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Pesquisa de docente da UFPI em parceria com a Universidade de Évora (Portugal) desvenda a história por trás das múmias da Capela dos Ossos

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Última atualização em Terça, 17 de Dezembro de 2019, 11h39

Reza a lenda mais conhecida em Évora (Portugal) que um menino maltratava a mãe e que um esposo/pai omisso a tudo, assistia sem nada fazer para defendê-la. Após muito sofrimento e no leito de morte, a mãe roga uma praga aos dois: “Haveis de morrer e nem o Céu, nem a terra há de vos querer”. Assim a comunidade da Évora Medieval justificava o fato de, entre os materiais exumados dos cemitérios locais para a construção da Capela dos Ossos do Convento de S. Francisco, terem achado dois corpos naturalmente mumificados de um adulto e uma criança.

Por conta desta lenda, essas duas pessoas passaram mais de 400 anos dependurados em uma das paredes da capela em uma situação que contraria a tradição portuguesa de respeito aos “Santos Incorruptos”, corpos naturalmente mumificados, geralmente preservados em condições respeitosas em igrejas em Portugal e outros países da Europa. 

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Detalhe de uma das paredes da Capela dos Ossos

Em 2014, durante os trabalhos de conservação e restauro dos materiais biológicos humanos da Capela dos Ossos, coordenado pelo Prof. Dr. Tiago Tomé (docente colaborador do Programa de Pós-graduação em Arqueologia da UFPI), a Prof. Dra. Claudia Cunha (docente efetiva da Graduação em Arqueologia e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Arqueologia da UFPI) foi a pesquisadora responsável pela conservação e restauro e também do primeiro estudo paleobiológico dessas múmias. 

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Entrada da Capela dos Ossos do Convento de S. Francisco de Évora sobre a qual se lê a
frase famosa “Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos”.

“No primeiro dia de trabalho, ao olhar para as múmias pela primeira vez, notei que havia algo de muito errado com a lenda. Os corpos que estavam à minha frente eram de uma criança muito jovem do sexo feminino e de uma mulher”. A pesquisadora observou então que era visível o sexo da criança por conta da mumificação natural da região pélvica, e que características igualmente diferenciadoras eram observáveis no corpo da adulta. 

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Múmia adulta durante a fase do restauro

Começava então um trabalho de pesquisa ao qual se somaram instituições de renome em Portugal como o Laboratório de Antropologia Biológica e o Laboratório Hércules, ambos da Universidade de Évora.

“Graças ao apoio da Paróquia da Igreja de S. Francisco e às instituições envolvidas, fomos capazes de fazer uma série de análises ainda em 2014-2015, entre eles radiografias e tomografias computadorizadas dos indivíduos”, diz a Profª Claudia Cunha. “Hoje sabemos que na realidade se trata de uma criança do sexo feminino que morreu por volta dos 2 anos e meio e de uma mulher adulta madura”. Caía por terra a lenda que causou sérios danos a este material ao longo dos séculos de exposição inapropriada. Talvez em parte devido à lenda, essas múmias foram ao longo dos séculos e de forma anônima vandalizadas: queimadas em certas áreas, tiveram pedaços arrancados e cortados, bem como sofreram com inscrições e outras agressões. “Esta agressividade contra os materiais causou danos para além do acúmulo de pó, infestações de insetos e outros danos que foram abordados durante o trabalho de conservação e restauro”, segundo a professora. 

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Entrada da Capela dos Ossos do Convento de S. Francisco de Évora sobre a qual se lê a
frase famosa “Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos”

Hoje sabe-se também que a mulher mumificada sofria de sérios problemas de saúde oral com perda de vários dentes ante mortem, e doenças degenerativas próprias de uma pessoa de meia idade e provavelmente de uma classe sócio econômica menos favorecida. “A tomografia também mostrou anomalias nas imagens dos rins da criança que estamos investigando”, diz a professora. 

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visão do esqueleto da múmia adulta em exame de tomografia computadorizada 

Após o restauro, esses materiais ganharam local de acondicionamento apropriado e encontram-se em exposição de forma adequada na capela, um dos locais mais visitados por turistas da capital alentejana, juntamente com o resto do acervo tanatológico do local que faz parte do Centro Histórico de Évora, Patrimônio da Humanidade. Um outro efeito do trabalho é que pelo menos parte da história dessas pessoas é agora conhecida e as pessoas podem ter outra visão desses indivíduos que não a de pecadores cruéis. 

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 Processo de limpeza das múmias 

O trabalho de pesquisa, que entra agora em uma nova fase, em que serão feitas análises mais sofisticadas como datação pro carbono 14 e análises de isótopos, tem chamado a atenção da imprensa portuguesa e promete desvendar mais segredos dessas que são atualmente as múmias naturais melhor conhecidas de Portugal.

Confira a repercussão da pesquisa nos links a seguir:

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