ENTREVISTA: Luís Carlos Sales, Pró-Reitor de Planejamento

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Última atualização em Sexta, 03 de Setembro de 2021, 16h51

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Luís Carlos Sales, Pró-Reitor de Planejamento da UFPI

‘Nosso trabalho visa garantir a qualidade nas ações da UFPI’


Com o maior corte orçamentário na história da UFPI, o Pró-Reitor de Planejamento, Luís Carlos Sales, enfrentou uma das piores tarefas na Instituição, neste 2021. São 18% a menos de recursos de custeio, obrigando ajustes duros. O caminho adotado foi o do diálogo, para manter o funcionamento do que é essencial, a assistência estudantil e a qualidade nos serviços oferecidos pela UFPI, em especial o ensino. “Nosso trabalho visa assegurar a qualidade”, afirma Luís Carlos. Nesse cenário em que a pandemia lança tons mais graves, ele se debruça sobre o futuro da UFPI, ainda mais tendo em conta os grandes projetos de transformação abraçados pelo reitor Gildásio Guedes.

Confira a entrevista do Pró-Reitor de Planejamento.

Em meio à escassez de recursos, qual o grande desafio da UFPI, hoje?

Nosso maior desafio é manter a Universidade funcionando, pagar as contas de energia e demais serviços essenciais e, sobretudo, manter a assistência estudantil. E, claro, trabalhamos para manter a qualidade do ensino de graduação e da pós-graduação. Outra grande preocupação é com a regularização do calendário acadêmico, para que os estudantes, a razão de ser de qualquer instituição de ensino, não sejam prejudicados.  

O que tem sido mais afetado?

Assumimos a Pró-Reitoria de Planejamento em dezembro de 2020 e iniciamos o ano de 2021 para administrar um orçamento que sofreu o seu maior corte em toda a série histórica, que se tem registro. Foi um corte da ordem de 18%, superando aos de 2017 e 2019, até então, os mais expressivos. Apesar deste cenário adverso, com muito esforço e critério, estamos trabalhando para garantir que as atividades essenciais da UFPI não sejam afetadas ou paralisadas. Neste sentido, tivemos que proceder um forte ajuste nas nossas despesas, para garantir o funcionamento das atividades fim da universidade.

O que mais gera cuidado nesses ajustes que a UFPI é obrigada a fazer?

O nosso maior cuidado é o de manter as atividades finalísticas da Universidade em funcionamento. Para tanto, já em janeiro deste ano começamos a conversar e negociar com os representantes das empresas que prestam serviços à UFPI e colocamos a situação do nosso orçamento. Muitos foram sensíveis e aceitaram a suspensão parcial dos contratos, pois a maioria preferia suspendê-los do que trabalhar e prestar um serviço e não ter a garantia que receberia seus recursos, o que poderia levar à falência da empresa, ou, de outro lado, a situação de inadimplência da UFPI. Dentre os contratos negociados, tivemos a locação de ônibus para o transporte de alunos. Entendemos que manter o pagamento desse tipo de contrato, dentre outros, quando a atividade não está sendo executada, é uma decisão que pode vir a ser caracterizada como prevaricação. 

Nesse cenário, como pensar o futuro da UFPI? Qual futuro está sendo desenhado?

Em relação às questões orçamentárias, duas ações se destacam. Uma, a redução de despesas, por meio da ampliação de usinas fotovoltaicas, e combater o desperdício. Fundamental para o nosso futuro, devemos aumentar nossas receitas próprias, por meio da prestação de serviços especializados, garantindo também o direito universal de ofertar educação pública de qualidade. Tudo isso sem descuidar da atividade fim da Universidade: almejamos ser uma instituição pública de excelência no ensino básico, técnico e tecnológico; educação superior e pós-graduação, qualificando pessoas para o mundo do trabalho e para o exercício da cidadania, por meio da inovação no ensino, na pesquisa e na extensão.

Nessa realidade, como fica a interação com os diversos setores da comunidade acadêmica?

Nessa realidade orçamentária de 2021, temos procurado estabelecer diálogo constante com os diversos setores da administração da UFPI, com vistas a implementar os ajustes necessários. A grande preocupação é não comprometer a oferta dos serviços realizados por cada setor, especialmente aqueles relacionados às atividades finalísticas da Universidade: ensino, pesquisa e extensão. Claro, a pandemia e as incertezas quanto ao surgimento de novas ondas, tornam a atividade de planejar algo muito mais difícil. Lembro que no início deste ano imaginávamos que as atividades presenciais seriam retomadas no segundo semestre. Veio a segunda onda da pandemia e o nosso planejamento teve que ser refeito. Apesar da redução dos casos de Covid-19, a incerteza continua. Para atenuar os riscos do ato de planejar, o diálogo com a comunidade acadêmica e a escuta sensível às demandas dos diversos setores, especialmente dos estudantes, fazem-se necessárias. 

O reitor tem criado projetos importantes, que exigem recursos. Como viabilizá-los?

O reitor Gildásio Guedes abraçou projetos ousados. Alguns não necessitam de muitos recursos, como a criação do Curso de Bacharelado em Psicologia, que ganha força pelo fato da UFPI ter conseguido códigos de vagas para 2022, e de termos disponibilizados ao MEC 50 pontos do seu banco de professor equivalente, convertidos em códigos de vagas. Mas há outros projetos muito importantes que cobram grande aporte de recursos e que só se viabilizam com recursos que estejam fora da matriz orçamentária da UFPI. É o caso do Parque Ambiental, do Parque Tecnológico e do Curso de Medicina para a cidade de Floriano. Nesse caso, é fundamental uma articulação política, sobretudo junto à bancada federal. Esse é o caminho.

Tudo isso exige um importante esforço de relação institucional...

Claro. A Universidade Federal do Piauí deve ser formuladora de projetos voltados para o desenvolvimento do estado, projetos que são de todos. Por exemplo: o Parque Tecnológico, apresentado recentemente, deverá envolver a participação do Governo do estado do Piauí, da Prefeitura Municipal de Teresina, das Universidades, da iniciativa privada, do terceiro setor... Com o projeto do Parque Tecnológico na mão, o reitor está apresentando aos potenciais parceiros. Ele compreende que o projeto não é da UFPI, mas de toda a sociedade piauiense. Esse é uma grande iniciativa que não deve ter cor partidária.

Planejamento é desenhar os próximos passos. O que esperar da UFPI em dez ou 15 anos?

Para responder essa pergunta, gostaria de situar inicialmente a UFPI dentro de uma análise feita pelo economista Felipe Mendes. Para ele, dois fatores importantes se destacam no Piauí: a construção da Barragem de Boa Esperança e a criação da Universidade Federal do Piauí. A energia elétrica produzida pela Barragem de Boa Esperança deu um grande impulso à infraestrutura física do Estado, já a UFPI destacou-se pela sua contribuição aos aspectos imateriais do desenvolvimento, ao pavimentar a infraestrutura intelectual, cultural e artística do estado do Piauí, por meio da formação profissional e humana realizada por seus professores. Objetivamente, estamos pensando uma UFPI que vai sair da crise orçamentária que atravessa no presente. Da mesma forma, grande parte de nossas ações estão voltadas para incidir qualitativamente em projetos cujos resultados serão sentidos no futuro, em uma década.  Esperamos que a UFPI possa continuar sendo referência nos campos intelectuais, culturais e artísticos do estado do Piauí, mas sobretudo que seja protagonista nos grandes projetos voltados para a transformação do estado do Piauí.