Pesquisadora da UFPI explica origem dos abalos sísmicos em Teresina

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Última atualização em Domingo, 24 de Março de 2019, 16h17

O teresinense sentiu bem de perto um fenômeno raro na região nordeste do Brasil, a terra tremer. As ocorrências, segundo populares, foram registradas em prédios em várias áreas da cidade e em diferentes bairros da capital piauiense na manhã desta terça-feira, (03).

A maioria dos relatos registrados em redes sociais foi de tremores no centro da cidade. Houve também relatos de tremores no Piauí, no município de União, José de Freitas, Pedro II e em algumas cidades do Maranhão, como em Belágua, onde segundo especialistas, o tremor atingiu 4,7 graus na escala Richter, sendo o epicentro do abalo.

Segundo a pesquisadora, Professora da Universidade Federal do Piauí, Iracilde Maria de Moura Fé Lima, doutora em Geografia; a raridade do fenômeno no Piauí se dá, pelo Brasil estar situado no centro de uma placa tectônica, e os tremores, ocasionados pelo choque entre uma placa e outra, serem mais frequentes e com maior intensidade nas bordas das placas.

 

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Prof. Dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima

“É raro, mas aqui também podem ocorrer terremotos, principalmente em áreas de falhamentos, como é o caso de Teresina, que fica na faixa dos lineamentos Transbrasiliano e Picos-Santa Inês (que apresentam direções Nordeste-Sudeste e Noroeste-Sudeste, respectivamente). Esses sistemas cortam transversalmente desde o Ceará, Piauí, Maranhão até Tocantins, correspondendo a uma das áreas mais suscetíveis à geração de sismos pela  acomodação de camadas de rochas, bem como à propagação das ondas sísmicas que se dissipam em superfície”, explica a pesquisadora.

A professora Iracilde lembra que não foi a primeira vez que a terra tremeu em Teresina. Segundo ela, há cerca de trinta anos ocorreram tremores semelhantes aos registros de agora no centro da cidade, sentidos especialmente em um prédio da praça João Luís Ferreira, onde funcionava na época o INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social).

“Na época as pessoas também ficaram assustadas, como hoje, ao ver tremerem gavetas, ao sentirem a inquietação provocada pelo abalo. No entanto não há motivo para pânico, pois apesar do Piauí estar em uma área de sistemas de falhamentos como falamos anteriormente, os abalos que ocorreram e que ainda possam ocorrer aqui, não devem atingir grande intensidade”, afirma ela.

Ainda segundo a pesquisadora, os abalos sísmicos resultam da acumulação interna de energia decorrente de calor e pressão gerados pela dinâmica do próprio interior da Terra.  “Esses abalos sísmicos podem ser registrados, mas não se prever quando um abalo sísmico vai ocorrer, a não ser a poucas horas da ocorrência, por isso não dá pra afirmar quando vai ocorrer outro abalo. Logo após um tremor é possível que ocorram outros, mas ainda de menor intensidade, as vezes imperceptíveis, em virtude das ondas sísmicas não serem totalmente dissipadas em um só movimento”, afirma.

Estudos revelam que a partir da década de 1980 os geólogos passaram a dar maior atenção  à existência de movimentação tectônica na região Nordeste do Brasil, além das ocorrências nas regiões Sul e Sudeste. A profa. Iracilde aponta que antes se considerava que a Terra estava num período de estabilidade das placas tectônicas, pois o último período de Terremotos mais intensos em toda a América do Sul ocorreu no final do Cretáceo, culminando com a abertura do oceano Atlântico Sul. Mas agora está provado que esses abalos não cessaram completamente”, esclarece a pesquisadora, pois estudos mais recentes têm sido desenvolvidos e, principalmente nas faixas litorâneas do Nordeste brasileiro, inclusive no delta do rio Parnaíba, estão sendo identificados falhamentos e fraturas, que são vestígios da atuação de movimentos tectônicos, embora ocorram de forma mais atenuada, como resultado da continuidade da migração natural das placas Sul-Americana e Africana.

Assim, como outros geólogos que deram depoimentos sobre esse fenômeno natural, entende a professora que, embora a população tenha ficado assustada, não há motivo para maiores preocupações, uma vez que o esperado é que os abalos sísmicos que ainda possam ocorrer no nordeste brasileiro, e especificamente no Piauí, não atinjam grande intensidade e proporções. Porém, ela orienta que essas ocorrências demonstram a necessidade dos cuidados especiais que se deve ter com as construções. “Devemos atentar para a construção de prédios seguros bem como evitar construções em áreas de encostas íngremes, onde podem ser desencadeados desabamentos por movimentos de massa”, reforça.