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Quintais agroflorestais apresentam uma grande diversidade de espécies

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Última atualização em Domingo, 24 de Março de 2019, 16h17

Pensar as sociedades humanas integrando plantas, ecossistemas e as relações entre eles de maneira plural, tendo perspectivas antropológicas, medicinais e arquitetônicas entre outras, é o fundamento da Etnobotânica, a ciência que estuda simultaneamente as contribuições da botânica e da etnologia. Essa ciência é capaz de proporcionar explicações sobre a interação de comunidades humanas com o mundo vegetal em suas dimensões antropológica, ecológica e botânica.

Na comunidade Franco, localizada no município de Cocal, Piauí, região do semiárido piauiense, a 268 km da capital Teresina, foi realizado um estudo com enfoque etnobotânico dos quintais agroflorestais, pelo biólogo Jorge Izaquiel Alves de Siqueira, sob orientação do Prof. Dr. Jesus Rodrigues Lemos que desenvolveram essa pesquisa enquanto cursava Ciências Biológicas, no Campus Ministro Reis Velloso (CMRV), em Parnaíba. 

Os quintais agroflorestais promovem a sustentabilidade para milhões de pessoas no mundo, sendo uma área destinada ao plantio de um conjunto de espécies de plantas, como fruteiras, palmeiras, ornamentais, além de cultivos alimentares e criação de animais domésticos. São geralmente localizados em torno da casa, dentro de uma propriedade rural. Além da importância ecológica, os quintais são tidos como sistemas alternativos de complementação da demanda alimentar, satisfazendo inclusive necessidades familiares.

As pesquisas etnobotânicas servem como uma ferramenta de conservação, uso e manejo dos recursos naturais, contribuindo para a recuperação biocultural, resgatando as memórias dos conhecimentos tradicionais e empíricos de comunidades.

Utilizando do método de entrevista, o biólogo, entrevistou uma pessoa de cada residência, com idade superior a 18 anos, sendo responsável por cuidar do quintal, e aplicou a correlação para estimar a riqueza dos quintais utilizando o coeficiente de correlação de Spearman, como preconizado por Sokal & Rolf (1995).

A pesquisa teve duração prevista de 10 meses, porém o projeto se ramificou e o pesquisador desenvolve trabalhos na comunidade até hoje. Um trabalho de retorno está sendo realizado com os jovens e crianças, por meio de jogos lúdicos, folders, palestras, conversas formais e informais. Assim, por meio das pesquisas etnobotânicas, o biólogo buscou compreender a dinâmica sociocultural sobre as práticas da comunidade, visando entender como se dá a transmissão de conhecimentos, onde se originou, e deparou-se com várias situações inusitadas durante sua vivência na comunidade.

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Jorge Siqueira, Apresentação Oral no IX Congresso Colombiano de Botânica, Tunja, Boyacá. Foto: cedida

“As mulheres que estavam no período menstrual, por exemplo, eram proibidas de tocar em plantas medicinais e em canteiros, pois eles acreditam que isso não faria bem para as plantas, ou seja, não seria produtivo, e as plantas medicinais perdiam suas propriedades bioativas”, relembra Siqueira.

Por meio do enfoque etnobotânico, o biólogo identificou nos quintais 139 espécies, distribuídas em 54 famílias botânicas, sendo que três citações de espécies foram identificadas somente a nível de gênero. As famílias com maior representatividade em número de espécies foram Fabaceae (21 spp.) e Euphorbiaceae (7 spp.). Araujo & Lemos (2015), em estudo etnobotânico na comunidade Curral Velho, Luís Correia (Piauí), também verificaram a família Fabaceae como mais indicada entre os moradores.

Estas informações implicam em aspectos como a alta diversidade de plantas que são cultivadas nos quintais, e que apresentam várias finalidades, com: recursos em alimentos, forragem, produção de sombra e/ou combustível, tecnologia, construção, madeireira, entre outros setores.

Jorge Siqueira foi bolsista de Iniciação Científica (ICV) e relata como foi seu contato científico no âmbito acadêmico. “Foi a primeira iniciação cientifica que realizei. Ela me permitiu maior amadurecimento na vida acadêmica, e me direcionou para a linha de pesquisa que sigo, e almejo direcionar para o mestrado e doutorado. Desenvolver essa pesquisa me proporcionou um novo olhar sobre as comunidades, assim como a valorização dos conhecimentos empíricos, pois hoje ainda há uma grande desvalorização desses conhecimentos”, destaca. 

Experiência de Mobilidade Internacional

O pesquisador destaca, também, que a UFPI proporcionou materiais para o desenvolvimento da pesquisa. Além do apoio docente, a Instituição proporcionou parte dos custos da mobilidade internacional onde o pesquisador apresentou cinco trabalhos sobre a iniciação cientifica em outros países.

Ele compartilha os impactos de intercâmbio acadêmico sobre a vida acadêmica e pessoal. O discente cumpriu 6 meses na Instituição Colombiana Universidad del Tolima, desenvolveu atividades relacionadas ao semestre acadêmico (componentes curriculares), realizou um estágio no Herbário TOLI, fez um voluntariado com crianças e adolescente de duas instituições de Ibagué, desenvolvendo inclusive um estudo relacionado à Ecologia Humana na mesma cidade. Além disso, participou de dois Eventos Científicos (Encuentro Nacional de Estudiantes de Biología e IX Congreso Colombiano de Botánica), apresentando 5 trabalhos na modalidade oral e atuando como assistente tradutor em ambos os eventos.

“A experiência de um intercâmbio nos muda por completo, nossa maneira de pensar, de atuar, de ver o mundo, a forma como passamos a nos relacionar com nossos semelhantes. É certo que estudar no exterior é essencial para enriquecer o currículo. No entanto, penso eu que o impacto mais importante é que nos torna mais humanos”, pontua Siqueira.  E completa “as situações que vivemos quando estamos distantes nos possibilita um grande amadurecimento, nossa mente se abre ao mundo, nos torna mais aptos a situações de resiliência”.

O estudante, que já falava espanhol, aperfeiçoou durante sua estadia o idioma. Ao longo do intercâmbio conviveu com várias pessoas de diferentes nacionalidades, incluindo México, Argentina, Chile, Peru, Polônia, Alemanha e Benim. “Fiquei encantado em poder conviver com tantas culturas ao mesmo tempo compartilhar com eles sobre nossa cultura. A dinâmica de estudo na Colômbia é muito incrível, eles são muito ativos em sala de aula, são estimulados a estudar vários idiomas, principalmente inglês e francês, inclusive estudam bastante o português. Tínhamos disciplinas que eram quase totalmente ministradas em inglês, a cada novo idioma, um número incontável de oportunidades se acerca a nós”, destaca.

O pesquisador destaca, ainda, que “a Colômbia é um país lindo, a visão que o mundo tem sobre o país é totalmente errônea, confesso que me apaixonei por tudo, pela cultura, pela amabilidade e educação das pessoas, serei eternamente grato à UFPI pela oportunidade”, finaliza.

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