ter acesso a técnicas, a metodologia e a recursos de outras instituições. Nossos fósseis viajaram pelo mundo, alguns deles estiveram nos Estados Unidos, onde passaram por tratamento de conservação e limpeza, outros deles estiveram na Europa, onde foram tomografados. Também, especialistas técnicos da Argentina vieram várias vezes em Teresina, ao laboratório da UFPI para fazer a limpeza dos fósseis, inclusive para realização de mini-cursos. Então essa pesquisa tem sido muito pra nós no sentido de estabelecer firmemente uma nova linha de pesquisa no Piauí e na Universidade Federal do Piauí", comemora Juan Carlos Cisneros.

Sobre Juan Carlos Cisneros

Paleontólogo da área de Vertebrados nas bacias do Paraná e Parnaíba (América do Sul) e Karoo (África). Trabalhou principalmente com anatomia e filogenia de tetrápodes permo-triássicos do Gonduana, especialmente répteis e terápsidos basais. Tem interesse em melhorar as correlações bioestratigráficas entre estas bacias, assim como compreender seus contextos paleobiogeográficos e paleoecológicos. Dedica-se ocasionalmente à ilustração científica e se interessa na divulgação e compreensão pública da ciência.

Sobre o Projeto:

O Projeto: Prospecção paleontológica na Bacia do Parnaíba: Revelando um novo ecossistema permiano nos trópicos do Gonduana visa compreender as formações Pedra de Fogo e Motuca, que são conhecidas pelo seu abundante registro paleobotânico, porém tem recebido pouca atenção por parte dos paleontólogos de vertebrados. Este projeto busca novos fósseis nestas formações, nos estados de Piauí, Maranhão e Tocantins, com o objetivo de caracterizar melhor as comunidades de vertebrados continentais de baixa latitude no final do Paleozoico. Outros objetivos são o estudo do paleoambiente, e melhoria das correlações dos depósitos permianos da Bacia do Parnaíba.

Confira o vídeo: 

 

Confira mais fotos



 

Fim do conteúdo da página