Curso de Enfermagem da UFPI é exemplo no acompanhamento da saúde mental de alunos e egressos

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Última atualização em Quinta, 10 de Outubro de 2019, 12h01

A enfermagem é considerada como a ciência do cuidar. Deste modo, a empatia habilidade essencial do cuidar, torna-se um sentimento importante do tratamento concedido ao paciente. O conhecimento científico e a habilidade técnica do profissional enfermeiro são importantes, mas diversos problemas podem surgir se este mesmo profissional não apresentar um bom relacionamento intrapessoal, ou seja, é fundamental que o enfermeiro encontre uma estabilidade emocional entre o conhecimento técnico e a prática nos ambientes hospitalares.

É notório que os enfermeiros estão entre os profissionais mais sujeitos aos problemas da saúde mental, uma vez que relacionam, na maior parte do tempo, com diversos casos de pacientes que necessitam constantemente de ajuda, especialmente, quando se trata da finitude.

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Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Saúde Mental e Trabalho realizado no prédio do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (CCS).

Com o propósito de ofertar diversos profissionais capacitados para o mercado de trabalho e, sobretudo, capazes de acondicionar uma saúde mental saudável, a Universidade Federal do Piauí (UFPI), por meio do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Saúde Mental e Trabalho vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, realizou na última sexta-feira, 04, mais uma experiência com alunos e egressos do curso.

Na sala de aula que mais assemelha-se a uma roda de conversas e testemunhos emocionantes, os alunos narram suas experiências e estabelecem por meio do companheirismo entre docente e discente o entendimento dos dilemas evidenciados na profissão. A estudante do curso de Enfermagem, Bruna Victória da Silva Passos, relata seu testemunho vivenciado ainda no estágio extracurricular.

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A estudante do curso de Enfermagem, Bruna Victória da Silva Passos ouve com atenção os testemunhos.

“Acompanhava uma paciente desde os primeiros dias de estágio, foi muito difícil na minha vida. Quando chegava na UTI, ela batia na cama para mim a abraçar... Sentia que ela estava indo embora. Quando o médico da UTI falou para a família que iria começar os cuidados paliativos, saí imediatamente. Não costumo me comover na frente dos pacientes, pois tenho que passar força. Sempre quando a família vinha conversar comigo, eu não conseguia e acabava saindo. No dia da sua morte, ela teve diversas paradas cardíacas, parava e voltava. Quando cheguei na UTI, ela deu a última parada e morreu. Parecia que estava me esperando para se despedir”, conta emocionada.

Para a Profa. Janaina Maria dos Santos Francisco de Paulo, doutoranda e ministrante do Grupo de Estudos, o profissional de Enfermagem precisa ser empático, mas é imprescindível saber quais são os limites dentro da relação entre enfermeiro e paciente. “Estamos trabalhando nesta aula a empatia como um elemento integral do cuidado ao paciente. Quais sentimentos isso provoca em mim enquanto estudante? E quando esses sentimentos são negativos, a gente precisa encontrar estratégias de tirá-los e transformá-los em positividade, em resiliência. Essa resiliência é algo que precisa ser compartilhada, porque a graduação em si não fornece a caixinha pronta, com ferramentas adequadas para você encaixar dentro da sua situação”, explica.

As aulas são diversificadas e dinâmicas; nelas são vivenciadas atividades práticas que envolvem sentimentos de toque, visão, audição e olfato dos quais estão completamente integrados aos cuidados dos seres humanos, dos animais, e, principalmente, ao amor tão falado na profissão de enfermagem.

“Um perfume que lembra um paciente, um toque, abraço ou um sorriso. Para ser empático, eu preciso me conhecer. Além do conhecer, eu preciso saber quais são os meus limites dentro desta relação. Vou precisar fazer o que posso para poder continuar”, exemplifica a professora.

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A enfermeira Caliane da Conceição conta sua experiência. 

A egressa do Curso de Enfermagem, Carliane da Conceição Machado Sousa, viveu algo semelhante na sua experiencia profissional. Muito emocionada, em poucas palavras, a enfermeira graduada relata o caso do seu Joaquim. “Acompanhei ele no posto três, quatro e na UTI. Fico triste por ele não ter conseguido sair, ter mudado a vida dele. Espero que ele esteja ao lado do Senhor. Eu acredito”, exprime.

Na perspectiva da Profa. Dra. Márcia Astrês Fernandes, Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Saúde Mental em Enfermagem, as aulas podem contribuir para o fortalecimento emocional desse profissional de saúde com resultados positivos tanto para ele quanto para os pacientes. “Esse momento de discursão sobre a empatia, é extremamente importante para a formação, tanto para os alunos, aos profissionais enfermeiros, quanto aos pacientes. Porque existe uma lacuna no decorrer da formação nesse lado mais humanitário da profissão”, diz.

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Profa. Dra. Márcia Astrês Fernandes, Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Saúde Mental em Enfermagem.

Ainda de acordo com a Profa. Dra. Márcia Astrês, é essencial que o profissional faça uso da empatia como um instrumento de cuidar do paciente, mas é necessário estabelecer limites a fim de evitar sobrecarga emocional. “Esses momentos de discussão são extremamente proveitosos, porque a gente leva o aluno/profissional a refletir sobre a realidade, pois no dia a dia eles estão se deparando com situações que não conseguem firmar limites e vêm a questão do adoecimento”, finaliza.

Se você chegou até aqui e se identificou com algum dos exemplos narrados acima é muito importante procurar ajuda. Os especialistas orientam que é sempre fundamental um momento de descanso, procurar formas de lazer com a família, amigos e nunca sobrecarregar a rotina diária com preocupações de trabalho. É preciso valorizar sua saúde mental, física e emocional.

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